Capítulo Oito

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Quando Lexie finalmente bateu na porta do meu apartamento, eu estava a ferver água para um chá. Normalmente preferia beber cafeína mas, naquela altura, a única coisa que estava na minha mente era a voz da minha mãe a dizer que eu precisava de acalmar. Bebe isto, meu amor, costumava ela dizer, na voz mais doce que conseguia, sempre que o meu raciocínio e a minha preocupação entravam em espiral. Sempre calculara que ela sabia que era uma das grandes razões para eu perder tantas vezes o controlo quando sentia que era inútil e que aquele pedido suave e a ideia por detrás – de que trataria de mim e me ajudaria – eram sempre como um pedido de desculpas. Como se ela se arrependesse de ter criado o Steve paranoico que tinha criado.

- Desculpa. – foi a primeira coisa que a minha vizinha disse, assim que eu a deixei entrar no apartamento. Olhei à volta, mais por instinto que exatamente por achar que ela estava a ser observada, antes de fechar a porta e a encarar.

- Porque é que estás a pedir desculpa, Lexie? – questionei, fazendo todo um esforço para não soar chateado com a situação. Ela mordeu o seu lábio e olhou para o chão. – Chá?

- Obrigada. – respondeu, numa voz baixa, enquanto assentiu. Sorri-lhe, um sorriso curto que não mostrou os meus dentes, e guiei-a de volta à minha cozinha.

- Há quanto tempo é que sabes? – inquiri, sem olhar para ela e para a sua reação. Vi, no entanto, pelo canto do meu olho, que ela estava irrequieta e que os seus pés estavam constantemente a mudar de posição. – Senta-te, estás à vontade.

- Não é a primeira visita que eles me fazem. – admitiu. Coloquei as saquetas em cada uma das chávenas, as mesmas chávenas que utilizei na primeira vez que lhe fiz café, e dividi a água quente entre eles. – O Connor não sabe que eu sei.

- Porque não? Não achas que seria uma motivação para ele sair? – quando ela não respondeu, exalei todo o ar que tinha nos pulmões. – Desculpa. Não me quero meter no assunto.

Alexandra não disse nada, mas sorriu-me suavemente quando eu lhe entreguei a chávena cheia de chá e me sentei à sua frente, na pequena mesa da cozinha. Observei-a com toda a atenção e reparei que a sua respiração ainda estava ofegante e os seus cabelos continuavam despenteados. Percebi que ela percebeu que eu a estava a observar, mas deixou-me fazê-lo, algo que me surpreendeu. Tudo o que tinha acontecido estava a passar pela minha cabeça, repetidamente, até eu estar a pensar demasiado em cada pequena coisa. A forma como ela não abriu logo a porta, a forma como ela me afastou por eu ser polícia, o facto de ela saber que o seu irmão estava envolvido num gangue.

Continuámos em silêncio, até que eu decidi engolir o meu próprio orgulho e partir o bolo que tinha comprado para mim, para o dividirmos. Lexie levantou o olhar para o meu pela primeira vez em minutos e assentiu, e pareceu-me que ela estava aliviada por eu ter feito o primeiro passo. Não estava irritado com ela, claro que não, mas ela não sabia disso. Parecia achar que eu estava desiludido com ela, ou qualquer coisa do género, pela forma como ela evitava olhar para mim e se focava tão atentamente no chá que lhe tinha feito. A verdade era que eu só me sentia inútil. Passara as últimas semanas a assumir que ela estava segura, que não sabia o que se passava na vida do seu irmão, e a focar todas as minhas forças em ajudar Connor e, ao mesmo tempo, tentar terminar aquilo que seria certamente a sua ruína. E, no meio de tudo aquilo, ela já estava mais envolvida do que qualquer um de nós sabia!

- Porque é que eles te visitam, Lexie? O Connor sabe? – para o abanar de cabeça que ela me lançou, pousei os meus cotovelos na mesa e fitei-a. – Lexie?

- A primeira vez que me visitaram foi há uns meses...eu ainda vivia no meu antigo apartamento. Eu vi uns papéis nos bolsos do meu irmão, numa das noites em que ele dormiu comigo, e fiquei assustada. Fui ingénua e achei que...

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