presa por acaso

•40•

Brunna caminhava de um lado para outro ansiosa; estava morrendo de saudades de Ludmilla, afinal mal tinha podido se despedir decentemente de sua namorada. Ela subiu as mangas de sua camisa branca social e ajeitou os cabelos. Será que deveria ter trocado de roupa antes de passar ali? E se Ludmilla não se atraísse por ela vestindo social?

Negou com a cabeça e riu para si mesma. Ludmilla não era esse tipo de garota, jamais se incomodaria com o tipo de roupa que ela usava. Não mesmo.

-- Poderia se sentar? Está me deixando nervosa. -- Allyson disse e Brunna a fitou, rindo baixinho.

-- Desculpe, é que estou ansiosa. -- Ela disse esfregando as mãos em sua calça.

-- Jura? Eu não poderia dizer isso se não tivesse me avisado. -- Ally foi irônica, fazendo Brunna negar com a cabeça.

-- Não use de sua ironia comigo. Você só está aqui para que eu não precisasse ficar nua na frente daquelas mulheres. -- Ally riu.

-- Ou seja, eu vim segurar vela. -- A morena iria dizer algo, entretanto o ruído da porta se abrindo fez Brunna virar o rosto na mesma hora.

Seu sorriso morreu quando encontrou Larissa com uma cara não tão boa.

-- Por favor, não me diga que ela está com aquela frescura de que eu não deveria vir. -- Brunna pediu, vendo Larissa se aproximar.

-- Desculpe, mas ela não quer te ver.

-- Por quê? -- Brunna indagou confusa e Larissa riu com escárnio.

-- Por quê? -- Larissa perguntou irritada. -- Como "por quê?" Você saiu sem mais nem menos. -- Informou. -- Não deu nem um tchau, a abandonou. Aquele dia ela te esperou por horas. Se atreveu até a ir à enfermaria ver se você não estava por lá. -- Larissa falou, respirando fundo. -- Ela te procurou por todos os lados achando que tinham aprontado algo com você e quando disseram que você foi solta e que preferiu não vê-la...

-- Ôh, ôh, ôh! -- Brunna disse, erguendo as mãos na frente de seu corpo ao ouvir o tom acusatório na voz de Larissa. -- Primeiro que eu não sabia que eu sairia. Segundo que eu não tinha como avisá-la desde que jamais me avisaram que eu sairia e ela deveria deduzir isso. -- Falou firmemente. -- E terceiro que eu dei dois mil dólares para uma policial apenas para ela lhe entregar um bilhete. -- Larissa se calou, a olhando surpresa. -- E pelo jeito a vadia não deu a ela meu bilhete. -- Deduziu, respirando fundo.

-- Você não... não a deixou? -- Larissa  indagou, tentando comprovar que o que ouvira era real. Tudo não havia passado de um mal entendido.

-- Como eu poderia? -- Brunna disse. -- Eu estou aqui, não estou? -- Larissa assentiu. -- Eu poderia estar em qualquer lugar do mundo, desfrutando da minha liberdade, mas ao invés disso estou bem aqui, em uma prisão no meio do nada, unicamente para vê-la. -- Larissa viu a forma como os olhos de Brunna brilharam e como a ternura invadiu seu ser.

-- Oh meu Deus, você gosta mesmo dela. -- Brunna sorriu debilmente e assentiu.

-- Sim, eu gosto. -- Ela disse com doçura e Larissa suspirou.

-- Olha, vou tentar falar com ela de novo. Ela está meio nervosa com isso de gastar um pouco do dinheiro da fiança e pode estar descontando na situação, mas...

-- Fiança? -- Brunna perguntou confusa. -- Que fiança?

-- Droga. -- Larissa murmurou. -- Não é nada.

-- Larissa, que fiança? -- Brunna insistiu e Ally arqueou uma sobrancelha, mais interessada na conversa.

