Nada mudava na minha vida desde que entrara na academia de polícias. Mas, no espaço de um mês, tudo mudou: uma das minhas irmãs mais novas engravidou aos vinte-e-sete anos, ambas saíram do apartamento que era delas desde os dezoito e, por conseguinte, eu mudei de casa. As minhas irmãs voltaram a ter uma relação com os nossos pais e eu deixei de ser o mensageiro entre os quatro. E eu...eu mudei de esquadra, mudei de cidade. A única coisa boa de tudo aquilo era o facto de Caleb ter conseguido a transferência e ter encontrado um apartamento a um ótimo preço no mesmo quarteirão que o das minhas irmãs – que o meu.
Era estranho viver naquela cidade, quando sempre fora um simples viajante a visitar a minha família, mas sempre senti que fosse mais minha casa do que a cidade onde eu vivia. A Mia tinha razão quando dissera que eu vivia demasiado perto dos nossos pais. A necessidade de continuar a ser o mais velho, aquele que era mais sensato e que nunca, nunca escolhia lados tinha falado mais alto que eu durante os últimos anos. Muitas vezes tinha ponderado a transferência para outra cidade, mesmo que continuasse a estar longe das minhas irmãs, mas não sentia que era justo para os nossos pais. Não quando eu me lembrava que, para todos os efeitos, eu tinha sido sempre o filho que nunca se afastara deles. As minhas irmãs tinham aberto as suas asas muito cedo, mas só tiveram oportunidade para eu fazer porque eu fechara as minhas. Demorara quase duas décadas a voltar a abri-las, mas ali estava eu.
- Mia Farrell, se não largares essa caixa em cinco segundos... - avisei, numa voz séria, quando vi a minha irmã a tentar pegar numa das caixas mais pesadas.
- Dá cá isso. – e, antes que eu pudesse fazer alguma coisa, foi Dax que, num único segundo, retirou a caixa dos braços da mais pequena e entrou no apartamento. Mia cruzou os braços e bufou.
- Brutamontes! – Ava riu e abanou a cabeça, dando-lhe um monte de cobertores para ela não se sentir tão inútil. – Eu não sou inválida.
- Não, mas tens um humano a crescer dentro de ti. – apontei, com o polegar, para a zona da sua barriga e soltei um sorriso suave. A ideia de ser tio estava, aos poucos, a assentar dentro da minha cabeça. Estava quase confortável com a ideia, até. – Já pensaste em nomes?
- Bem... - o sorriso dela era inegável, ela estava a pensar em ideias espalhafatosas. A cabeça de Asher apareceu nesse momento, com um dos meus quadros preferidos nas mãos, e olhou-me diretamente nos olhos com a expressão mais cansada de sempre.
- Ela quer chamar-lhe Niall. – antes que eu me pudesse controlar, ri alto e deitei a cabeça para trás. Ash revirou os olhos e entrou no apartamento, ignorando-me.
- Niall é um bom nome... - Mia fez um beicinho que me fez continuar a rir, mas abanei a cabeça. – Porque não?
- Porque não Louis? Liam? Liam Miller soa bem!
- Recuso-me a dar ao meu primeiro filho o nome de um dos membros dos One Direction! – Asher gritou, da sala de estar, e Mia encolheu os ombros, sorrindo.
- De qualquer forma, ainda nem sabemos se é um menino ou menina...ou outra coisa, na verdade. Por mim até esperávamos que ele conseguisse falar e escolher o próprio nome.
Abanei a cabeça, sorrindo, e deixei a conversa passar para o lado. Ava apareceu depois, com a última das caixas que eu tinha trazido na carrinha que o pai de Caleb me emprestara. Recrutara toda a gente – incluindo o irmão mais novo de Asher, porque eu adorava o miúdo – para me ajudar, no intuito de poupar o máximo possível com todas as mudanças. Toda a papelada que a minha transferência pedia estava feita e a única coisa que faltava era, de facto, tudo o que a mudança de apartamentos pedia. Os meus pais não tinham tido qualquer problema com a ideia de eu mudar de cidade – eu suspeitava que era porque eu passaria a viver num apartamento que existia apenas por sua causa, mas não dissera nada – e com o apartamento das gémeas passar a ser meu. Quanto mais pensava naquilo, mais confortável estava com a ideia e mais inteligência e sensatez via no plano da Mia. O apartamento de Asher não era assim tão longe, o que significava que eu estaria perto deles, e a casa que Dax comprara era bastante perto também, assim como o laboratório de Ava.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Contrabalançar
RomanceSteve estava habituado a proteger e a cuidar. Foi ensinado a fazê-lo quando as suas irmãs mais novas nasceram e fez disso trabalho. No entanto, a quase-década como polícia não lhe serviu de muito quando foi confrontado com a verdadeira essência do m...