PRÓLOGO

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DULCE

Parei na porta do meu closet quando vi meu pai debruçado em uma das gavetas de roupas, levantando minhas calças de pijamas enquanto verificava se tinha algo escondido.

— Procurando por algo, papai? — perguntei ironicamente, sobressaltando-o.

— Apenas tendo a certeza de que não está me escondendo nada, Dulce — respondeu secamente, levantando-se.

— Não sei por que você insiste em fazer isso, até parece que eu esconderia algo aqui, sabendo que você mexe tudo — rolei os olhos e voltei para meu quarto, jogando-me na cama.

— Estou apenas cuidando de você e sabe disso — disse, parando em minha frente — Cadê seu celular? — estendeu a mão em minha direção.

— Pai, vou fazer dezoito anos, não acredita que já passou da hora de ficar olhando meu celular?

— Enquanto for sustentada por mim e morar em minha casa, vai viver com as minhas regras — respondeu friamente, mantendo a mão esticada — Se não vai se comportar, vou repensar sobre a viagem.

Traguei a saliva e peguei o celular em minha mochila, entregando a ele. Já estava cansada de viver sob seu controle, mas o que posso fazer? Ainda não sou maior de idade e mesmo que fosse, como vou sair de casa sem um trabalho e sem ter onde morar?

— Quem são essas pessoas que estão solicitando amizade em seu Instagram? Tem muitos meninos por aqui.

— Não sei quem são, não aceitei ninguém — até porque aquele perfil é exclusivo para algumas pessoas da minha família e ele. Não que ele saiba do perfil secreto que tenho para meus amigos.

— Está marcando de fazer um trabalho na casa de Anahí sem falar nada comigo? — rolei os olhos. Com certeza estava lendo minhas mensagens no WhatsApp.

— Ia pedir autorização ao senhor. Os pais dela vão estar em casa. Posso ir?

— Pode, mas o motorista vai levar e buscar você — respondeu sem me olhar — Dulce, que foto é essa? — perguntou horrorizado e me mostrou o celular. A foto não tinha nada de mais, eu apenas estava em frente ao espelho usando um biquíni preto — Para quem mandou essa foto?

— Para ninguém, pai. Estou apenas tentando ver alguma diferença no meu corpo desde que comecei a malhar. Tiro uma foto dessa por semana, para quem eu mandaria essa foto? Você nem me deixa chegar perto de um garoto.

— Espero que esteja falando a verdade, Maria. Se eu souber que está fazendo alguma coisa imoral... — bufei irritada. Já conhecia essa ameaça à anos.

— Não vai olhar o computador também, papai? — perguntei ironicamente ao vê-lo bloquear meu celular.

— Já olhei, querida — respondeu no mesmo tom — Sabe que odeio quando fala assim comigo.

— Sabe que odeio quando invade minha privacidade.

— O que é isso? — apontou para o envelope ao lado da minha mochila, ignorando o que eu disse.

— Carta da minha mãe.

— Essa mulher ainda manda esses cartões postais? — rolou os olhos, pegando o envelope e abrindo-o sem minha autorização — Olha só, está na Jamaica dessa vez. Me surpreendo que ainda não tenha torrado todo o dinheiro que tirou de mim no divórcio — resmungou, jogando o cartão em minha cama outra vez.

— Você precisa assinar a autorização do passeio — disse querendo mudar o assunto e o entreguei um ofício que a escola mandou — Preciso entregar isso até amanhã.

Em quarentenaOnde histórias criam vida. Descubra agora