•16•

1.2K 98 6
                                    

━━━━
Emergir após você ter quase se afogado te faz sentir aliviado, exasperado, inquieto, feliz e ao mesmo tempo desesperado. Sua respiração se descontrola e seu pulso acelera inexplicavelmente. Era exatamente assim que Ludmilla  se sentia, como se quase houvesse se afogado.

Brunna era seu mar.

Os lábios quentes sobre os seus não a deixavam pensar, só sabia de algo: Precisava de mais e foi com tal pensamento que apenas permitiu a passagem da língua da menor, vibrando internamente com o contato.

Não era um beijo qualquer, era Brunna ali. Brunna Gonsalves . Ela não podia acreditar naquilo, não conseguia cair sua ficha de naquilo, não conseguia cair sua ficha de que beijava a garota que...

Ela vetou seus pensamentos quando a menor chupou seu lábio inferior e enfiou as duas mãos por dentro de sua camisa, arranhando as unhas curtas em sua pele, causando a inflamação de todo seu corpo. Brunna voltou a aprofundar o beijo e Ludmilla  a puxou mais para si, levando uma de suas mãos até os cabelos da nuca da menor e a enfiando ali, os puxando de leve, sentindo a textura sedosa dos fios entre seus dedos enquanto suas línguas se encontravam em um perfeito encaixe.

Brunna arfou contra sua boca e apertou sua cintura, tentando juntar ainda mais os corpos, como se os tentasse fundir.

-- Detentas! -- A voz firme e ríspida de uma das guardas fez elas separarem as bocas, sem se afastarem totalmente. -- Aqui não é lugar para isso. -- Ambas assentiram, se afastando de vez uma da outra.

-- Não deveríamos ter feito isso. -- Ludmilla, que possuía seu lábio ligeiramente avermelhado, falou e Brunna negou com a cabeça.

-- Claro que deveríamos. -- Disse, sem se importar com o fato de pouco tempo atrás ter pensado que deveria tentar não se apaixonar por Ludmilla.

-- Você tem problemas de interpretação? -- Ludmilla perguntou. -- Normani disse para você não encarar e você me encarou; eu disse para não se aproximar e você vive criando conversas íntimas; agora digo que não deveríamos e você diz que sim.

-- Não tenho problemas de interpretação. Apenas sei formar opinião própria. -- Brunna rebateu e Ludmilla  suspirou, indo em direção à sua cela.

-- Pare de me seguir, Brunna! -- Ludmilla  pediu.

-- Só quando me disser por que não deveríamos. -- Brunna falou e Ludmilla  entrou em sua cela, subindo em sua cama e se virando para a parede. Brunna suspirou e se encostou na parede de frente para o beliche. -- Eu não sabia que te incomodava tanto assim. Desculpe.

-- Não faça isso.

-- Isso o quê? -- Brunna perguntou e Ludmilla  se virou para ela.

-- Esse drama todo, me mostrando que estou reagindo exageradamente. -- Ludmilla  explicou e Brunna a fitou, sorrindo fraco antes de assentir e se deitar em sua cama. O silêncio perturbador fez Ludmilla  suspirar. -- Brunna?

Silêncio.

-- Brunna?

-- O que é? -- Brunna perguntou e Ludmilla se equilibrou em seu peito, olhando para a cama de baixo.

-- Está brava comigo? -- Ludmilla  perguntou e Brunna negou. -- Então por que não me respondeu de primeira?

-- Não faz sentido as discussões idiotas que temos. Você é um maldito ponto de interrogação que fica no final de toda frase minha. -- Brunna disse encarando-a, vendo os olhos pretos  refletirem um lampejo de tristeza.

-- Desculpe. -- Ludmilla  murmurou e Brunna se surpreendeu. -- Só há perguntas que para a minha proteção eu devo manter as respostas para mim. -- Ludmilla  falou. -- Eu ainda tenho mais dois anos aqui, preciso manter meu foco.

-- Bem, se a minha advogada não for eficiente o suficiente eu ainda tenho vinte e dois, então boa sorte com seus dois anos. -- Brunna disse e Ludmilla  mordeu seu lábio inferior, descendo da cama de cima.

-- O que fez para pegar tanto? -- Ludmilla  perguntou curiosamente e Brunna foi para o canto de sua cama, esticando a mão para Ludmilla.

