presa por acaso

•10•

Aquela manhã o alarme soou bem cedo, fazendo as presidiárias reclamarem em suas camas. Naquele dia teriam a modalidade de esportes e, para as que fossem praticar, teriam que ir se alimentar mais cedo.

Ludmilla se levantou e saiu da cela sem dizer nada, o que Brunna já estava ficando acostumada, afinal nas últimas quatro manhãs havia sido exatamente assim.

Ela sabia que, eventualmente, Ludmilla acabaria tendo que falar com ela, igual fez nos dias anteriores nos horários das refeições. Ela havia mentido também, deveria então sustentar o que disse e seguir se acercando à menor.

Brunna dizia para si mesma que não ficaria correndo atrás igual na primeira manhã onde havia compartilhado a cela com Ludmilla. A maior se mostrou inflexível e fria, o que em realidade incomodou muito Brunna e, por esta razão, acabou percebendo que Ludmilla, de um jeito ou de outro, sempre se aproximava.

-- Bom dia! -- Maggie disse assim que Brunna se sentou em sua frente e bocejou. -- Vejo que dividir a cela com sua namorada está te deixando exausta.

-- Sim, claro. -- Mentiu. Seu forte sono se devia à noite insone que teve graças a uma mulher da cela ao lado, que roncava incrivelmente alto.

-- Aí vem ela. -- Maggie disse, soltando seu ronco junto com sua risadinha graciosa.

-- Ela quem?

-- Bom dia de novo, princesa. -- Ludmilla sussurrou, se sentando ao seu lado com uma perna para cada lado do banco, antes de deixar um demorado beijo em seu rosto. Brunna se conteve para não revirar os olhos.

de novo? Ela sequer havia desejado um bom dia para ela.

-- Bom dia! -- Brunna respondeu, mordendo sua maçã.

-- Ficará no meu time, não é? -- Ludmilla perguntou e Brunna a olhou confusa. -- Você é nova e sempre uma ficava de fora, agora que você chegou poderia ficar no meu time de futebol.

-- Eu odeio futebol, Ludmilla. -- Brunna reclamou e Ludmilla suspirou.

-- Por favor... -- Ela insistiu, distribuindo beijos ao longo do pescoço de Brunna. O olhar de Brunna foi para a policial Larisa, que sequer se importou daquela troca de carícias ali.

-- Não faça isso. Estamos em público. -- Brunna falou, fitando-a intensamente e Maggie riu.

-- Não se preocupem por mim. -- A ruiva respondeu, roncando mais uma vez. -- Vou ir me juntar à minha mulher.

-- Maggie, não prec...

-- Muito gentil de sua parte. -- Ludmilla cortou Brunna, que a fuzilou com os olhos. A ruiva sorriu antes de pegar sua bandeja e se afastar. -- Parece um porquinho, mas é fofo. -- Ludmilla disse sorrindo e Brunna suspirou.

-- Poderia parar de beijar daquele jeito? -- Brunna perguntou e Ludmilla arqueou uma sobrancelha.

-- Não é como se eu fizesse porque gosto. Precisamos disfarçar. -- Ludmilla disse friamente e Brunna fitou sua bandeja. -- Vai ficar no meu time?

-- Tenho outra escolha? -- Brunna perguntou e Ludmilla sorriu.

-- Tem. O time de Anita. -- Brunna a olhou surpresa e a maior sorriu vitoriosa.

-- Está bem, ficarei no seu time.

-- Foi o que pensei. -- Ludmilla falou, se virando para frente e começando a comer. O silêncio se instaurou entre elas, até Brunna resolver falar algo.

-- Por que não quer ser minha amiga?

-- Costumo conversar mais com pessoas que fazem algo útil neste lugar. -- Ludmilla disse secamente e Brunna se calou. Estava irritada demais, pela ausência do sono, para aguentar desaforos da maior e, como tinha a plena ciência de que ela estava sendo ajudada a troco de nada, preferiu se calar.