Não. Nunca é apenas uma informação errada. Sempre envolve mil outras coisas que você nunca parou para pensar.
Marcela está disposta a entender onde a mentira começou. Quando termina a última aula, ela pega o celular de Sérgio emprestado para avisar à mãe de que irá se atrasar para o almoço de família, é segunda-feira, e ao seu irmão que não vai falar com ele hoje, tem que resolver um problema.
Não só um. Existem muitos problemas para Marcela resolver com Lucas além da meia informação que ele deu a Daiana. Lucas não foi à escola, mas isso não significa que vai conseguir fugir do sermão que Marcela está ensaiando na cabeça.
Ela pega o ônibus na rua da sua escola, não está acostumada a isso, mas nem sente o tempo passar sentada no banco mais alto do veículo. Agradece por ter esquecido o celular em casa para não o xingar por todas as formas possíveis guiada por esse sentimento que não deixa sua perna quieta e apertar as mãos de maneira compulsiva.
A mãe de Sérgio até ofereceu uma carona, mas Marcela sabia que iria explodir se chegasse tão rápido na casa de Lucas. Precisava pensar, esfriar a cabeça, mesmo que agora note que não funcionou.
Desce no ponto mais perto do condomínio e anda com pressa depois de tirar a blusa de frio e amarrá-la na cintura. Não é um dia quente, mas seu sangue está fervendo e suas duas orelhas estão tão quentes que ela leva as mãos mais frias até elas para amenizar.
Anda rápido e quase começa a correr quando vê a entrada do condomínio dele, que não é o mais rico do bairro, mas está entre eles. Lucas é uma das poucas pessoas do colégio que realmente mora em uma casa e isso sempre fez as festas de Igor serem as mais frequentadas por suportarem mais barulho que um apartamento.
Marcela reconhece o rapaz de jaqueta de couro marrom de costas no portão e começa a correr para alcançar Igor. Ele está começando a entrar e encosta a grade branca no momento que ela põe sua mão nele.
— Igor! — Marcela está ofegante e o rapaz de óculos escuros se vira em sua direção. O sol não está forte, mas ela também usaria os seus óculos se tivesse lembrado de trazê-los.
Ele sorri e pede para o porteiro liberar a entrada da garota de pele branca e regata preta. Marcela entra, cumprimenta o senhor que nunca se lembra o nome. Igor começa a andar com sua mochila cinza e velha nas costas e Marcela o acompanha até a casa que fica a mais de sete minutos andando dentro do condomínio.
— Vocês já voltaram a se falar? — pergunta Igor, acendendo um cigarro de palha.
— Você sabe que não estamos nos falando? — pergunta ela, logo trocando para o lado oposto ao do vento, não gosta do cheiro da fumaça e sua mãe a mataria se sonhasse que Marcela esteve fumando.
— Todo mundo sabe — diz Igor, retirando as chaves da casa do bolso direito da sua calça jeans azul-marinho.
Os dois andares da casa de Lucas são pintados de azul-bebê e uma sacada de parapeito branco corre por todo o andar superior, passando pelo quarto dos pais e o de Igor. O quarto de Lucas não tem uma vista bonita, mas tem um banheiro. Aquele banheiro. O carro está estacionado na garagem, isso significa que o pai está em casa, não é a coisa mais comum do mundo. Igor abre espaço para que Marcela entre e depois tranca a porta branca que tem um enfeite de Natal pendurado, mesmo que já sendo junho. Eles também nunca tiram o Papai Noel deitado sobre um tapete de plástico verde simulando uma grama ao lado da porta.
Sobem os cinco degraus de madeira e a outra porta está aberta, Marcela não passa muito tempo na sala de dois grandes sofás brancos e uma estante onde a mãe de Lucas coleciona bonecas de barro feitas à mão e ricas em detalhes, da última vez que ela contou eram vinte e sete, todas com trinta centímetros ou menos e com as mais variadas vestimentas. Sobe as escadas até o segundo andar e, com uma raiva que agora já não está tão intensa, pensa em bater na porta de Lucas.
Ao invés disso, Marcela respira fundo, coloca as mãos na cintura e retira a mochila das costas, colocando-a no chão. Do lado do quarto, a porta do banheiro de uso comum está aberta e ela entra.
Acende a luz, se olha no espelho que ocupa quase toda a parede amarela. Está tão vermelha, nem tinha notado que sua pele arde. Não sabe se se pelo sol, por ter corrido ou pela raiva que todo esse dia a provoca. Joga água em seu rosto e depois o enxuga na toalha azul do lado. Ele continua vermelho demais.
Aproxima-se mais do espelho e passa os dedos de unhas curtas e sem esmalte sobre as pequenas bolinhas que coçam. Ela lava o rosto mais algumas vezes, mas a vermelhidão aumenta porque Marcela não consegue manter as unhas fora do rosto.
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⚢ Não Se Apaixone Por Ela ⚢ [Completo]
Roman pour AdolescentsDestaque no perfil oficial de YA na estante de "Drama"; Destaque no perfil oficial de Romance na estante de "Amor Jovem" e "Toda forma de amor"; e Destaque no perfil oficial de LGBTQ em "Amor Lésbico". Marcela fez planos para o primeiro ano do ensin...