Capítulo Quatro

59 10 14
                                    

O meu primeiro dia de folga chegou cerca de duas semanas depois. Durante esse tempo, não voltei a ver Connor ou Lexie – o que confirmou o que ela tinha dito no nosso primeiro e único encontro acerca de ela mal sair de casa. Infelizmente, os meus horários não eram tão regulares como eu gostava e raramente chegava à mesma hora. Nas próximas duas semanas, teria o turno noturno e, por isso, quis aproveitar o meu dia de folga no meu bar preferido da cidade. Só por acaso era também o bar de Dax, em que eu mal conseguia pagar as minhas bebidas sem que ele ou o seu melhor-amigo, Max, me enfiassem o dinheiro de volta na carteira. Era uma luta divertida e só por isso valia a pena.

Caleb não estava comigo, apesar de ser igualmente o seu dia de folga. Ele, tendo uma filha de três anos, aproveitava todo e qualquer tempo livre com ela e eu não o ressentia por isso. Aliás, eu próprio adorava passar tempo com a Candy e tinha, na verdade, passado algumas horas com ela naquele mesmo dia. Nunca o termo tio Steve me atingira tão fortemente como naquele dia, em que eu finalmente percebi que seria, pela primeira vez, tio a sério – tio no termo literal. Uma das minhas irmãs teria mesmo um bebé e eu seria tio. Tio!

- Steve, olá! – Max correu para me abraçar, com toda a sua força de homem demasiado musculado para a sua personalidade. Grunhi, mas retribuí o gesto. – Já sabes, se quiseres subir para a zona VIP...

- Sabes bem que prefiro ficar a observar as pessoas. – encolhi os ombros e sentei-me num banco ao lado do balcão. O empregado de bar reconheceu-me, cumprimentou-me e anunciou que iria buscar o meu pedido do costume. Sorri-lhe.

Por ser uma quinta-feira, Dove não estava cheio, mas estava quase. A pista de dança parecia animada, com pessoas a dançarem por todo o lado, mas ainda era possível caminhar pelo bar sem invadir o espaço pessoal de toda a gente. Max sentou-se ao meu lado e, ao tocar na sua orelha, disse qualquer coisa que eu percebi depois ser para Dax, informando-o da minha chegada. Fiz um gesto com a mão, para dispensar Dax de se sentir obrigado a vir-me cumprimentar, mas o seu melhor-amigo ignorou-me e, com um piscar de olhos, afastou-se de mim e enfiou-se por entre a multidão de pessoas. Minutos depois, apareceu Dax, vestido de preto dos pés à cabeça e com a expressão séria do costume. Antes que me pudesse conter, comecei a rir.

Aquele rapaz era demasiado sério.

Dax sentou-se ao meu lado e pediu o mesmo que eu, uma cerveja. Conversámos sobre as coisas do costume: Ava, trabalho, família. Ele voltou a oferecer-me um trabalho como seu segurança e eu voltei a recusar, principalmente porque já tinha tido mudanças suficientes para o resto da vida. Fi-lo rir, fi-lo tentar não rir, e fi-lo abanar a cabeça quando gargalhei. Dax era definitivamente demasiado sério para o seu próprio bem e, geralmente, eu nunca acreditaria que Ava, a minha irmã mais calada e igualmente pacífica, precisasse de alguém tão sério na sua vida, mas eles resultavam. E era bonito de ver, ainda por cima. Como é que elas tinham ambas encontrado pessoas tão certeiras na sua vida?

- Ei, pensei que não deixasses menores entrar? – questionei, quando o meu olho direito captou informação curiosa.

- E não deixo. – Dax endireitou as suas costas e olhou, discretamente, para a mesma zona que eu fitava. – Quem é?

- O irmão mais novo da vizinha da frente. – informei-o, nunca parando de olhar para Connor.

Acompanhado por pessoas que não pareciam, de todo, ter quinze anos, Connor estava sentado numa das mesas, com uma expressão séria. Mesmo com todas as pessoas entre nós, eu conseguia vê-lo na perfeição; ele não estava a falar, mas os seus olhos – que eu sabia serem verdes, como os de Lexie – estavam focados em tudo o que estava a acontecer. Ao meu lado, Dax pensava em silêncio. Depois, informou-me que ainda não tinha ido acompanhar o seu segurança e era possível que Connor tivesse uma identificação falsa. Todos os empregados de Dove tinham um treino especializado e intensivo, então acreditava que os acompanhantes de Connor eram demasiado bons naquilo que faziam, para uma identificação falsa ter conseguido passar.

ContrabalançarOnde histórias criam vida. Descubra agora