JUNHO
Daiana e Lucas continuam se falando como se nada tivesse acontecido. Sérgio colocou Marcela de novo no grupo dias atrás, mas há quase duas semanas Marcela não troca uma palavra com seu ex-melhor amigo.
Ela odeia isso.
Lucas deixou de seguir Marcela no Instagram e a excluiu do Facebook enquanto ela observava sua amizade indo por água abaixo por causa de um beijo que não respingou, nem minimamente, em Daiana. As suas conversas com Carlos não conseguem aliviar Marcela do choro em todas as ligações. Ela queria ter o poder de voltar atrás.
Daiana deu muitos abraços de apoio em Marcela e se desculpou mil vezes por ter começado aquilo, mas nunca na frente dos outros.
Por mais que Sérgio concorde com Lucas sobre não ter contado logo ter sido errado, também consolou Marcela, ele argumentou que quando o ego de Lucas tiver sido massageado o suficiente, eles vão voltar a se falar.
O maior problema é que Marcela tem cada vez mais certeza de que não foi só um beijo e que Lucas tem. Realmente, se fosse sem importância, ela não teria feito piada com isso?
Marcela está deitada na cama, tudo escuro enquanto ela encara o teto. Não tem sono porque dormiu à tarde para não pensar. Sempre foi mestre em fugir dos próprios pensamentos, mas passa das duas da madrugada e ela está chateada demais para conseguir dormir.
O celular se acende ao seu lado. Sérgio compartilhou um print com ela. Era uma imagem do perfil de Lucas. O garoto que tinha passado gel no cabelo, pela primeira vez, e aparecia ao lado da menina de pele negra retinta. Os dois estavam entretidos em um beijo.
Marcela pressiona o travesseiro com as duas mãos e grita com o rosto apoiado nele. Inveja, talvez esse seja o termo correto. Ela tem inveja dos dois ao mesmo tempo. De Daiana, por estar na presença de Lucas e dele por ter os lábios dela nos seus. E mais, Marcela grita porque está furiosa consigo mesma. Não consegue suportar o que se tornou. O ser humano mais egoísta e nojento de todos, repete.
Abaixo da imagem, Sérgio digitou: ele ganhou a aposta, mas acho que o prêmio tinha que ser seu, porque foi a primeira.
Se aquilo fosse em outra situação, ela teria rido, mas só quer chorar e quebrar alguma coisa. Marcela deseja explodir o mundo porque seu peito está em chamas.
Dorme ali, embebida pela tristeza. No travesseiro molhado por suas lágrimas. Nem percebe, só deixa sua respiração enfurecida cessar após muitos minutos de adrenalina incessante.
Acorda em um pulo, olha para o celular fora do carregador e xinga baixo. Seus olhos estão inchados e Marcela lota seu rosto de base e corretivo antes de sair para ir à escola.
A garota desce em silêncio no elevador do prédio junto com a mãe. Só quando chega na escola, Marcela percebe que esqueceu o celular em casa.
— Você sai meio-dia hoje? — pergunta a mãe porque pretende buscá-la no fim de suas aulas.
— Meio dia e quarenta — corrige. É o horário que sempre sai, mas a mãe nunca se lembra. Marcela desce do carro.
Seus pais pagam uma fortuna para que ela estude ali, ano após ano, assim como fizeram com os outros dois filhos, mas depois de tanto tempo Marcela nem se lembra que existem mais escolas no mundo além da dela. Ela conhece todos os funcionários da Escola Nossa Senhora Desatadora dos Nós, popularmente conhecida como "Senhorinha", e eles a conhecem. Responde o bom dia do senhor Juarez, que controla o acesso dos alunos há mais de quinze anos encosta seu cartão na catraca, sem buscar por seus amigos no pátio principal como faz todos os dias. Sente-se exausta, como se não tivesse dormido nada durante aquela noite. Marcela segura as alças da mochila da mesma cor do casaco, azul turquesa, e caminha apressada até as escadas.
