Julie Molina conferia entediada a folha de papel colada na parte interna do armário que informava quais aulas possuía no dia, um suspiro derrotado saiu de seus lábios demonstrando sua total insatisfação por estar de volta ao colégio, principalmente após ter vivido momentos maravilhosos durante suas férias apenas dedicando-se completamente à música.
Por um longo instante contemplou o próprio reflexo no pequeno espelho deixando sua atenção vagar pelos cabelos volumosos que possuíam fios azuis e roxos perdidos nas mechas castanhas, um sorriso travesso preencheu sua face ao lembrar do dia que decidiu colorir seus cachos, sua tia quase entrou em colapso quando a viu e apenas ficava gritando que aquilo era inadmissível, um ato de rebelião e que ela precisava ser controlada antes que pensasse que poderia fazer tatuagens e piercings, ou fugisse de casa para viver como uma verdadeira estrela do rock.
É claro que a mulher não aceitou muito bem quando descobriu minutos mais tarde que a garota fizera de fato uma tatuagem naquele mesmo dia, ela estava se sentindo ousada e decidiu riscar algumas coisas da sua lista de "coisas a fazer antes de morrer", o lado preocupante é que sua tia quase foi que morreu ao ver a dália desenhada permanentemente na pele da sobrinha. Enquanto isso seu pai a recebeu com uma risada alegando que jovens precisavam viver e fazer loucuras, além disso ele também a abraçou com força e sussurrou apenas para que ela ouvisse que sua mãe estava honrada pela homenagem que ficaria com ela pela a vida inteira, marcada em seu coração, alma e pele.
- Por que não podemos simplesmente ir para casa ensaiar? -Perguntou fechando finalmente o armário.
- Você já esqueceu o sermão que o seu pai te deu por causa das suas notas baixas e por você estar quase reprovando devido ao tanto de faltas que tem? -Flynn questionou com uma sobrancelha erguida fazendo Julie bufar e revirar os olhos, pois odiava quando a melhor amiga tinha razão.
A garota de cabelos coloridos possuía o hábito de caminhar de costas para que pudesse conversar olhando diretamente para a pessoa principalmente porque gostava de manter contato visual e como Edgar Allan Poe uma vez disse "os olhos são as janelas da alma" e de fato eles não conseguem esconder a verdade.
-Quem precisa de colégio quando se tem uma banda que fará muito sucesso?
-Eu preciso -Exclamou Flynn imediatamente arrancando uma careta da amiga-Eu ainda pretendo me formar.
-Quanta baboseira, você só quer vir para o colégio para ver sua namoradinha-Acusou Julie com um olhar desafiador.
-Isso é só parcialmente verdade-Respondeu na defensiva erguendo as mãos.
-Você e a Carrie são o casal mais fofo e irritante que eu conheço -Flynn soltou uma risada com a afirmação da amiga que sorriu discretamente.
Ela queria permanecer irritada pelo retorno das aulas, mas era realmente difícil manter aquela pose de durona despreocupada quando sua melhor amiga estava extremamente feliz e totalmente radiante desde que começara a namorar Carrie, tal alegria era contagiante para Julie e toda vez que Flynn sorria era involuntário retribuir.
-Você só diz isso porque ainda não encontrou alguém para descongelar esse seu coraçãozinho-Novamente ela recebeu apenas um revirar dramático de olhos castanhos.
Julie Molina sempre foi um espirito livre que entregou seu coração e alma somente para a música, pois era sua verdadeira alma gêmea, além disso após a morte da sua mãe a garota construiu muros ao redor para proteger seus sentimentos, ela apenas sentia medo de se magoar então se dedicar totalmente a Double Trouble parecia o melhor caminho a se seguir uma vez que tanto a música quanto a Flynn nunca a decepcionariam.
-Querida, eu não preciso de um romance, eu preciso acordar famosa e rica.
-Acorda Alice você não está no país das maravilhas - Cantarolou a jovem balançando seus cabelos.
-Você é tão estraga prazeres - Resmungou.
-Hoje você está mais mal humorada do que o normal - Concluiu Flynn encarando a amiga com certa preocupação.
