Depois que o Bobby sai, lembro dos contratos. É uma boa distração da carta enquanto os meninos não chegam. Procuro na minha bolsa todos os contratos e os espalho no chão em volta de mim. Nesse momento, um contrato definitivamente não era o que eu queria pra mim, mas será que existe alguma forma da Sunset Curve não ser perdida e minhas músicas não acabarem somente com o Bobby? Será que os contratos podem ajudar com algo do tipo? Será que a gente pode lançar uma boa contra proposta? Pego o primeiro contrato e começo a ler. Gravadora Insólitos. Brasileira. Interessante, a gente poderia começar por outro lugar.
Três contratos depois, ouço a porta da garagem abrir e não me contenho a olhar, mesmo analisando contratos, minha mente ainda estava na carta, e como só posso ler com o Reggie e o Alex. Quando vejo que foi o Alex que entrou na garagem e vejo a expressão em seu rosto, nem os contratos nem a carta tem mais tanta importância. Seus olhos estavam vermelhos e seu rosto inchado de tanto chorar.
— Hey, o que foi? Seus pais disseram algo?
— Sempre dizem, mas dessa vez não foi isso
— Quer conversar? - o Alex passa alguns segundos olhando meus olhos e tento mandar a ele o olhar mais reconfortante que consigo
— Quero, Luke. Acho que vai ser difícil encontrar outra pessoa com quem eu possa falar isso mesmo
— Sente-se aqui e fale comigo. Ah, cuidado com os papeis - o Alex olha para o chão e fez uma cara confusa
— O que é isso?
— São os contratos
— Achei que a gente ia analisar junto
— A gente ia, só que foi a forma que eu achei de me distrair de outra coisa que a gente precisa fazer junto - o rosto do loiro assume um semblante preocupado
— O que?
— Uma coisa da Julie. Mas antes, você. O que você gostaria de falar?
— Ah. Essa nova mudança. Você sabe que eu odeio mudança. A gente tava com a Julie, aparecendo pra todo mundo quando a gente tocava e eu tava ok com isso, até mesmo com os choques do Calleb. Só que aí bum. A Julie pode nos tocar, depois bum. Os carimbos somes e então bum. A gente volta pra 1995. - o Alex parece realmente nervoso quanto a isso, sua voz ia cada vez mais rápido e seus gestos de mão estavam muito exagerados - Não me leve a mal achando que não quero voltar para 2020, eu quero, mas tocar no Orpheum com a Sunset Curve foi incrível e isso também foi uma mudança.
— Alex, respira
— E teve os meus pais. Eu fui em casa hoje, escrevi uma carta pra eles - então hoje é o dia das cartas, ein? - e a gente fucou escutando Queen. Claro que não juntos, eu no quarto e eles na sala, mas quando eu saí, eles estavam dançando e eu quis preservar isso também, sabe, só que bum. Eu também tô vendo isso como uma mudança. Só que eu saí de casa e não vou mais voltar lá. Outra mudança. Eu não aguento, é muita coisa mudando e eu não sei lidar com nada.
Depois de todo esse discurso, o Alex puxa o ar para respirar, espero ele se acalmar alguns segundos e o puxo para um abraço
— É, você é mesmo o mais sentimental de nós três - soltamos do abraço e vimos o Reggie
— Há quanto tempo você está aí? - Alex diz franzindo a testa
— Há tempo o suficiente pra ouvir todas essas mudanças. Cara, minha cabeça ficou zonza - ouvimos isso e damos um sorriso, o Reggie tem esse dom de fazer isso com a gente
— Ah, cala a boca, Reggie
— Só se vocês me abraçarem também - o Alex é o primeiro a se render ao abraço, mas eu não demoro pra fazer isso também. É bom saber que ainda tenho eles como casa
— Alex, você ainda quer falar alguma coisa? - digo no abraço
— Não, já desabafei, estou melhor
— Ótimo, porque agora tem outro assunto que eu quero falar - digo me soltando do abraço e pegando a carta no bolso do meu casado para mostrar aos garotos
— O que é isso? - eles dizem juntos
— Leiam.
— É a letra da Julie? - o Alex é o primeiro a notar
— Então a Julie tá aqui? - lembro da noite anterior onde a garota estava comigo deitada no sofá onde estamos agora
— Não agora - os dois olham pra mim - vamo focar na carta? Eu estava querendo ver só quando vocês todos estivessem aqui
— Por isso você foi pros contratos?
— Exatamente
— Quais contratos? - ah, o Reggie é tão lentinho as vezes
— Da Sunset Curve - o Alex e eu dizemos juntos
— Ah... Verdade
— Enfim, vamos abrir logo a carta? - meu peito está explodindo de tanta emoção por aquela carta
O Alex abre a carta porque eu estou tremendo e o Rggie com certeza rasgaria o que tem dentro e eu não quero que isso aconteça. Lemos a carta com calma, cada parágrafo me enchia de uma eletricidade que eu nunca tinha sentido antes, até as partes escritas pelo Willie e pela Carrie. Isso me surpreendeu. Eu termino a carta com lágrimas que eu nem tinha percebido que estavam lá. Olho pros meninos e eles também estão chorando.
— Então, a gente tem que responder isso - digo tentando não deixar minha voz falhar para as lágrimas
— Claro que sim
— A gente pode deixar pra amanhã? É que meu dia foi um pouco cansativo e eu queria descansar um pouco - Reggie fala antes de um bocejo
— Ah, claro. Você quer que a gente te acompanhe até em casa? - o Alex fala antes de mim
— Não precisa. Os meus pais vão se separar e me pediram para dormi fora alguns dias, pra eu não pegar todo o estresse de mudança e papelada
— Eu sinto muito, Reggie - digo sinceramente
— Não, isso é algo bom. Eu quero dizer, eles não eram mais felizes juntos e nem eu estava feliz com isso. Eu só não quero que eles se afastem de mim - ele dá um sorriso que desfaz toda tensão que tinha se criado
— Então, Luke. Eu e o Reggie estamos aqui, você quer companhia pra casa?
— Não. Eu tô aqui também, meus pais vão tentar um outro filho
— Isso é um final feliz pra todo mundo? - considerando o final imaginado do Alex. Fica no ar, mas ninguém diz
— Sim, isso é um final feliz pra todo mundo - o Alex diz sorrindo, mas sabemos que não é. Esse não é o final. É apenas uma vírgula. E vamos de metáforas novamente (obrigada clubes do livro)
Juntamos os papéis, tomamos banho (separadamente, por favor. Com meus nervos assim não sei o que faria com o Reggie ou o Alex no chuveiro) arrumamos nossa cama e deitamos novamente. Não sei se vou ver Julie novamente essa noite, mas espero pelo menos sonhar com ela.
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Back to the Future • au Juke
FanfictionBack to the future • au Juke Um dia depois de poder tocar Julie, a realidade de Luke (des)muda completamente ao descobrir que ele está mais uma vez a duas horas de tocar no Orpheum com a Sunset Curve OU Onde Julie Molina questiona sua sanidade depoi...