DULCE
Cheguei em casa animada por saber que veria Christopher a noite, mas estanquei na porta do meu quarto quando vi meu pai sentado a minha escrivaninha, olhando fixamente a tela do meu notebook. Traguei a saliva, sentindo um gosto amargo na boca.
— Posso saber por que você anda pesquisando sobre apartamentos para alugar próximo a USP? — me encarou seriamente e me recostei na porta, tentando ignorar as batidas irregulares do meu coração. Merda, esqueci de apagar o histórico.
— Christopher pediu minha ajuda, disse que os bairros próximos à faculdade eram mais baratos.
— Suponho que seja para ele que está pesquisando preços de moveis e decoração também?
— Para quem mais seria, pai? — retruquei, tentando disfarçar meu nervosismo — O senhor está pensando em me dá um apartamento, por acaso?
— Não seja irônica comigo, Maria! — esbravejou — Espero realmente que esteja me dizendo a verdade.
— Eu estou — menti firmemente.
— Me entregue seu celular — esticou a mão e rolei os olhos, puxei o celular do bolso e entreguei.
Não estava preocupada em ele achar alguma coisa. Meu namorado gênio da tecnologia criou um aplicativo fake do meu WhatsApp e galeria, onde meu pai só leria as mensagens e veria as fotos que eu quisesse, as outras estavam escondidas e protegidas por senha. Digitar a senha errada uma única vez, apagaria todos os arquivos na mesma hora. Eu não precisava mais ficar acessando um site de nuvem para ver minhas fotos com Christopher, nem ficar apagando todas as mensagens que trocávamos.
— Posso ir ao cinema com Christopher mais tarde? — perguntei, colocando minha mochila em cima da cama e tirando meu tênis.
— Sabe, minha mãe e Alexandra estão certas em dizer que você não tem mais idade para ficar agarrada no Christopher para cima e para baixo — sentei na cama, encarando-o confusa. Meu pai nunca tinha demonstrado resistência em meu relacionamento com Christopher, sempre fez muito gosto da nossa amizade — Ele não é mais um garoto, é um homem. Por que pensa que está alugando um canto para ele? Para ter mais liberdade com as mulheres e você vai acabar atrapalhando se ficar pedindo para ele bancar a babá sempre.
— Christopher não precisa bancar a babá, já tenho dezenove anos — rebati irritada — Além disso, foi ele quem me convidou. Se não me quisesse com ele, não chamaria.
— Minha resposta continua sendo não, você precisa estudar e se dedicar mais a faculdade.
— Hoje é sábado.
— E você teve aula, então tem assuntos novos a estudar — colocou o celular em cima da escrivaninha — Além disso, vi Christopher a menos de uma hora e estava com uma loira muito bonita. Pelo jeito que estavam sorrindo, tenho certeza de que ele mesmo vai cancelar o passeio com a prima para fazer algo mais interessante — deu de ombros.
Traguei a saliva com sua resposta, mas mantive minha expressão neutra até que saísse do quarto. Christopher estava com outra mulher? Nos falamos durante minha aula e ele disse que precisaria sair com a mãe.
Sei que tinha que confiar em meu namorado, que já tinha demonstrado de todas as formas o quanto me amava, mas namorar escondido era algo difícil e nossa diferença de idade ainda me deixava um pouco insegura. Ele era um homem, com uma carreira estável que estava namorando uma mulher recém saída da adolescência e que nem tinha começado a faculdade que queria ainda.
Tomei um banho demorado, vesti uma calcinha e a blusa dele que eu tinha roubado, e me deitei na cama, querendo dormir e esquecer um pouco essa insegurança e esses sentimentos confusos dentro de mim.
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Em quarentena
Fanfiction+18| FINALIZADA | Era para ser apenas uma viagem em comemoração a formatura e aos dezoito anos. Dulce passou meses planejando tudo o que faria durante as duas semanas em que ficaria na cidade e noites sem dormir tamanha a ansiedade de rever Christo...