-Eu só estou cansada dessa rotina porque sei que existe um mundo cheio de possibilidades e eu estando presa aqui acabo perdendo todas elas - Suspirou exausta.
Era possível contemplar o cansaço na face da garota ainda tão jovem, seus ombros curvados e mordida no lábio diziam o suficiente sobre o quão decepcionada sentia-se por dentro. Julie aprendera a viver sem arrependimentos, a se permitir fazer loucuras e pular de precipícios vendada, pois o universo era incerto, mas para alcançar coisas extraordinárias era necessário ter coragem e insanidade.
Por um bom tempo ela foi uma lagarta presa em um casulo pesado então quando finalmente se libertou o céu se tornou seu território, todos os dias acordava e descobria mais e mais sobre si mesma, fora um processo longo de amor próprio e aceitação, teias estavam na sua alma e nas suas assas, mas agora ela estava mais forte e poderia voar para o infinito.
Julie apenas queria se jogar no mundo, deixá-lo a consumir entregando as coisas boas, ruins, assustadores e magníficas. Ela queria conhecer todas as suas camadas, enfrentar mares furiosos e tempestades destruidores apenas para encontrar no final o arco-íris.
Quando a garota estava em um palco sentia-se viva como se a estrela mais brilhante iluminasse todo o seu ser e explodisse em milhares de cores ao cantar. Julie Molina era uma garota extraordinária cansada dessa vida ordinária uma vez que sabia que coisas fantásticas a aguardavam, ela apenas precisava atravessar aquelas quatro paredes.
-Flynn, o mundo está chamando os nossos nomes! Você consegue ouvi-lo gritar que seremos lendárias?
Seus olhos exibiam aquele brilho sonhador e infantil quando ela praticamente gritou e então com um saltinho de animação decidiu se virar para que pudesse ver qual caminho precisava seguir para sua aula de música, entretanto seu corpo encontrou imediatamente o de outra pessoa que passava distraidamente pelo corredor. O impacto foi grande o suficiente para que Julie se desequilibrasse e caísse em cima do rapaz.
O garoto estava tão estático no chão que parecia que mal respirava, seus olhos de um verde azulado a encaravam totalmente arregalados e assustados, Luke Patterson engoliu em seco quando percebeu que os lábios carnudos da jovem estavam tão próximos que suas respirações se misturavam em um ritmo agitado. Os cabelos de Julie caíam ao redor deles como um véu colorido, por um longo instante nenhum deles foi capaz de se mover, quando seus olhos se encontraram perderam-se naquele momento, como se estivessem falando em um dialeto próprio.
Luke apenas queria estender a mão para que pudesse colocar alguns fios dos cachos dela atrás da orelha para que ele conseguisse admirar mais plenamente aquela face angelical, entretanto se realizasse qualquer momento brusco sabia que arruinaria o momento, faria com que ela despertasse da hipnose, então com sua respiração irregular apenas aguardou pelo próximo movimento da jovem de olhos de jabuticaba.
Julie sentia como se estivesse vendo-o pela primeira vez, algo dentro de si despertou e estava dando cambalhotas, parecia que uma montanha russa fora montada dentro do seu estômago enquanto contemplava cada pequena pintinha que o garoto possuía pelo rosto. Ela estava completamente perdida naquelas íris profundas, mesmo com a proximidade não era possível distinguir de fato qual era a cor daqueles olhos intensos, como se ele fosse um quadro em que o pintor decidiu fundir o azul com verde para criar o tom perfeito do oceano. Seu coração martelava fazendo um som estrondoso dentro da sua mente, praticamente gritando para que ela tomasse novamente controle da situação e se levantasse de imediato, contudo ao sentir o coração em disparada do rapaz Julie apenas conseguiu sorrir singelamente.
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Try Hard • JUKE (HIATUS)
FanfictionSe apaixonar é como pular de um precipício vendado: totalmente perigoso e inesperado, entretanto existe aquele frio na barriga ao se entregar ao desconhecido. Para viver coisas extraordinárias e sentir tudo a flor da pele você precisa se arriscar, s...