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CHRISTOPHER

Ver Dulce correr em direção ao portão partiu meu coração ainda mais, não queria deixá-la ir. Queria poder correr atrás dela, abraçá-la e mantê-la em meus braços para sempre, mas não podia fazer isso. Fernando nunca aceitaria nosso namoro, nossa família jamais aceitaria isso e por mais que amasse Dulce, também os amava, não quero ter que cortar relações com nenhum deles.

Me aproximei de uma parede de vidro, onde era possível ver a pista de pouso e fiquei observando até seu avião decolar. Porque as coisas não podiam ser mais fáceis? Não era justo eu amar alguém que nunca poderia ser meu.

Voltei para casa perdido em pensamentos, me sentia claustrofóbico e não era por causa da máscara que eu usava. Nem sei se adiantava alguma coisa continuar usando-a, já que Dulce a arrancou quando me beijou, mas não me importava. Aquele tinha sido nosso último beijo, nunca mais voltaríamos a ficar juntos e tudo não passaria de uma doce lembrança. Um segredo só nosso.

Pensar que Dulce deixaria de me amar em algum momento, era algo doloroso, mas sei que era o correto. Não era justo que ela levasse esse sentimento sempre dentro de si. Meu maior desejo sempre foi vê-la feliz, então esperava que ela encontrasse alguém que pudesse amá-la por completo e que a fizesse feliz.

Queria ver Dulce realizando todos os seus sonhos, tornando-se professora infantil, se apaixonando por um homem bom, casando-se em uma cerimônia simples no campo, criando uma família. Se ela permitisse, eu estaria ao seu lado em todas as conquistas, amando-a em segredo, porque sei que esse sentimento nunca vai sair de mim.

DULCE

Meu pai estava com tanta pressa para que eu voltasse para casa e comprou passagem para o primeiro voo liberado. O tempo de uma viagem normal já era absurdamente longo, treze horas dentro de um avião era um tormento, mas com as escalas que esse voo tinha, o tempo foi estendido para quase vinte horas.

Fizemos paradas em dois aeroportos diferentes, eu nem sei em que cidade ou país foram, porque estava entretida demais no aperto do meu peito. Quando anunciavam as paradas, eu pegava minha mala de mão e saia arrastando-a até a sala que indicavam, então me sentava e esperava, sem prestar atenção em nada. Não consegui dormir nada durante a viagem e pousei em São Paulo às nove da manhã. Eu estava a mais de vinte quatro horas sem dormir, sentia-me completamente exausta física e mentalmente.

Quando saí do portão de desembarque, meu pai me aguardava com um enorme sorriso. Tudo o que consegui fazer foi forçar um sorriso sem graça e empurrar o carrinho até ele. Deixei que me abraçasse, mas praticamente não retribuí. Eu sempre pensei que meu pai me amava e só agia daquele jeito para cuidar de mim e me proteger, mas já não conseguia pensar como antes. Não conseguia aceitar esse amor que me torna sua prisioneira.

— Estava com saudades, minha filha — beijou minha testa — Por que está com essa cara?

— Estou cansada — dei de ombros — Não consegui dormir no avião. Preciso ir para casa e dormir, minha cabeça está explodindo.

Meu pai não insistiu em conversar e agradeci por isso. Fomos para o estacionamento e entrei no carro enquanto ele guardava minhas malas.

— Quando chegarmos em casa, tenho uma surpresa para você!

— Que surpresa? — o olhei desanimada.

— Se eu contar, não vai mais ser surpresa.

Suspirei longamente, recostando minha cabeça contra o encosto do banco e fechando os olhos. Uma surpresa vinda dele nunca era nada positivo para mim, muito pelo contrário. Quando saímos do aeroporto, passei a observar a cidade através da janela do carro, lembrando-me de tantos momentos bons que passei ali com Christopher, antes de amá-lo dessa forma. Como eu iria esquecê-lo se não consigo parar de pensar nele?

Em quarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora