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CHRISTOPHER

Acordei com um celular tocando escandalosamente e me surpreendi ao ver que era tio Fernando quem me ligava. Senti um aperto no peito e rapidamente olhei para Dulce, perfeitamente aninhada em meu peito.

Coloquei o celular no silencioso e, tomando cuidado para não acordá-la, consegui sair da cama. Sem meu corpo para abraçar, Dulce agarrou meu travesseiro, enfiando o rosto nele, deixando seus cabelos vermelhos espalhados no colchão, o lençol tinha escorregado até seu quadril, deixando as costas nua exposta. A imagem era tão linda, que ignorei a ligação do meu tio e tirei uma foto dela.

Quando Fernando começou a ligar outra vez, vesti minha cueca apressadamente e fui para a pequena varanda que tinha ali, tomando o cuidado de fechar a porta atrás de mim, para não acordá-la com o barulho.

— Oi, tio! — disse, tentando disfarçar a sonolência em minha voz.

Christopher, por que não atendeu logo?

— Estava tomando banho. Saí correndo para não acordar Dulce — menti.

Ela ainda está dormindo? Que horas são aí?

— Oito e meia. Dormimos tarde ontem assistindo a uma série — menti outra vez.

Essa pandemia não poderia ter acontecido em época pior — disse nervoso — Estou até imaginando o quanto ela vai ficar preguiçosa quando chegar aqui. Para estudar medicina, ela vai precisar se dedicar aos estudos.

— Pensei que Dulce queria estudar pedagogia — disse confuso. Desde pequena, sempre disse que seu sonho era ser professora.

Ela não sabe o que quer — suspirou longamente — Mas a verdade é que liguei para dizer que as coisas estão mais calmas aqui no Brasil e os voos internacionais já vão começar a serem liberados ainda essa semana.

Senti um aperto no peito ainda mais forte, meu corpo automaticamente se virou na direção da porta e meus olhos se fixaram nela, que ainda dormia tranquilamente na cama. Dulce ia embora? Eu não estava preparado para isso.

— Pensa que é mesmo seguro levá-la de volta, tio? Aqui estamos completamente isolados, Dulce está um ambiente seguro, esse vírus ainda é perigoso e não existe a vacina ainda...

Sei que você está preocupado, Ucker, mas já está na hora dela voltar para casa. Já está a mais de quatro meses aí com você e não quero que ela fique desleixada com os estudos, aqui posso controlar melhor.

Controlá-la completamente ele quis dizer. Cerrei o punho de irritação em pensar que ela voltaria para vida de antes, com ele controlando todos os seus passos, mensagens e vida.

— Entendo, tio.

Se os voos forem realmente liberados essa semana, vou comprar a passagem dela para o mais rápido possível, certo?

Pensa, Christopher! Pensa em alguma coisa.

— E o show?

Que show, Ucker? — perguntou confuso.

— O show que eu ia levá-la. Ele foi adiado para outubro e...

Christopher, não tem condições dela ficar mais dois meses aí. Nem seria bom para ela ir para um show lotado, como você mesmo disse, ainda não temos vacina para isso.

Bufei irritado por não ter mais nenhuma desculpa para tentar mantê-la ali comigo por mais algum tempo.

— Você está certo, tio. É que ela vai ficar tão decepcionada... — em voltar para casa, quis completar.

Em quarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora