Capítulo Vinte (último)

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- Steve, se estás assim com tanta pressa, vai sozinho.

- Não! – ripostei e sentei-me de volta no sofá, com os braços cruzados. Connor bufou e mudou de canal. Empurrei os seus pés para fora da mesa de café.

- Ei!

- Sabes que a tua irmã trabalha aí. – ele revirou os olhos, mas assentiu.

Tinha chegado finalmente o dia em que Mia ia para casa, depois de a sua filha ter nascido. Nós tínhamos todos ido ao hospital, mas também tivéramos noção de que aquele era um momento importante para o casal. Víramo-la por dois segundos, mas deixáramos o casal em paz assim que a nossa curiosidade tinha sido saciada e víramos que estavam todos bem. Mia ficara no hospital durante três dias e, por aquela altura, já estaria de volta na sua cama, com a sua filha nos braços e o seu namorado a tratar das duas. Escusado seria dizer que eu estava entusiasmado para conhecer a minha sobrinha de uma melhor forma. Agarrá-la e apresentar-me e dizer-lhe que a iria proteger para sempre.

Connor, por outro lado, estava completamente farto da minha irrequietude. Lexie tinha dito que demoraria apenas uns minutos, mas tinham passado cerca de quinze e ela ainda não tinha saído do seu quarto. Na verdade, começava a ficar preocupado – não era uma ocasião especial, e eu sabia que Lexie não era vaidosa ao ponto de querer maquilhar-se e vestir-se melhor apenas para visitar a minha irmã e uma bebé. O seu irmão não parecia querer saber da sua demora, porque estava entretido a ver passear pelos canais de televisão. Notava-se que estava cansado, de ter as suas semanas divididas entre o trabalho comunitário e os estudos, por isso não duvidava que qualquer tempo livre fosse uma dádiva, na sua perspetiva.

Levantei-me pela terceira vez em dez minutos, ignorei o olhar completamente farto de Connor, e caminhei até ao quarto de Lexie. Bati suavemente na porta, mas, quando não obtive resposta, decidi simplesmente entrar. Ela não estava na divisão, e as roupas que ela tinha escolhido ainda estavam em cima da cama. Fiquei automaticamente alarmado. Dei os passos necessários para chegar até à porta da casa de banho e bati, com um fervor muito maior que anteriormente; a minha vontade de ver a minha sobrinha não era nada, se lhe tivesse acontecido algo ou se ela se sentisse doente.

- Lexie? – chamei, batendo na madeira uma segunda vez.

- Sim? – a sua voz soou baixinha. – Estou quase pronta!

- Sentes-te bem? Estás doente? Precisas que vá comprar alguma coisa? – ouvi, do outro lado da porta, um riso suave e isso ajudou-me a relaxar.

Dez segundos depois, a porta abriu-se. Lexie ainda estava de pijama, mas um olhar rápido para o lavatório da casa de banho disse-me que ela já tinha lavado os dentes e o seu cabelo estava mais penteado do que tinha estado antes de ela entrar. No entanto, os seus olhos estavam completamente vermelhos e as suas bochechas húmidas devido às lágrimas que caíram e continuavam a cair, mesmo enquanto ela olhava para mim. Sem pensar, puxei-a para um abraço, mais suave do que pretendia, porque não sabia se as suas lágrimas se deviam a algum tipo de dor muscular. Ela retribuiu o abraço, com uma força que parecia estrangeira à fragilidade da sua expressão, e eu acariciei os seus cabelos. Ficámos naquela posição durante uns minutos, sem dizer nada.

- Queres dizer-me o que se passa? – senti-a assentir contra o meu peito, mas ela não disse nada. Soltei um curto riso. – E vais fazê-lo?

- Não sei como vais reagir... - permaneci calado, a acariciá-la, paciente.

- Vamos para o quarto. – sussurrei. Desliguei o interruptor da casa de banho e empurrei-a suavemente até à sua cama. Sentámo-nos, lado a lado. – Eu sou ótimo a reagir a coisas, Lexie. Só tens de experimentar, não precisas de ter medo de mim.

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