A maior encarou sua mão com hesitação, até finalmente segurá-la,  sentindo a menor lhe puxar para seu lado. Ludmilla  respirou fundo, sentindo o cheiro do condicionador de Brunna impregnado no travesseiro.

-- Não fiz nada, mas fui acusada do assassinato do meu irmão e de ter tentado assassinar minha mãe. -- Brunna disse, vendo Ludmilla  arregalar os olhos completamente surpresa. -- Eu não fiz isso, eu juro, mas sei que você não vai acreditar em mim. -- Brunna disse, brincando com a baínha de sua camisa.

Ela se surpreendeu quando sentiu Ludmilla  acariciar seu rosto, fitando-a com seu olhar carregado de afeto.

-- Você poderá pegar uma boa grana quando processar esses babacas do Estado, uh? -- Ludmilla  perguntou e Brunna assentiu ainda cética.

-- Você vai acreditar que sou inocente assim... fácil? -- Brunna perguntou e Ludmilla  assentiu.

-- Já acreditei. -- Ludmilla  disse sorrindo de lado e Brunna se virou para ela.

-- Eu não vou perder meu tempo processando eles. -- Brunna disse e Ludmilla  franziu o cenho.

-- Por que não? -- Indagou sem jamais deixar de acariciar o rosto da menor, que suspirou ante ao toque gentil.

-- Porque eu quero viver minha vida, desfrutar das coisas que eu não dava valor antes, sabe? -- Brunna perguntou. -- Não quero ficar enfurnada em uma sala o dia todo diante de uma pilha de papéis. Quero ir no parque central e me deitar sobre o gramado enquanto admiro os pássaros no céu e sinto o ar fresco acariciar minha pele.

-- O futuro amor de sua vida poderia estar junto e ambos poderiam alimentar os patos. -- Ludmilla  disse e Brunna sorriu, assentindo.

-- Me soaria um bom lugar para eu dizer que a amo. -- Brunna disse e Ludmilla  suspirou. -- Uma pena nada disso existir. -- Falou e Ludmilla  assentiu.

-- Mas você tem chances de ser feliz quando sair daqui, sabe? Viver, receber de bom tudo o que já ofereceu a este mundo. -- Ludmilla  disse e Brunna subiu seu olhar, analisando meticulosamente cada palavra que Ludmilla  havia dito.

-- Por que sempre fala como se eu tivesse sido uma heroína lá fora? -- Brunna perguntou e Ludmilla  negou, parando sua carícia.

-- Nada. -- Respondeu baixando seu olhar. -- Se sua advogada conseguir sua inocência você sai em quanto tempo?

-- Cinco meses e duas semanas. -- Brunna disse e Ludmilla assentiu, fitando os lábios tão atrativos da menor.

-- Acho que mudei de ideia sobre nos beijarmos. -- Ela sussurrou e Brunna a olhou cheia de expectativa. -- Mas me prometa que não fará tantas perguntas.

-- Não posso prometer isso. -- Brunna disse, umedecendo seus lábios. -- Mas gostei da ideia de voltarmos a nos beijar loucamente. -- Brunna disse sorrindo maliciosa e Ludmilla riu. -- Por que mudou de ideia? -- Indagou curiosa e a maior suspirou, passando um braço por seu corpo, a abraçando.

-- Porque sei que será inocentada e, bem, acho que eu gostaria de aproveitar o pouco que vou ter de você. -- Ludmilla  confessou ruborizando e Brunna sentiu um arrepio cortar sua espinha. Quanto mais tempo passava, mais encantadora Ludmilla se tornava aos seus olhos.

-- Então pode aproveitar bastante. -- Brunna sussurrou, levando uma mão até a nuca de Ludmilla  para então arrastar as unhas ali, vendo um novo brilho nascer nos olhos da maior.

Ela gemeu quando sentiu Ludmilla beijá-la e então a menor a puxou mais para cima de si. Aparentemente os próximos meses não seriam nada ruins trancafiada ali com a maior.

Entretanto, de alguma forma, incomodava se imaginar saindo daquele presídio e deixar Ludmilla para trás. Ela espantou seus pensamentos ao ver o rumo que estavam tomando. Focaria no "agora" e, bem, o "agora" possuía a língua de Ludmilla  se encontrando com a sua enquanto sua mão direita adentrava a camisa de Brunna para acariciar diretamente sua pele.

É, o "agora" era bem atrativo.

-----------------------------------

presa por acaso Onde histórias criam vida. Descubra agora