Estranha. Mesmo que não esteja procurando por seu grupo, eles a alcançariam antes que Marcela começasse a subir, mas isso não acontecesse. Ela continua degrau por degrau, com o coração mais pesado que a mochila. Quanto nota, quase passou de sua sala de aula no terceiro andar. Ela caminha sem pressa, chegou no instante que seu sinal bateu e não se preocupa em olhar para trás. Anda até sua cadeira e se senta. Marcela fecha os olhos e encosta a cabeça nos braços cruzados na carteira.
Só a levanta a cabeça quando escuta seu nome, não foi vindo de seus amigos. Olha para trás e encontra Thais a encarando com raiva enquanto mastiga um chiclete como se não fosse sete da manhã. Ela é do terceiro ano, não deveria estar ali. A visão de Marcela ainda está um pouco embaçada, mas ela se assusta quando volta ao normal. Daiana está ao lado da garota de cabelo loiro e coloca sua pasta vinho na última carteira da sala enquanto fuzila Marcela com raiva. Ela se vira para frente rapidamente, como se tivesse levado um choque, e mexe seu olhar levemente para a esquerda, Lucas não está lá. Confusa demais, Marcela busca por Sérgio, que está atrás da cadeira vazia do outro garoto.
— O que tá rolando? — sussurra, encarando o garoto de jaqueta marrom-claro. Sérgio olha rapidamente para Daiana e depois encara Marcela.
— Pensei que você estivesse dormindo. — Sai de seu lugar e caminha agachado até a garota. — Ela ficou sabendo da aposta.
Marcela ousa olhar mais uma vez para trás, mas retorna a Sérgio porque não suporta os olhos de todas as garotas do grupo de Thais do primeiro ano sobre si. A cunhada já saiu da sala, expulsa pelo professor, mas a tensão no ar anuncia guerra.
— Como assim "ficou sabendo"? — Marcela arregala os olhos.
— O Tadeu contou — diz Sérgio. — Mas parece que ela pensa que a aposta foi com você.
Marcela fecha os olhos. Não tem como ela pensar algo desse tipo, tem? Não sem uma pessoa muito específica e com ego ferido. Não sem Lucas ter feito Daiana pensar assim, deduz. Suas mãos estão suando e Marcela sente sua voz tremer quando fala:
— Daiana pensa que eu fiz uma aposta pra ficar com ela?
Sérgio sorri sem graça e Marcela mexe suas narinas na tentativa de respirar fundo, mas isso parece impossível. Ele diz:
— Ela acha que você e o Tadeu apostaram entre si para ficarem com ela.
— E por que você ainda não foi lá explicar que não foi assim?
— Porque não tenho uma história florida pra contar — argumenta. — Teve mesmo uma aposta, isso é o que importa.
— Mas eu não fiz aposta nenhuma! — Marcela se controla para não gritar.
— Marcela, você sabia da aposta. Vai entrar na jaula da leoa pra explicar que não quis matar filhote dela, só atirar? — questiona, começando a voltar ao seu lugar quando o professor passou a falar.
Marcela está tremendo. Entrar naquela roda de garotas furiosas não é a coisa mais inteligente a se fazer, mas ela não fez aposta nenhuma. Como ia explicar isso? E como falar com a cara de pau de assumir que existia sim uma aposta sobre a qual ela não só sabia, mas também apoiou? Merda Lucas, era só calar a porra da boca.
Marcela abre o livro de história que acabou de tirar da mochila. Tem um amargo na boca Lucas não quis cometer o erro que Marcela cometeu, omitindo a aposta, mas também já era tarde demais para voltar atrás. Sempre temos muito em comum, Lucas Tadeu.
VOCÊ ESTÁ LENDO
⚢ Não Se Apaixone Por Ela ⚢ [Completo]
Novela JuvenilDestaque no perfil oficial de YA na estante de "Drama"; Destaque no perfil oficial de Romance na estante de "Amor Jovem" e "Toda forma de amor"; e Destaque no perfil oficial de LGBTQ em "Amor Lésbico". Marcela fez planos para o primeiro ano do ensin...