DULCE
A cirurgia menos invasiva e mais fácil de ser feita, envolvia retirar o mioma por minha vagina. Não tinha necessidades de cortes, eu não precisaria nem mesmo ficar mais de um dia internada no hospital, foi assim que Marichello convenceu meu pai a autorizar, mesmo eu sendo supostamente virgem.
É difícil dizer que essa cirurgia acabou aparecendo na melhor hora para mim. Tendo que ficar em repouso quase absoluto por duas semanas e passar pelo período de resguardo por causa dos pontos, meu pai parou de me inscrever em seminários e de me obrigar a ir para casa de minha vó aos domingos. Por sinal, sei que a briga entre os três foi feia, porque ouvi meu pai gritando no telefone com Alexandra, fazendo questão de jogar em sua cara que eu nunca estive grávida e tinha todos os exames para comprovar isso.
Christopher tinha parado de me procurar diretamente, mas sei que falava com meu pai quase todos os dias para saber de mim. Me enviou uma mensagem desejando melhoras depois da cirurgia, me ligou no dia do meu aniversário, uma mensagem no natal e ano novo, depois mais nada. Eu sempre soube que em algum momento ele pararia e tentaria seguir sua vida normalmente, tinha pedido por isso inúmeras vezes. Por mais que me doesse não tê-lo mais presente, me doía muito mais vê-lo me procurar diariamente apenas para ser meu amigo.
Dois mil e vinte um chegou com uma grande novidade, a vacina contra a Covid-19 já estava disponível para todos. Infelizmente, isso significava que eu não escaparia da faculdade por muito mais tempo.
— Alô? — perguntei confusa ao atender uma ligação de Christopher.
— Dul? — meu coração saltou dentro do peito só de ouvir sua voz.
— Oi... Aconteceu alguma coisa?
— Na verdade, não... Só preciso saber de uma coisa.
— O quê?
— Você ainda me ama?
Franzi o cenho e olhei fixamente para uma foto nossa em cima da minha escrivaninha. A última vez que me ligou foi no meu aniversário, há um mês e agora me liga com uma pergunta dessas?
— Porque isso agora?
— Só me responda, por favor.
— Nunca vou deixar de amor você — respondi sincera — Independente de qualquer coisa, você sempre vai ser parte de mim.
— Ainda me ama como homem ou isso já passou?
— Vou mesmo precisar repetir? — o ouvi rir baixo e mordi o lábio. Sentia falta dele — Porque isso agora?
— Apenas precisava saber... Vou te deixar em paz agora, desculpa.
— Chris? — chamei antes que desligasse.
— Sim, pequena? — céus, fazia tanto tempo que não ouvia esse apelido. Foi impossível não me derreter inteira por ele.
— Qual seria a sua resposta para essa pergunta? — perguntei receosa.
— Amar você é algo que nunca deixarei de fazer, Dulce — sorri largamente — Agora preciso ir. Até mais.
Christopher desligou antes que eu respondesse e continuei encarado nossa foto, sentindo-me completamente confusa.
CHRISTOPHER
— Christopher? — perguntou surpresa.
— Oi, Liz — sorri levemente.
— Meu Deus, menino! Dulce sabe que está aqui?
— Não sabe, vim de surpresa.
— Dulce vai ficar tão feliz em te ver, ultimamente anda tão deprimida, menino. Quase não come, passa a maior parte do tempo deitada naquela cama e sempre acorda com os olhos inchados por passar a noite chorando.
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Em quarentena
Fanfiction+18| FINALIZADA | Era para ser apenas uma viagem em comemoração a formatura e aos dezoito anos. Dulce passou meses planejando tudo o que faria durante as duas semanas em que ficaria na cidade e noites sem dormir tamanha a ansiedade de rever Christo...