O meu rabo estava a vibrar. Sentia o dispositivo em todo o meu corpo, algo que podia ser desconfortável, mas, naquele momento em específico, era só irritante. Tinha os binóculos à frente dos meus olhos e estava a tentar ver as duas pessoas que se encontravam a um par de centenas de metros à minha frente. Durante uns segundos, aguentei a vibração no meu traseiro, irritado mas determinado a ignorar o dispositivo e a distração que certamente seria. No entanto, quando o telemóvel parou de vibrar e recomeçou dois segundos depois, suspirei com força. Deixei os binóculos caírem – sabendo que estavam seguros pelo fio que tinha em volta do meu pescoço – e, com a mão direita, agarrei no telemóvel.
Revirei os olhos quando vi duas chamadas perdidas de uma das minhas irmãs mais novas. No entanto, o nome e a fotografia a ocuparem o meu ecrã disseram-me que não podia ser nada de grave. Se o fosse, não seria ela a ligar e por isso, com essa informação na cabeça, ignorei a sua chamada e voltei à tarefa que tinha em mãos.
- Não vais atender? – olhei, pela minha visão periférica, para o meu parceiro. Cabelo loiro, covinhas a marcarem as suas bochechas sorridentes e olhos verdes – Caleb. Naquele momento, ele olhava para mim com a expressão mais curiosa de todo o mundo.
Quem olhasse para ele nunca diria que ele era o polícia mais competente – para não dizer mortífero - que existia na nossa esquadra.
- Não deve ser nada demais. Ela está sempre a ligar-me durante o dia, eu fico alarmado, e depois a chamada foi só para dizer que ela comeu um bolo de chocolate muito bom. – Caleb riu, embora eu estivesse a falar muito a sério.
- E já encontraste alguma coisa? – e apontou com a cabeça na direção das duas pessoas que eu estava a observar pelos binóculos.
- Não. – bufei – Mas eu vou apanhá-los. O meu instinto raramente falha.
- E não achas que pode estar a falhar agora? Quer dizer, estamos a segui-los há umas duas semanas e ainda não os viste a fazer nada. – Caleb limpou a sua garganta e eu revirei os olhos, já sabendo que a sua voz iria suavizar, como se estivesse a falar com uma criança. – Se calhar está na altura de...
- Se fores dizer a palavra desistir... - o meu parceiro encolheu os ombros e deixou-se relaxar na cadeira em que estava sentado. – Eu sei que eles são culpados. Nada do que possas dizer me vai convencer de outra coisa.
Caleb tinha razão, no entanto. Há duas semanas que saíamos da nossa esquadra e íamos para aquele sítio, aquela varanda que nos dava a visão perfeita da janela onde eu suspeitava que o crime acontecia. Eu sabia que ele duvidava de mim, principalmente depois de tantos dias sentado ao meu lado em cadeiras desdobráveis e sem qualquer resultado, mas eu não podia estar errado. Simplesmente não podia. O meu instinto praticamente gritava que aqueles dois homens eram culpados e eu faria de tudo para provar que tinha razão. Nunca mais ninguém duvidaria de mim, depois disso.
- Eu acho só que estás demasiado investido na coisa. Há quanto tempo é que não sais? Te divertes?
- Não fui programado para diversão. – respondi, numa voz exageradamente séria. Caleb gargalhou, sabendo plenamente que eu estava a brincar. – Eu saio.
- Sair à noite com as tuas irmãs mais novas não conta.
- Não conta? Desde quando? – vi-o a revirar os olhos, mas ignorei-o. Voltei a tentar focar a minha atenção naquilo que estava a ver e não em ouvi-lo. Precisava de provas e sentia, com todas as minhas forças, que aquele seria o dia. – Como está a Candy?
- Não mudes o assunto! – não respondi – Está ótima. Acreditas que já faz três anos na próxima semana?
- Está enorme. – assenti, sorrindo, ao falar, pensando na filha daquele que era, para todos os efeitos e propósitos, o meu melhor-amigo. Talvez o meu único amigo, se estivesse a ser rigoroso.
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Contrabalançar
RomanceSteve estava habituado a proteger e a cuidar. Foi ensinado a fazê-lo quando as suas irmãs mais novas nasceram e fez disso trabalho. No entanto, a quase-década como polícia não lhe serviu de muito quando foi confrontado com a verdadeira essência do m...