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CHRISTOPHER

Meu coração se apertava a cada segundo que Dulce passava dentro daquele quarto. Fiquei andando de um lado para o outro no corredor por um bom tempo, antes de sentar no chão e me recostar na parede. Queria estar ao lado dela, segurando sua mão, mas sei que não vou poder proteger Dulce de tudo a vida inteira, tem coisas que precisamos fazer sozinhos e isso era algo que ela ainda estava aprendendo.

Tentando me distrair um pouco, entrei no Instagram e vi que minhas notificações estavam bombando graças a foto que ela tinha postado comigo e me marcado. Seus amigos estavam enlouquecidos nos comentários, principalmente o trio dos meus pesadelos. Quando Dulce se juntava com Anahí, Maite e Fernanda, minha cabeça ficava perto de explodir com as traquinagens. Agora estou namorado uma das malucas do quarteto. A vida é cheia de ironias mesmo.

Quando a porta abriu, quase duas horas depois, me levantei em um pulo ao ver seu rosto úmido. Dulce me olhou fixamente por alguns segundos e apenas abri meus braços, para recebê-la em um abraço apertado. Blanca estava parada na porta do quarto e seus olhos brilhavam ao nos ver, não sei o que tinha acontecido lá dentro, mas as duas estavam com expressões serenas, então imagino que algo de bom tenha saído desse pesadelo.

— Minha mãe quer nos levar a um lugar — Dulce enxugou o rosto ao se afastar — Podemos ir com ela?

— É você quem decide, amor.

— Então vamos com ela — sorriu levemente.

Blanca me cumprimentou com um abraço rápido quando Dulce saiu dos meus braços. Era um pouco estranho estar na presença dela, principalmente por todas as coisas que já tinha ouvido a seu respeito pela boca de minha mãe, vó e Fernando, mas a essa altura do campeonato, não podia confiar em nada que eles dissessem.

Quando entramos no Uber, Dulce me contou resumidamente a conversa que teve com sua mãe, que estava no banco da frente. Minha vontade era voltar no tempo e ter batido muito mais em Fernando por tudo que ele tinha feito com Blanca e por tê-las separado daquela forma. Me senti péssimo por saber que o tratamento de minha vó e minha mãe a respeito de Dulce fosse por um motivo tão preconceituoso como esse e me senti ainda pior por fazer parte disso por alguns anos.

A verdade, é que fui ensinado a tratar os empregados da mesma forma que elas tratavam. Foi Dulce quem mudou isso em mim. Aos dezoito anos, fui pego de surpresa quando Dulce inocentemente me perguntou por que eu tinha tratado tão mal um funcionário do MC Donalds se a única diferença entre nós dois era o dinheiro e o emprego. Levei uma lição de moral de uma criança de onze anos que carreguei para minha vida.

Me distraí dos meus pensamentos quando vi o carro entrar em um condomínio em Jardins após Blanca entregar a identidade ao porteiro. Meu coração se apertou. Será que ia chamar Dulce para morar com ela? Sei que Dulce era nova e nosso relacionamento estava caminhando rapidamente, mas eu realmente estava empolgado com a ideia de começar nossa vida juntos.

O carro estacionou em frente a um sobrado e soltamos. Blanca parou em frente ao passeio e observou nossas expressões, acredito que a minha estivesse angustiada, mas a de Dulce era confusa.

— Onde estamos, mãe?

— Na sua casa — Dulce arregalou os olhos e me encarou confusa, apenas balancei a cabeça, já que também não tinha entendido — Vamos entrar.

A casa estava vazia, com exceção da cozinha montada, do closet e dos guarda-roupas embutidos nos outros quartos. Não era nenhuma mansão, mas uma casa bastante espaçosa. No andar de baixo tinha uma enorme sala, cozinha americana, um quarto com suíte e um lavabo, no andar de cima ficavam mais três suítes, uma dela com closet e uma sacada.

Em quarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora