•09•

1.1K 97 4
                                    


-------------------------------

Brunna estava deitada enquanto olhava quadradinhos imaginários na parede. Sim, o tédio a estava matando, porém, não mais do que a curiosidade sobre Ludmilla Oliveira.

A garota era grosseira, seca, fria, contudo, se ofereceu em ajudar Brunna. Ela também já fora gentil, mesmo sem perceber. A menor só queria entender aquela mulher. Por que ela ajudaria alguém gratuitamente?

Ludmilla jamais se envolvera com alguém daquela cadeia, de acordo com Maggie.

daquela cadeia, de acordo com Maggie. Então por que diria a todas que estava com Brunna? Para sua única proteção? Muito estranho.

Ludmilla a havia beijado, um selinho, na frente de todas. Aqueles lábios rosados e tão beijáveis, junto com aquele olhar intenso que derreteria qualquer iceberg... Não! Ela não deveria pensar nisso, se repreendeu.

O barulho de sua cela sendo aberta a fez respirar fundo. A merda aconteceria, se tivesse que acontecer.

-- Olá, novata. -- O sorriso rancoroso no rosto de Anita fez Brunna sentir um frio cortar toda a sua espinha.

-- Brunna Gonçalves. -- A voz da guarda fez Brunna a olhar. Era Carvalho.

-- Sim? -- Brunna perguntou baixo antes de fitar Anita. Seus olhos a fitavam ansiosamente, à espera daquela guarda sair para acertar contas. O nariz da garota estava enfaixado e ela tinha um olho roxo.

-- Arrume seus pertences que em menos de dois minutos volto aqui. -- Ela disse e Brunna assentiu confusa, apesar de não ter quase nada. Alguns itens de higiene pessoal e suas roupas íntimas.

-- Quebraram meu nariz, sua vadia. -- Anita disse irritada assim que Larisa saiu. -- Vou esperar Carvalho fazer seja lá o que for aqui nessa inspeção de cela e esta noite você me paga. Oliveira verá quem manda nessa merda. -- Brunna sequer a olhou, o medo circulava em cada canto de suas veias.

-- Eu sinto muito por seu nariz. -- Brunna disse baixo, se sentando e arrumando suas coisas no canto de sua cama.

-- Ah, com certeza não sente, sua vadia. -- Anita disse cruzando os braços. -- Não mandei se sentar. Levanta! -- Impôs e Brunna obedeceu. -- Ludmilla deveria saber que você só está com ela por interesse, mas deveria ter escolhido melhor, boneca, sou eu quem tenho todas as guardas compradas.

-- Nem todas. -- A voz de Carvalho soou firme e Anita a olhou assustada. -- Gonçalves , pegue suas coisas e me acompanhe.

-- Não quis dizer que as compro de verdade, senhora. São todas mulheres íntegras. -- Anita disse colocando as mãos para trás e Larisa manteve sua expressão imparcial quando Brunna saiu da cela.

-- Eu sei bem o que você quis dizer e não se preocupe, porque cada mulher íntegra dessas que você citou terão sua vez na hora certa. -- Falou, erguendo um braço, fazendo a policial que tinha os comandos a ver pela câmera de segurança e voltar a fechar a cela.

-- Aonde ela vai? -- Anita perguntou confusa.

-- Não é da sua conta. Cuide de suas coisas. -- Larisa disse impassível. -- Por aqui Gonçalves.

Caminharam duas celas, até pararem de frente com a cela que Brunna conhecia muito bem.

-- Espero que nessa você não arranje problemas. -- Larisa disse. -- Elas duas sempre arranjam problemas uma com a outra e por isso foram colocadas em celas separadas. Com Anita você não vem dando certo, vejamos com Ludmilla -- Falou, abrindo a cela. Brunna entrou no ambiente antes da cela voltar a se fechar.

-- Obrigada, Lari. -- Ludmilla disse e Larisa sorriu.

-- Juízo, garotas. -- Ela disse, se afastando dali.

Brunna olhou confusa para Ludmilla antes de colocar suas coisas em seus devidos lugares.

-- Você... A subornou? -- Brunna perguntou confusa e Ludmilla riu.

-- Uma mulher nunca revela seus truques. -- Ludmilla falou e Brunna assentiu.

-- Eu posso, huh, me deitar? -- Brunna perguntou e Ludmilla franziu o cenho.

-- Não precisa de uma autorização minha para isso, Gonçalves. -- Oliveira  falou e Brunna riu fraco.

-- É que Anita às vezes...

-- Não sou ela. -- Ludmilla disse seriamente e Brunna a fitou novamente.

-- Claro, me desculpe. -- Pediu, se deitando em sua cama. Seu cérebro voltou a divagar.

-- Ela já estava na cela? -- A voz de Ludmilla soou e alguns segundos depois as luzes se apagaram.

-- Estava.

-- Ela te machucou?

-- Não.

-- Hm. -- Respondeu com frieza novamente, deixando o silêncio se instaurar no local.

-- Por que ficava me olhando tanto quando cheguei? -- Brunna perguntou. Droga! Era sempre tão estúpida? Pensou.

-- Não te interessa. -- Ludmilla disse e, para a  sua surpresa, Brunna riu.

-- Por que sempre é tão rude comigo?

-- Você é sempre idiota ao ponto de ficar insistindo em falar com alguém que claramente não quer conversar com você? -- Ludmilla perguntou, colocando a cabeça para fora do beliche, apenas para ver Brunna a fitar da cama de baixo.

-- E você é sempre a protetora das novatas que claramente não pediram por sua ajuda? -- Brunna rebateu e Ludmilla bufou.

-- Eu sabia que isso seria um erro. -- Ludmilla disse boquiaberta. -- Amanhã pedirei à Larisa que te mande de volta. Direi a todos que você está livre e você que se acerte com Anita. Já me meti em problemas demais para ouvir esse tipo de coisa. -- Ludmilla falou, se deitando bruscamente.

-- Não, por favor... -- Brunna pediu rapidamente, se levantando para poder ver o rosto da outra garota. -- Eu não quis dizer que não sou grata... -- Brunna se corrigiu. -- Só quis dizer que você começou a me ajudar do nada e nunca me disse o porquê, mas vive me tratando como se não gostasse de mim. -- Ela disse em suspirou. -- Isso só me deixa... confusa.

Ludmilla a fitou antes de se apoiar em seu cotovelo e voltar a falar.

-- Preste muita atenção no que vou dizer: Não somos amigas, não somos nada. Eu te ajudei e você deve ficar agradecida, nada mais. -- Ela falou friamente. -- Sem amizade, sem sorrisos, sem conversas sobre nossas vidas, sem perguntas. Ficou claro? -- Brunna assentiu encolhendo seus ombros antes de voltar a se deitar.

-- Claríssimo. -- A menor respondeu. Pelo menos poderia dormir em paz, sabendo que não teria uma Anita para tentar pular em cima dela durante a noite. Seus olhos se fecharam, porém sua mente se concentrava em um único pensamento:

Viveriam por um longo tempo sob o mesmo teto, no entanto, Ludmilla se negava a conversar com ela. Brunna  não sabia o que era pior: Estar sozinha em uma cela, sem ninguém para conversar por meses ou anos, ou estar em uma cela com uma pessoa que gostaria muito de conversar, porém não podia.

presa por acaso Onde histórias criam vida. Descubra agora