Marcela quer que Giulia vá embora. Ela sabe que isso é horrível, mas tem alguma coisa muito estranha com a sua melhor amiga.
É claro que uma guerra foi declarada entre Giulia e seus pais. Ela usa sua cartada de ter sido colocada em um convento atoa, que eles são tóxicos um com o outro e não deveriam reatar o casamento e os pais argumentam que ela é uma perdida, pecadora, e namorar com uma garota havia passado de todos os limites. Essa discussão não está nem perto de acabar.
Os pais dela sabem que Giulia está na casa da Marcela, porque Bianca e Roberto conversaram com eles, mas a história da filha "ter virado lésbica" não foi compartilhada e tampouco as duas amigas falaram sobre isso com os pais de Marcela. Isso parece uma cova rasa que quanto mais pessoas sabem, mais rápido Giulia será enterrada.
— Eu terminei com ela por causa dos meus pais — Giulia argumenta.
Marcela ficou surpresa mesmo foi quando Giulia deu um chute na bunda de Camila um dia depois do encontro com o seu pai. É óbvio para Marcela que esse não foi o motivo porque que se fosse, Giulia nunca iria admitir.
Não que Marcela ache o término ruim, porque nunca foi fã de Camila, mas foi estranho. A amiga que conhece nunca deixaria de fazer algo só porque os pais desaprovam. Afinal, eles desaprovam álcool e ela bebe escondido. Brigam quando Giulia volta tarde e ela nem liga. Mandaram a filha voltar para casa ontem e ela continua aqui, no quarto de Marcela. Tem algo de muito errado no término de Giulia e Camila.
Marcela cria teorias e elas são ótimas porque a impedem pensar sobre como Lucas e Daiana ficam realmente bonitos juntos. E os pais de Marcela amam Daiana, os de Lucas também. Daiana é realmente uma cobra manipuladora, com o sorriso de dentes perfeitos e o cabelo liso de corte ridiculamente reto, com notas altas e boa nas artes. É a garota perfeita, pena que só por fora.
— Você tá me ouvindo? — Giulia exige saber, Marcela toma um susto e se ajeita na cama na qual está deitada. Arregala os olhos para a menina em pé.
— Com certeza teria mais dificuldade de te ouvir se você falasse mais baixo — responde, mais mal-humorada que uma velha de setenta anos, presa em um asilo e depois de perder no baralho.
Um silêncio se estabelece no local enquanto Giulia a fuzila com os olhos. Marcela cogita que a melhor amiga a ache péssima pela falta de apoio moral nessa situação delicada, mas a verdade é que não para de pensar em suas teorias. Giulia está escondendo um pedaço importante da história.
— Tinha lugar pro Jack na porta — sussurra Marcela, e Giulia faz uma careta. — Na porta que ele colocou a Rose depois que o Titanic afundou. — Giulia ergue as sobrancelhas pintadas e acha que Marcela está doente. Marcela se levanta de sua cama. — Eu quero dizer, Giulia, que você não terminou com Camila porque o Titanic afundou. Eu já entendi isso. Mas então por que não subiu na porta?
— Do que você está falando? E de onde saiu essa história? — Os olhos esverdeados de Giulia estão arregalados. Ela espera por uma resposta, mas Marcela fica muda. — O que, Marcela? Agora vai se fazer de esfinge? Qual o prêmio se eu desvendo o enigma?
Marcela não conteve o riso pela piada da outra. Sempre. Sempre nos momentos mais inesperados e tensos, Giulia fez uma piada. Ela aponta para Giulia.
— Pintou seu cabelo de rosa.
Giulia faz cara de espanto.
— Meu Deus, como você descobriu?
— Foi quando que se viram depois do convento. Eu te conheço, Giu, você só pinta o cabelo quando está triste — argumenta e a Giulia perde o sorriso. — O vermelho era incrível e você não queria mudar antes de ver a Camila. Por que pintou?
Marcela massageia o chão com os dedos dos pés cobertos por meias brancas.
— Por que pintou o cabelo?
— Porque eu quis.
— Giulia Mondini, você estava superando seu relacionamento antes de terminar? — Provoca e semicerra os olhos. Giulia cruza os braços e revira os olhos — Qual foi, somos amigas ou não somos? — Marcela jogou sujo.
Giulia passa por Marcela e se senta na cama. Cruza as pernas, balança a cabeça negativamente com força e Marcela apenas a observa preocupada. Não entende. Por que Giulia apenas não conta a verdade? Afinal, é óbvio, e tudo já havia terminado mesmo. Marcela desiste depois de muitos minutos de silêncio e caminha até a parte de fora do quarto, em direção ao banheiro da casa.
É o único cômodo com silêncio. Um dos bons, não tensos e com amigas que não confiam em você tanto assim. Ela se senta no vaso tampado e encara a si mesma no espelho enorme da pia. Seu cabelo cresceu bastante e a pele tem menos espinhas. Marcela está pensando na conversa com Carlos. Ser uma pessoa independente não parece tão legal assim desde que descobriu ser uma. Ela gostava de ser a garota mediana e chata, apenas a melhor amiga de Lucas.
Não gosta muito de pensar no Lucas. Eles se afastaram desde que ele começou a namorar com Daiana, foi algo natural. Marcela que evitar estar perto de Daiana o máximo que pode e os dois namorados vivem grudados como se fosse dois chicletes. Lucas parece feliz, pelo menos, e isso é o que importa. Não é? Não. Marcela ainda está preocupada. Daiana ainda a olha de um jeito incisivo sempre que tem a oportunidade e ela odeia esse olhar que diz muito e nada ao mesmo tempo. Na quinta-feira, quando Lucas chegou para o RGP, Daiana veio junto e foi terrível. Marcela realmente sente repúdio por Daiana. Vê-la agindo como se tudo aquilo no ponto de ônibus perto da casa de Lucas nunca tivesse acontecido a deixa enojada de verdade. Não existe nada plausível para o que Daiana fez e Marcela cansou de procurar explicações. Assim, ela se ocupa com o problema da vida dos outros, já que os seus embrulham o seu estômago.
É interessante porque Marcela sempre achou que odiasse Thais, mas descobriu que não gostar dela sempre foi por motivos bem infantis e que não a fazia realmente se sentir péssima quando Thais estava por perto. Era mais ciúmes de Carlos cobrindo seus olhos do que qualquer outra coisa, mas com Daiana é diferente. Marcela não tem ciúmes de Lucas, ela tem medo por ele. Porque Lucas não faz ideia do bueiro onde está enfiando a sua boca e Marcela não faz ideia de como contar isso sem destruir sua amizade.
Seu celular vibra no bolso da calça de moletom e Marcela o pega. Não é possível. Seu coração acelera, parece que a pessoa escutou os seus pensamentos, e só de ler o nome de quem enviou a mensagem, toma um susto. Marcela bate o telefone com tanta força na lateral do vaso que é obrigada a se certificar que não quebrou a tela.
Ela choraminga sozinha, olha para os azulejos branco, e depois novamente o aparelho.
Daiana [20:03]: Precisamos conversar. É urgente.
Ela não cansa.
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⚢ Não Se Apaixone Por Ela ⚢ [Completo]
Fiksi RemajaDestaque no perfil oficial de YA na estante de "Drama"; Destaque no perfil oficial de Romance na estante de "Amor Jovem" e "Toda forma de amor"; e Destaque no perfil oficial de LGBTQ em "Amor Lésbico". Marcela fez planos para o primeiro ano do ensin...