Capítulo Dezoito

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A semana seguinte viu-me a sair da esquadra com a certeza de que o atormentador de Lexie e Connor ficaria preso durante muitos anos. Não tinha querido assistir ao julgamento mas falara com o par de irmãos para garantir que eles eram da mesma opinião; nenhum deles tinha querido ver Frost. No final da tarde, portanto, recebera a mensagem de um dos meus colegas a afirmar que o julgamento tinha terminado e que a pena tinha sido, até, mais pesada do que qualquer um de nós esperávamos. Eu tinha estado tão focado na sua ligação a Lexie e a Connor que não prestara muita atenção a todos os crimes que ele tinha cometido nas últimas três décadas, mas tinham sido infinitos.

Despedi-me do meu melhor-amigo, que passara os últimos dois dias a tentar ter uma ideia para a festa do quarto aniversário da sua filha e ainda estava a conversar com um dos polícias experientes nessa área. Com experiência, Caleb procurara uma pessoa que tivesse pelo menos três filhos que, de preferência, não o odiassem. Eu observara a sua pseudoinvestigação, completamente divertido, feliz por não ter de passar por nada daquele género. Gostaria de ter filhos um dia, mas, naquela altura, bastava-me observar o meu melhor-amigo e todas as suas aventuras. Antes de ser pai, queria aproveitar mais algum tempo de ser o tio preferido.

Ao invés de virar automaticamente na estrada que me levaria até ao meu prédio, passei num supermercado. Comprei tudo o que tinha escrito numa folha de papel laranja – roubada à Mia, numa das minhas últimas visitas – e, só depois disso, conduzi até casa. A parte mais complicada da minha tarefa seguinte não era tanto levar todos os sacos comigo numa só viagem, mas sim o tentar esconder da minha vizinha da frente o que estava a fazer. Eu tinha músculos, sim, e muita força também, mas nem por isso deixava de grunhir com o esforço de tentar carregar cinco sacos de compras ao mesmo tempo. Geralmente pediria ajuda a Lexie, mas toda aquela aventura pedia secretismo.

Respirei fundo, de alívio, assim que fechei a minha porta da frente. Primeiro, arrumei tudo o que não tinha sido comprado para aquele dia nos seus respetivos sítios – aos poucos, a influência de Lexie abrira o meu apetite por novas receitas culinárias e isso pedia ingredientes que outrora eu não compraria. Decidi tomar banho apenas depois de cozinhar aquilo que tinha planeado mentalmente, e retirar a minha farda e vestir roupas mais confortáveis soube-me pela vida. A última semana tinha sido puxada, por falta de melhores palavras, porque a verdade era que o trabalho de um polícia não se ficava apenas nas emboscadas e no prender de pessoas. Envolvia muita papelada, muitos relatórios, muitos testemunhos, e um caso como o de Frost... Só ficava feliz por ter finalmente terminado, sem demasiado incómodo para a vida de Connor, retirando umas quantas dezenas de trabalho comunitário e de uma promessa de bom comportamento.

Com uma roupa normal a cobrir o meu corpo e a refeição cozinhada, coloquei tudo num cesto de palha – cortesia, também, de Mia – e saí do meu apartamento. Tranquei a minha porta e, numa meia-dúzia de passos, encontrei-me de frente para a porta de Lexie. Embora tivesse uma chave e soubesse que ela não ficaria perturbada caso eu entrasse sem bater, não o fiz; toquei com o meu punho fechado três vezes e, depois de ouvir movimento do outro lado, esperei. O alvo de todos os meus planos apareceu, com um sorriso contente no rosto e tinta em todo o lado. Comecei a rir inconscientemente, até que ela me lançou um olhar pouco divertido e eu forcei os meus lábios a fechar. Ainda assim, o meu sorriso foi impossível de controlar.

- O que é isso tudo? – perguntou, de sobrancelhas juntas, assim que olhou para o que eu tinha nas mãos.

- Isto – levantei o cesto um pouco – é a nossa aventura de hoje. Vamos celebrar o facto de o teu – fiz todo um dramatismo de olhar à volta e aproximei-me dela – tio criminoso ter sido preso. E sabes como é que o vamos fazer? A sair de casa.

- Mas... - abanei a cabeça, olhando para o teto em vez de para ela, para ela perceber que eu não iria aceitar um não como resposta. – Estou toda suja!

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