Quando eu coloco os pés dentro da garagem sou invadido por uma nova onda de choque. Tudo estava do jeito que era antes. Antes de Julie. O piano de cauda sumiu, os instrumentos não estão aqui porque estão no Orpheum, mas dá pra ver a marca de onde tiramos eles recentemente. Nem as cadeiras estão no teto. Se não fosse o Alex e o Reggie que tivessem comigo e me confirmado que nós morremos, acordamos em 2020 como fantasmas numa garagem e montamos uma banda com uma garota viva, eu provavelmente assumiria que isso é um sonho e iria escrever uma música sobre isso.
Penso em pegar meu caderno e escrever alguma coisa, mas minha cabeça fica martelando sobre Julie e a impossibilidade de escrever sem ela. E sinceramente acredito nisso. Não consigo mais escrever sem Julie. Ela me completava, nossas músicas ficam perfeitas juntos. Como uma perfeita harmonia.
─ Pensando na Emily ou na Julie? - ouço do Alex
─ Emily - minto, por algum motivo a ideia de falar da Julie desse jeito me deixa nervoso - e você, pensando no Willie ou nos dançarinos do Caleb? - o Alex fica tão vermelho quanto se é possível alguém ficar vermelho
─ Eu estava pensando no Ray - o Reggie diz e começo a gargalhar tanto que quase perco o ar. É bom estar com meus meninos.
─ Ei. O que vocês acham de deixarmos os assuntos sérios pra amanhã? Eu não sei se consigo assimilar tudo agora. Eu quero pensar, mas não consigo. Minha mente está cansada de um jeito que não ficava quando a gente era fantasma
─ Vai ver é porque quando a gente tava morto nossos corpos não precisavam gastar energia fazendo sinapses e agora a gente precisa de novo. E eu não sei vocês, mas pra mim a noite foi muito longa. - eu e Alex não conseguimos fazer nada a não ser olhar incrédulos para o Reggie - que foi? Eu gostava de biologia e a professora era linda.
─ Você fica tentando entender o Reggie, eu vou dormir - depois de dizer isso o Alex sai e busca um colchão que ele trouxe pra cá depois das constantes críticas de seus pais.
─ Eu vou pro chuveiro. Eu estou com muita saudade de sentir a água de um chuveiro - Reggie diz indo em direção ao chuveiro da garagem. Acho que a Julie estava certa quando dizia que o Reggie era meio esquisito
Depois que meu amigo entra no banheiro, percebo que o Alex estava certo quanto ao cansaço. Mas meus pensamentos voam para a minha mãe. Ela está em casa nesse momento. Não recebeu a notícia que eu morri. Não está sofrendo a morte de seu único filho. Está me esperando voltar para casa.
Parece que consigo ver a cena da minha mãe na porta com uma xícara de café olhando apreensiva para a porta e meu pai ao seu lado tentando não parecer tão preocupado para não deixar uma Emily ainda mais preocupada. Eu os amo tanto que nem sei dizer. Meu primeiro instinto é voltar para casa, dizer a minha mãe o quanto a amo e o quanto a quero voltar. Dizer ao meu pai que eu me orgulho dele. Mas como deixar eles depois disso? Eu quero voltar para Julie mais que tudo. Mas eu também quero a minha mãe.
Sem arrependimentos. Foi uma das últimas frases que eu disse a Julie. Está decidido. Eu vou voltar para a casa de meus pais para uma despedida. Forço meu corpo para cima e ele não obedece. O cansaço realmente me consumiu. Fechar os olhos é tudo o que tenho a fazer. Quando eu acordar, se eu não sumir novamente, direi aos meus pais tudo o que quero dizer. E pensarei em algo pra dizer a mãe da Julie.
⋅⋅⋅
Acordo com uma entranha e familiar sensação de cócegas no meu rosto. Abro os olhos e vejo uma das coisas mais lindas que eu já vi na minha vida.
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Back to the Future • au Juke
FanfictionBack to the future • au Juke Um dia depois de poder tocar Julie, a realidade de Luke (des)muda completamente ao descobrir que ele está mais uma vez a duas horas de tocar no Orpheum com a Sunset Curve OU Onde Julie Molina questiona sua sanidade depoi...