capítulo sete: wake up

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Os raios solares beijavam a pele pálida do garoto que caminhava em passos lentos e calmos pelas ruas vazias, seus olhos oceano estavam escondidos pelos óculos escuros, mas sua visão passeava por todas as casas admirando os jardins bem cuidados e inspirando o perfume das flores e da grama recém cortada. Certa tranquilidade pulsava por suas veias neste dia de verão, como se a calmaria antes da tempestade o tivesse alcançado para domar as ondas violentas do seu ser.

A muito tempo Luke não tinha tal paz de espírito, estando sempre ansioso e preocupado, sua mente acelerada o deixava atordoado, ele não possuía controle sobre os pensamentos que o inundavam, geralmente eram pressentimentos ruins que afligiam seu peito como se uma lança afiada fosse enfiada em seu coração, sendo assim nunca conseguia dormir tentando prever quando os monstros se aproximariam para o atacar.

Silêncio e calmaria tomavam conta de sua alma e ele apenas tinha que agradecer a garota de sorriso contagiante, desde que Julie entrara na sua vida seus dias estavam mais leves e descontraídos, em apenas uma semana ensinara ao jovem acelerado a necessidade de pisar no freio para respirar e aproveitar cada segundo, a cacheada dizia que para viver uma vida sem arrependimentos não precisava correr contra o tempo e sim aprecia-lo, não desperdiçar nenhum instante, sem pedir permissões e apenas agir.

Mesmo que o combinado fosse se reunir no sábado para compor na garagem da família Molina os dois não conseguiram conter a energia eletrizando que tomava conta de seus interiores, a música os chamava, gritava seus nomes, tornando aquela conexão um vício, uma necessidade enlouquecedora que os puxava um para o outro. As mensagens durante momentos aleatórios do dia se tornaram frequentes, sendo que toda vez que a ideia de uma frase para a canção os iluminava precisavam compartilhar imediatamente, um campo de força invisível erguera-se ao redor deles e quando estavam dentro daquela bolha imaginária esqueciam que existia outras pessoas no mundo.

Os almoços tornaram-se mais divertidos com o grupo completo, era como se estivesse escrito no destino que eles deveriam se reunir para formar aquela grande e desengonçada família, era inegável a sincronia e harmonia daquela amizade que apenas aumentava dia após dia, eles possuíam muito em comum, contudo o que reforçava tal união eram suas diferenças, o que tornava cada um deles único e insubstituível completava o círculo, como o Reggie dizia agora eles eram uma pizza com todas as fatias.

Durante as noites Luke e Julie aventuravam-se para o terraço do Wired e então protegidos pelo véu noturno estrelado eles compartilhavam suas ideias e acima de tudo suas emoções, derramando naquela canção cada medo e sonho, os dois tornaram-se confidentes que dividiam segredos ao vento, deixando aquele movimento contínuo de ar levar suas revelações pelas ruas da cidade para se perderem em algum beco escuro para nunca mais serem encontradas novamente.

A ligação entre eles era tão verdadeira e instantânea que até parecia impossível imaginar que um dia foram completos estranhos, não existia mais desconfortos e nervosismos, neste momento eles estavam transparentes revelando quem eram realmente, em uma confiança cega eles se deixavam ser expostos, alguns chamariam aquilo de loucura e diriam que as coisas estavam caminhando rápido demais, entretanto existia certa compreensão em seus olhos que sussurravam que estava tudo bem, que nunca seriam capazes de se machucarem ou enganarem.

Andando descontraidamente com as mãos nos bolsos da calça jeans com rasgos propositais ele seguiu o caminho arborizado que o direcionava até a varanda da Julie. Assim que parou em frente a porta mordeu os lábios e guardou os óculos escuros preparando-se para apertar a campainha, mesmo que tivesse se acostumado em tê-la próxima seu coração sempre palpitava mais rapidamente ao pensar que veria aqueles olhos de jabuticaba.

Ao retirar os fones que explodiam uma música do Against The Current- banda que a garota de cabelos coloridos indicou- percebeu que uma melodia suave estava sendo tocada ao piano em algum local próximo, no instante seguinte seu coração estava o guiando em direção aquela canção que agora tinha uma voz a acompanhando transbordando emoções, Julie Molina era como um imã que gerava um corpo magnético ao seu redor para atraí-lo aos seus encantos, ele não possuía controle dos pés, apenas flutuava em sua direção sendo puxado até ela.

Try Hard • JUKE (HIATUS)Onde histórias criam vida. Descubra agora