- Ora, ora quem está aqui! Se não é o meu adorado sobrinho. - disse Kuleba.
- Eu só quero ter certeza do que o senhor falou, enquanto estive por detrás da porta. - disse o Príncipe Lunda.
- Exato, tu sabes que não se deve ouvir os adultos por detrás da porta filho, mas devo dizer que sim é verdade, as normas ancestrais dizem que tu não podes liderar o nosso povo. Normas são normas e as devemos respeitar, se tiveres dúvidas é só questionares a corte. - disse Kuleba ao sobrinho.
- Mas o tio sabe que o Imperador deixou a responsabilidade a corte para que eu fosse empossado e a corte em nada se pronunciou quanto a isso na altura, eu vou honrar o Imperador e seguir com a ordem de tomar o trono e liderar o povo, eu fui instruído durante lohas, os deuses sabem disso. - disse Lunda.
- Lunda meu sobrinho não tem haver com o querer do Imperador, mas sim com as normas ancestrais que perduram por lohas, nós não estamos acima das normas, as normas estão acima de nós. - disse Kuleba.
- Eu presumo que não tenhamos muito para ser discutido, as normas ancestrais por si só falam e cabe a nós respeitar cada detalhe descrito. O trono precisa de um Imperador, o Império não pode ficar parado e a responsabilidade da corte é agilizar o quanto antes. - disse novamente Kuleba.
Os membros da corte na verdade sabiam que não haviam saídas imediatas, pois Kuleba tinha todas as cartas em mãos e colocar as normas apartadas da razão de existência e cumprimento era contra a visão dos ancestrais e dos deuses creditados em todo Império. O povo Lunda sabia que a corte tinha o melhor para ser seguido e se a verdade lhes faltasse eles ficariam em discussão com a corte pelas lohas de crédito seguindo às normas. Portanto a corte em meio à pressão de Kuleba fez com que o representante máximo Unyamki Soliako decidisse que tivessem uma discussão com todos os membros no dia seguinte, porque não era o momento exato de discussão, pois era um momento muito delicado e o corpo do Imperador não tinha mais de um dia de sepultamento.
A corte sabia que a volta de Kuleba não traria bons ventos ao Império, mas a decisão do Imperador na altura não sofreu tamanha contestação por parte da corte, porque era mais uma vez o Imperador ao seu bom tom a descrever o seu lado afável, o que nem sempre era racional o ter.
Grandes líderes daquele tempo tinham consigo o hábito de se manter fechados com o seu povo e o Imperador Sonhi acreditava que essa postura se remetia ao afastamento daquilo que ele chamava de ajuntamento da fogueira, onde todos são todos e ninguém deve se sentir isolado se existir sempre um espaço entre os amontoados.
Sem dúvidas o poder é ainda para os homens uma equação a ser investida e discutida ao longo das lohas, quanto mais pensamos saber sobre ele, escapa-nos entre os dedos e quando pensamos ter noção sobre quem lideramos parece que falhamos com a vontade de uns, querendo salvaguardar a vontade de outros e quem sempre sai a perder são os de menos posse, aqueles que têm como responsabilidade servir e machucar as mãos quando nem sempre comem o mesmo que o seu líder.
O povo não pode ser culpado de todo, na verdade os reinos e Impérios fazem parte da iniciação da visão civilizacional de grupos organizados, onde um homem sensato aconselhado por um deus lhe é colocado o poder de puder iniciar um conjunto imensurável de vontades, num único espaço habitável e seguro.
Lunda não conseguia perceber o porquê do tio querer tirar proveito da morte do imperador, na verdade ele começou a perceber aquela que era a ambição que o Imperador muito falava e que precisava ser combatida com um caráter de compromisso com a justiça e o amor aos outros Tchokwes. Então, o Príncipe Lunda lembrou-se de um dos conselhos do Imperador Sonhi aquando miúdo quando o tinha colocado ao colo e o perguntou dizendo:
- Consegues ver todos os troncos que as árvores deixaram cair ao chão?
- Sim Pai. - respondeu Lunda aquando miúdo.
- Vai buscar o mais forte que achares e trá-lo até mim. - disse o Imperador Sonhi.
Lá foi o pequeno Príncipe Lunda e procurou o tronco que aparentava ser mais forte entre os galhos, em seguida deu ao Imperador e ele o disse:
- Agora parte, tenta partir com toda a força que conseguires.
- Não consigo partir, não consigo porque sou kanuke "(tradução livre: pequeno)". - disse Lunda ao imperador.
Então sorriu o Imperador recebeu o tronco e o partiu ao meio e o disse:
- Sim és kanuke e um dia serás Imperador desse lindo lugar.
- Vai buscar todos os troncos fortes iguais a este que mo trouxestes.
Para o pequeno Príncipe Lunda parecia uma brincadeira muito divertida, então foi ele a correr e escolheu os troncos mais fortes caídos das árvores.
Assim que ele terminou de os apanhar, levou até as mãos do Imperador.
- Mâmuh! És forte. - disse o Imperador ao filho, pois ele vinha na sua direção com muitos troncos.
- Aqui tens pai. - disse Lunda.
O Imperador Sonhi recebeu todos os troncos e tentou partir todos eles em conjunto e não consegui, então olhou para o Príncipe e disse:
- Meu filho, eu quero que saibas que sozinho não é possível ser indestrutível, tu podes ter o apoio dos deuses, sozinho por mais que sejamos fortes como o tronco que me trouxestes acredita que sempre seremos fáceis de ser destruídos e abatidos, mas se nos ajuntarmos uns aos outros teremos a sorte de resistir a destruição, porque um cuidará do outro até que o ajudado tenha a mesma chance de ajudar quem o ajudou, por isso o amontoado de troncos é mais forte e resiste por serem vários e um único tronco não resiste por ser apenas um.
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O IMPERADOR KIABAMBA V
Fiksi Sejarah"Após a morte do Imperador Sonhi Kiabamba IV, o Império passou a conhecer inúmeros desafios, um deles o facto de ser empossado um Imperador em plena mocidade, por outro lado o Imperador terá que medir forças com o seu tio, o Príncipe Imperador Kuleb...