Capítulo Dezassete

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Explicar a sua relação a Frost não foi a parte mais complicada da minha conversa com Lexie, adiantada pela falta de tato do seu irmão mais novo. O meu plano tinha sido dormir, descansar, beber um café e só depois sentar-me no seu sofá roxo e contar tudo. Connor apressara o processo, no entanto, e, quando dei por nós, eram cerca de dez da manhã e ainda estávamos os três na sua sala de estar, a conversar. Eventualmente, o sono sobrepôs-se à curiosidade do mais novo e Lexie pediu-lhe que ele fosse para o meu apartamento, já que o seu continha apenas um quarto e ela queria uma maior privacidade para terminarmos a nossa conversa.

A parte mais complicada tinha sido convencer Lexie de que tudo estava realmente bem. Isso e garantir-lhe que Connor estava bem, que tinha sido tratado, e que o Frost seria mesmo, mesmo, mesmo preso. Depois de tantos meses a sofrer por si própria e pelo seu irmão mais novo, não me admirava que o seu primeiro instinto fosse duvidar de mim. Mas eu tinha todas as certezas do mundo de que ele seria preso e os irmãos só o voltariam a ver por escolha, embora eu esperasse que eles não o quisessem fazer. Ainda assim, depois da grande revelação, seria natural se quisessem saber mais sobre o seu tio e não sobre o criminoso.

Lexie lidara surpreendentemente bem com o facto de, de todas as pessoas, Frost ser um tio de quem ela nunca ouvira falar. Em contrapartida, todo o pânico que eu evitara sentir durante a última noite, ela sentira por mim assim que eu terminara a história. Devia ter-me contido nos detalhes, mas o meu cérebro estava cansado e eu só queria despachar aquela conversa. Sabia que ela tinha o direito de saber aquilo por que eu e Connor tínhamos passado, assim como a história que Frost me contara sobre os seus pais, mas...sono...

- Então porque é que eles me vinham visitar? Porque é que continuavam a ameaçar-me? – Lexie questionou, mais para ela própria do que para mim.

- Não sei. – encolhi os ombros – Tentei fazer mais perguntas, quando estive sozinho com ele na sala de interrogações, mas em algumas coisas...só ele via o sentido.

Lexie encontrou o meu olhar e, passados uns segundos, assentiu. Colocou um pedaço de cabelo atrás da sua orelha direita e sorriu-me. Percebi, pelo seu olhar, que ela estava pronta para deixar a conversa esperar mais um pouco e, perante essa promessa silenciosa, levantei-me e caminhei diretamente para o seu quarto. Connor estaria na minha cama, já a dormir, e embora eu pudesse dormir no meu próprio sofá ou num dos colchões sobressalentes que tinha no apartamento, porquê fazer isso quando tinha uma cama perfeitamente boa à minha disposição, com a oportunidade de ter Lexie ao meu lado?

Como que a ler os meus pensamentos, ela levantou-se de seguida e, depois de beijar o meu maxilar, prometeu juntar-se a mim dali a nada. Assenti, muito mais sonolento do que me orgulhava, e andei numa linha oblíqua até à divisão que eu almejava. Ouvi os passos de Lexie a afastarem-se de mim, até que surgiu o som da porta do seu apartamento a abrir e a fechar. Calculando que ela ia apenas ver do seu irmão, retirei a minha roupa e, depois de escovar rapidamente os dentes com uma escova que já tinha deixado na sua casa de banho, deitei-me na sua cama. Soltei um grunhido forte, ao sentir finalmente o conforto de um colchão e de uns lençóis lavados e bem-cheirosos à minha volta e coloquei-me na minha posição preferida para dormir.

Acordei sem saber quanto tempo tinha passado, mas com a sensação única de dois braços à minha volta. Virei-me, para enfrentar o corpo de Lexie, e encontrei as pérolas esmeralda a que ela chamava olhos assim que abri os meus. Sorri-lhe e, contente pela serenidade daquele momento, beijei a sua testa e apertei-a nos meus braços. Ela permaneceu na mesma posição, mas aproveitou para enroscar os nossos corpos e aproximar-se ainda mais de mim. Voltei a fechar os meus olhos e respirei fundo, sentindo-me mais fresco do que anteriormente; um olhar direcionado à sua janela disse-me que ainda era dia, no entanto. Não importava, eu e todos os polícias que tinham estado comigo tínhamos recebido o direito a uns dias de descanso. Bem merecidos, se me perguntassem.

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