-- Ela vai me matar. -- Larissa murmurou, tomando coragem antes de comprimir os lábios. -- A fiança dela, Brunna. -- A morena piscou confusa.

-- Ludmilla pode sair com fiança? -- Brunna perguntou surpresa.

-- Você não sabia disso? -- Ally perguntou confusa.

-- É claro que não. Você sabia?

-- Óbvio. Eu pedi para ser advogada dela, tive que ler seu caso.

-- E por que não me disse nada? -- Brunna questionou.

-- Porque eu pensei que você soubesse. -- Ally se explicou e Brunna fitou Larissa.

-- Não entendo por que ela não me contou isso... -- Brunna disse e Larissa umedeceu os lábios.

-- Olha, Brunna, Ludmilla gosta mesmo de você. -- Larissa começou. -- Nunca a vi tão leve e feliz igual quando estão juntas. -- Explicou. -- Você já a perguntou se ela estava com você por dinheiro. Você acha mesmo que ela te contaria isso? -- Larissa riu tristemente. -- Ela jamais colocaria o sentimento dela em dúvida diante de seus olhos.

-- Eu perguntei aquilo quando mal a conhecia. Quando ela não me contava nada e me protegia sem eu entender o motivo. -- Brunna se explicou. -- Eu jamais pensaria isso dela.

-- Fico feliz. -- Larissa disse sorrindo aliviada. -- Porque aquela garota te adora.

-- É recíproco. -- Brunna disse ruborizando levemente. -- Então... -- Disse limpando a garganta. -- Aquele dia você mencionou que naquele mês você tinha conseguido mais duzentos. Era dinheiro para a fiança, não era? -- Larissa assentiu.

-- É. Paty e eu nos encarinhamos mesmo com ela e a queremos como madrinha de nosso casamento, então estou juntando para pagar a fiança. -- Larissa disse. -- O casamento será simples, porque a fiança é alta e não tenho condições, mas está convidada.

-- Sabe o quê? -- Brunna disse sorrindo. -- Pegue todo esse dinheiro que você guardou para a fiança da Ludmilla e invista em seu casamento ou lua de mel, o que preferir. -- Brunna disse animada. -- Porque a fiança de Ludmilla estará sendo paga hoje. -- Larissa arregalou os olhos incrédula, emocionada e agradecida.

-- Co-como? -- Indagou e Brunna riu.

-- Isso mesmo que você ouviu. Só... poderia dizer a ela que você que conseguiu? -- Larissa fez uma careta ao ouvir aquilo.

-- Ela não vai gostar se...

-- Não se preocupe. Essa não será uma daquelas situações onde a pessoa fica magoada quando descobre a verdade e etcétera. -- Brunna disse rindo. -- Eu contarei a ela assim que olhar em seus olhos. Só sei que ela pode ser teimosa, então...

-- Entendi. -- Larissa disse sorrindo emocionada. -- Obrigada. Eu realmente não sei como agradecer.

-- Eu que agradeço. Saber que ela pode sair foi a melhor notícia que recebi em muito tempo. -- Brunna disse verdadeiramente. -- Pode me fazer um favor? -- A negra assentiu. -- Diga à Maggie que virei visitá-la e que no dia que ela sair eu mesma farei questão de vir buscá-la.

-- Eu direi. -- Larissa respondeu e Brunna assentiu sorrindo.

-- Bem, quanto é a fiança? -- Brunna  indagou.

-- Treze mil dólares. -- Larissa disse receosa e Brunna fez uma careta. Ludmilla estava presa por tão pouco?

-- Bem, então esses serão os treze mil dólares mais bem gastos da minha vida. -- Brunna respondeu sorrindo. -- Nos vemos, Larissa. Agora tenho uma namorada para soltar, se me der licença.

E dito isso se retirou, fazendo Larrisa sorrir emocionada. Ela pôde ler no olhar determinado de Brunna que, de fato, ela não sossegaria enquanto não tivesse Ludmilla em liberdade.

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