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Os olhos castanhos analisavam de longe a morena de olhos verdes se sentando na mini-arquibancada do outro lado do pátio. Ela ainda tinha a pose séria e fria.

Fazia cerca de uma semana desde que conversaram e depois daquilo Ludmilla não conversaram e depois daquilo Ludmilla não lhe respondia mais. Brunna tentara de tudo, porém fora impossível. Ludmilla realmente havia ficado chateada.

-- Brigaram? -- A voz de Maggie soou por detrás de Brunna, fazendo a menor assentir.

-- Fui um idiota com ela. -- Brunna disse e Maggie fitou Ludmilla, franzindo ligeiramente os olhos devido ao sol intenso.

-- Você é bem corajosa. -- Maggie disse. -- Ninguém aqui ousaria ser idiota com ela depois de saber que ela quase matou a antiga líder daqui. -- Comentou. -- Só não matou porque a outra se rendeu.

-- Essas informações são verídicas? -- Brunna perguntou.

-- Dizem que sim. Dizem que a mulher morreu dias depois e que foi Ludmilla quem morreu dias depois e que foi Ludmilla  quem matou, mas não levou a culpa porque soube disfarçar o crime.

-- Ludmilla  não seria capaz. -- Brunna murmurou e Maggie riu.

-- Você está se apaixonando? -- Perguntou. -- Porque só assim para achar que ela não seria capaz. Ela é a líder daqui, Brunna.

Brunna ficou quieta. Não discutiria sobre sua opinião com mais ninguém, afinal ninguém ali conhecia Ludmilla  como ela. Estava ali há pouco tempo, mas apesar disso ainda era a pessoa que mais conhecia Ludmilla  ali. Claro que possivelmente Larisa e Paty conheciam melhor a garota e exatamente por isso elas não discutiam sobre Ludmilla. Ninguém entenderia.

-- Não estou me apaixonando. -- Brunna disse. -- Mas gosto muito dela.

-- Três semanas e já está caidinha. -- Maggie disse rindo, soltando um pequeno ronco junto.

-- Não estou muito bem para humor hoje, Maggie. Desculpe. -- Brunna disse tristemente, sorrindo fraco antes de caminhar até sua cela.

Naquele dia a luz do sol não faria diferença. Era para ser um dia feliz, ela havia organizado em sua agenda aquela data havia meses. Sua sobrinha completava três anos e ela sequer poderia dar um abraço, quem dirá aquele monte de coisas que havia organizado.

Ela se sentou em sua cama e se pôs a chorar baixinho, se perguntando aonde havia errado em sua vida para estar pagando um preço tão alto. Sua advogada não voltara a dar notícias, muito menos sua irmã.

Como será que Julia estaria? Será que ela perguntara sobre Brunna? Sofia teria lembrado de comprar o unicórnio para a menina em seu nome?

Com o coração destroçado Brunna  apoiou o rosto nos joelhos, abraçando as pernas para chorar em posição fetal. Ela sempre brigava com seus irmão. Como não brigar? Ele era bastante irresponsável. Claro que tinha apenas dezoito anos, porém tinha uma filha para quem devia responsabilidade e muita das vezes não a exercia, deixando o cargo vago para Brunna.

A garotinha era mais apegada à sua tia Brunna do que ao próprio pai. Apesar de tantas brigas, Brunna e Brunno haviam passado horas organizando aquele dia. Algo que jamais se repetiria. Nem Julia completaria três anos outra vez e nem Brunna teria seu irmão para organizar algo em conjunto. O nó se apossou de sua garganta e ela desabou em um choro intenso, porém parou quando sentiu uma mão em seu ombro.

-- É hoje o aniversário que você citou, não é? -- Ludmilla  perguntou, ignorando toda a frieza do decorrer da semana e Brunna  assentiu, tendo seus olhos inchados e avermelhados.

A maior suspirou e se sentou ao seu lado, trazendo-a para seus braços em uma abraço apertado. Brunna  não hesitou, se deixando cair em um choro forte, tendo seu rosto enterrado na curva do pescoço da maior.

-- Sh... -- Ludmilla  sussurrou e Brunna  a abraçou ainda mais forte, deixando suas defesas abaixadas.

-- Eu cuidava dela como uma mãe. -- Brunna  disse em meio ao pranto e Ludmilla  suspirou. -- Eu contava histórias e brincava com ela. Eu... sinto tanta falta dela.

-- Como ela é? -- Ludmilla  perguntou, querendo entreter a menor. Brunna  fungou e respirou fundo, pensando no que diria.

-- Ela é doce, divertida. -- Começou, se lembrando da pequena figura. -- Ela tem a cor dos meus cabelos e dos olhos, porém sua pele é um pouco mais clara. -- Brunna  disse, enxugando algumas lágrimas antes de se esquivar do abraço de Ludmilla  para olhá-la. -- Ela é tão esperta para sua idade, você precisa ver, Ludmilla ... -- Ludmilla  suspirou, vendo um brilho lindo cintilar nos olhos da menor.

-- Ela parece adorável. -- Ludmilla  disse e Brunna  sorriu finalmente.

-- Céus, ela é. -- Brunna  disse e Ludmilla  repuxou o canto dos lábios em um meio sorriso.

-- Gostaria de falar com ela? -- Ludmilla  perguntou e Brunna  assentiu tristemente. -- Sabe que esta manhã eu consegui uma coisa... -- Ludmilla  falou, retirando algo de dentro de seu sutiã. -- Preciso devolver até as cinco, mas que tal se eu conhecer a voz dela, hm? -- Brunna  abriu a boca em completa surpresa ao ver um telefone celular na mão de Ludmilla.

-- Você, uh, me emprestaria mesmo? -- Brunna  perguntou e Ludmilla  riu.

-- Está brincando? Você me deixou curiosa sobre essa criança. -- Ludmilla  falou e Brunna  sorriu. -- Só espere um minuto, vou chamar Paty para vigiar enquanto estivermos na ligação.

-- Estivermos? -- Brunna  perguntou confusa.

-- Você realmente acha que eu não vou dar um oi para ela? -- Ludmilla  perguntou e Brunna  se jogou em seus braços, a abraçando fortemente.

-- Céus, eu te beijaria agora mesmo. -- Brunna  comentou. -- Obrigada mesmo, Ludmilla. Eu jamais vou me esquecer disso. -- A maior apenas assentiu um pouco sem graça por Brunna  ter citado beijo e logo se levantou.

-- Não precisa me agradecer. -- Ela disse, desaparecendo dali. Quando voltou viu que Brunna  tinha lavado o rosto e estava batendo o pé ansiosamente contra o chão.

-- E então? -- Brunna  perguntou em expectativa e segundos depois viu Paty parar na frente da cela, de braços cruzados enquanto Ludmilla  tapava parcialmente a visão lá de fora com lençóis.

-- Vem cá. -- Ludmilla  pediu, se sentando na cama de Brunna  com as costas na cabeceira, de costas para as grades e Brunna  se aproximou, sentindo Ludmilla  a puxar para o meio de suas pernas antes de sorrir. -- Vire-se para a frente. -- Ludmilla  disse rindo, vendo que Brunna  estava paralisada fitando seus lábios. -- Sua irmã tem alguma rede social ou algo que dê para fazer vídeo-chamada?

-- Tem. -- Brunna  respondeu e Ludmilla  sorriu.

-- Então coloque ela na linha. Faremos uma vídeo-chamada. -- Ludmilla  não podia entender o tamanho do sentimento que despertou em Brunna  ao ajudá-la com aquilo e, mesmo brigadas, era bom demais voltar a estar entre os braços da mais velha.

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