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DULCE

— Senhor Fernando, vou pedir que espere lá fora, por favor — Marichelo disse assim que o enfermeiro me colocou na maca. Tinha ligado para durante o caminho e, graças a Deus, ela podia me atender.

— Mas ela é minha filha.

— Sua filha é uma mulher e não uma criança, senhor Fernando. Vamos fazer alguns exames íntimos e tenho certeza de que seria constrangedor para ambos se ficasse — respondeu seriamente.

— Tudo bem, vou esperar lá fora — respirou fundo e me olhou atentamente por alguns segundos — Só me diga que isso não é um aborto espontâneo, porquê... Dulce nunca teve um namorado antes.

— Só posso dizer alguma coisa depois dos exames, senhor.

Meu pai me olhou, esperando que eu dissesse algo, mas não o fiz. Eu ainda estava sentindo dor, por mais que o sangramento já não estivesse como antes e a última coisa que queria, era vê-lo surtar. Marichello abriu a porta e ele saiu sem poder dizer nada.

— Certo, Dulce. Me conte o que está acontecendo.

— Estou tendo um aborto? — perguntei chorosa.

— Querida, esse sangramento não é nada normal e pode indicar um aborto sim, mas realmente preciso fazer alguns exames — assenti, sentindo as lágrimas escorrerem por meu rosto. Por mais que a gravidez não fosse planejada, não queria perder o bebê — Me conte exatamente o que você vem sentindo.

— Dor de cabeça, na lombar... Pensei que fosse estresse — suspirei — Venho me sentindo enjoada nas últimas semanas, perdi completamente meu apetite, até emagreci e estou indo ao banheiro muito mais que o normal. Só hoje percebi o quanto meu ventre está inchado.

— Você não estava tomando o anticoncepcional que eu passei? — Marichello se aproximou de mim, analisando meu rosto atentamente, esticou a pele dos meus olhos para baixo, depois apontou a lanterna para eles.

— A data dele venceu e eu estava nos Estados Unidos, não queria tomar um diferente... Estávamos nos cuidando, mas... Foi só uma vez, pensei que não estava em meu período fértil, não tomei medicamento nenhum depois disso.

— Quanto tempo?

— Três meses, mais ou menos. Essa semana eu estava sentindo muita cólica, hoje a dor estava muito forte.

— Me diga se dói — ela começou a pressionar meu ventre e gritei. A dor era absurda.

— Fez algum exame de gravidez? — neguei e ela me repreendeu com o olhar.

— Você conheceu meu pai, ele já não me deixa sair em dias normais, imagina agora... Não tinha como eu pedir um teste por telefone.

— Menstruou normalmente?

— Não exatamente. No primeiro mês meu fluxo veio muito pouco, mês passado não veio... Eu já estava desconfiando, mas sei o que estresse também interfere nisso.

— Dulce, você estava sentindo dores nas suas relações sexuais?

— Não sei se dor é palavra certa. Um incômodo no começo, mas o Chris... — desviei os olhos, sentindo minhas bochechas corarem — Ele é grande e... Não estava muito acostumada. Mas eu sentia prazer, mesmo ficando um pouco dolorida no dia seguinte, mas nada de mais.

— Entendo. Vou fazer uma ultra em você, certo? — disse, puxando um banco para sentar-se ao meu lado.

— Tia, estou tendo um aborto? — a encarei nos olhos — Pode me dizer, eu vou ser forte.

Em quarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora