Pelo menos as férias chegaram. Marcela repete como se fosse amenizar todas as coisas ruins do começo de 2016. Pelo menos Carlos está aqui. E fugir do fato de que Lucas não fala mais com ela, mesmo que ocupem o mesmo espaço. Pelo menos a Giulia voltou. E minera sua vida atual em busca de coisas positivas que superem Daiana ter desaparecido de todas as redes sociais e da vida dela sem deixar um rastro sequer. Marcela não lembra de respirar fundo. Pelo menos as férias chegaram. Recomeça.
É terça, as últimas provas não foram um bicho de sete cabeças e Marcela está sentada em um dos bancos de concreto perto da pista de skate ao lado de Giulia.
Nenhuma das duas se viraria bem se subisse em cima de um skate, no entanto. Não vou subir nessa prancha de surf com rodas, Marcela sempre respondia quando Lucas insistia que ela tentasse andar. Ao contrário de muita gente, Marcela já foi uma surfista razoável, mas esqueceu tudo
Giulia está com uma lata de refrigerante vermelha na mão direita e Marcela se pergunta como seus dedos não congelaram ainda. Pragueja-se por ter aceitado o convite da melhor amiga para sair de casa, mas desde quinta não se viam para conversar sobre tudo o que aconteceu enquanto estavam longe.
No ano passado, quando Giulia chegou em São Paulo, ela dizia que ia até a pista de skate para caçar. Agora Marcela não consegue imaginar um motivo para estarem aqui. Ela não gosta de... mulheres? Giulia se recusa a contar mais sobre isso sem que Marcela esclareça o que aconteceu entre ela e Lucas.
— Por que não me disse que beijou o Igor? — pergunta Giulia, com seus cabelos vermelhos sendo amaçados por uma touca preta e a ponta do nariz avermelhada.
— Seria difícil explicar por telefone — argumenta Marcela e depois respira fundo. — Não sei o que estamos fazendo aqui. — Solta fumaça por seus lábios enquanto fala —, olha esse frio. Vamos lá pra casa?
Não é só do frio. Desde que parou de falar com Lucas, evita esse lugar, afinal, não tem o que fazer aqui. O garoto boné vermelho e blusa de frio fina faz manobras em sua prancha de surf com rodas enquanto ignora as duas. Sérgio não veio porque não tem tanto amor por manobras de skate quanto tem por seu travesseiro e cobertas no inverno paulista.
— Quer dizer... — Marcela olha para garota com máscara de cílios em excesso. — Você não caça mais garotos.
Marcela espera por respostas e semicerra os olhos quando a amiga solta uma gargalhada tão alta que seu pescoço gordo é lançado para trás. Quando Giulia consegue controlar sua reação, fala:
— Não, eu não caço mais garotos. — Bebe um pouco do seu refrigerante. —, mas porque estou namorando. — O rosto de Marcela não poderia com uma careta pior. — Ma, eu gosto de garotas E de garotos.
— Que? — Marcela solta um sussurro e Giulia quase cuspe o refrigerante que colocou na boca. — Você é maluca.
— Maluca é você. — Giulia estremece com um vento mais forte. — Parece até a Jaqueline falando.
— Sua namorada?
— Não! — Faz uma careta. — Credo, eu tenho bom gosto. Jaqueline é uma das garotas que conheci lá no convento também, mas ela tem certeza que vou pro inferno. Pelo menos guardou segredo, é o que importa e eu não acredito nessa baboseira de céu e inferno, você sabe.
Ela sempre se pergunta como Giulia consegue ser contra tudo o que os pais acreditam. Marcela é protestante, mas não só porque cresceu assim, ela se sente confortável dessa maneira. Todos com quem ela aprendeu as coisas mais básicas acreditam em um Deus e no conceito de céu e inferno, parece estranho para Marcela desacreditar.
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⚢ Não Se Apaixone Por Ela ⚢ [Completo]
Ficção AdolescenteDestaque no perfil oficial de YA na estante de "Drama"; Destaque no perfil oficial de Romance na estante de "Amor Jovem" e "Toda forma de amor"; e Destaque no perfil oficial de LGBTQ em "Amor Lésbico". Marcela fez planos para o primeiro ano do ensin...