⚢ Não Se Apaixone Por Ela ⚢ [Completo]

Capítulo 5 - Uma Agulha, Dois Palheiros

MARÇO

     Há quase um mês, Marcela terminou um desenho. Não foi simples, demorou duas semanas de trabalho e determinação. Precisou descartar muitos rascunhos e observar Daiana discretamente enquanto Lucas a fazia sorrir com veracidade e a deixava sem graça com cantadas baratas. Ela ainda nem contou a Lucas que voltou a desenhar, está aceitando dar um passo de cada vez e só quer se preocupar em não deixar as lágrimas pingarem no papel. Além disso, Lucas também fez um desenho para Daiana. Foi um personagem de anime, que descobriu que Daiana é fã. Ele depois a chamou para sair de uma forma fofa e parece realmente interessado em impressionar a garota nova.

Marcela está de pé na porta da sala de música da escola enquanto escuta a aula deles e inveja a capacidade que têm de provocar esse som magnífico. O papel branco está dobrado em sua mão direita e ela espera que Daiana não demore muito a sair porque é quarta e Marcela quer falar com Giulia. Tenta olhar dentro da sala pela janela de vidro coberta por cortinas azuis e escuras, mas não consegue.

Quando terminou o desenho, não teve coragem de entregá-lo, ainda mais vendo Daiana cada vez mais sendo bajulada. Mas, hoje, está pronta. Espera que a outra o aceite e a deixe se aproximar de novo.

Desde a conversa com seu irmão, Marcela a vê de forma diferente. Ela quer saber mais da garota que em pouco tempo virou a mais popular do colégio e saber o que Daiana viu nela para desenhá-la no primeiro dia de aula e depois pintá-la de forma tão delicada e atenciosa.

Foi uma luta grande fazer Lucas aceitar não esperar Daiana depois da aula de música. Eles já estão se enrolando e a aposta entre ele e Sérgio parece muito perto de ter um vencedor. Para que o melhor amigo fosse embora, Marcela precisou envolver uma mensagem de Giulia falando que queria uma chamada por vídeo com ele, urgente. Marcela contou para a amiga presa no convento sobre o desenho que fez, Giulia não está mais tão animada de estar naquele lugar como antes, como Marcela esperava, e tentou animar a amiga com a novidade.

Marcela sente uma ponta de culpa por não contar que voltou a desenhar para Lucas primeiro, mas ele está tão entretido em conquistar Daiana e mais quatro outras garotas ao mesmo tempo que nem prestaria tanta atenção assim, pelo menos é dessa forma que Marcela pensa.

Os instrumentos param de largar suas notas no ar, assim como a voz de Daiana. Marcela respira fundo e observa as pessoas saírem pela porta branca enquanto permanecesse encostada na parede amarela do lado. Só quinze alunos fazem essa extensão e, quando mais da metade já saiu, Daiana aparece.

Uma jaqueta preta cobre seus braços e, não veste nada vinho hoje. Marcela já a tinha visto durante as aulas, mas, é como se fosse a primeira vez. A garota negra tem os cabelos longos presos no alto da cabeça e o violão pendurado no ombro direito enquanto sorri como se nada no mundo pudesse atingi-la ou não se importasse caso atingisse. Marcela sente seu coração batendo na garganta antes de chamar por seu nome e Daiana parar de sorrir ao vê-la. O delineador azul marinho sobre os olhos é alinhado entre e Daiana ergue uma das sobrancelhas.

— Lucas me falou que precisava falar com a Giulia, mas não me disse que mandaria outra pessoa no lugar.

Marcela abaixa a cabeça antes de estender o desenho. Daiana encara o gesto por alguns segundos e engole em seco.

— Abre quando estiver sozinha — pede Marcela. — E não fala pra ninguém que fui eu que te deu. — Marcela coça a garganta e levanta a cabeça, se encaixando dentro dos olhos castanhos que Daiana, que parecem prontos para engoli-la. — E desculpa pelo outro dia, de verdade, eu não deveria ter gritado com você.

Elas se encaram por mais alguns segundos antes da garota mais alta suspirar e pegar o papel. Daiana fala:

— Lucas me explicou a situação de Giulia, desculpa ter me intrometido daquele jeito sem conhecer vocês. — Olha para o papel em sua mão de unhas pintadas. É claro que algo seria vinho. — Obrigada, Marcela. — Sorri antes de dar as costas e caminhar em direção à saída da escola.