Capítulo Onze

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- Steve, Caleb. Escritório. – Caleb olhou para mim, eu olhei para ele, e levantámo-nos ao mesmo tempo. Caminhámos calmamente até ao escritório do nosso capitão, que nos tinha chamado, sem saber bem a razão de tudo aquilo. Ignorei a hipótese de algo ter acontecido com o nosso caso, porque estávamos a ser ultra cuidadosos.

- Está tudo bem? – questionei, assim que confirmei que Caleb tinha fechado a porta. O nosso capitão respirou fundo e agarrou a secretária à sua frente, como que para conter-se de fazer algo.

- Temos razões para acreditar que o Frost sabe a identidade de, pelo menos, um de vocês.

- Como assim? – foi Caleb que perguntou, daquela vez.

O nosso superior não disse nada, continuou a olhar para nós com a expressão impassível do costume. Ele era um homem bem mais velho que nós, com idade para ser nosso pai, e isso notava-se nos cabelos e nas sobrancelhas cinzentas. Ainda assim, a sua postura era perfeita para o cargo que ele desempenhava: nunca, apesar da sua idade, senti que ele transparecesse alguma coisa além de autoridade, respeito e poder. Já o conhecia desde os meus primeiros anos como polícia, porque tinha trabalhado sob as suas ordens num caso que pediu a colaboração das nossas esquadras, e admirava-o desde aí. Trabalhar mais pessoalmente com ele era um privilégio, apesar de eu ter recusado a ideia durante muito tempo.

Foram todos esses anos de quase-intimidade que me mostraram que ele estava frustrado. Sentei-me numa das cadeiras em frente à secretária e Caleb seguiu os meus passos, mantendo-se calado, à espera da resposta à sua pergunta. O mais velho continuou calado mas, a certo ponto, decidiu que talvez fosse mais fácil mostrar qualquer coisa porque desviou o olhar dos nossos e abriu uma das suas gavetas. Foquei todas as minhas energias em olhar para ele porque, se começasse a pensar no peso que as suas palavras tinham, certamente colapsaria. E isso não podia acontecer porque, se realmente fosse verdade o que acabara de ouvir, o caso acabara de ficar cem vezes mais perigoso.

- Como sabem, conseguimos há uns dias colocar uma escuta no armazém principal. – assentimos, mostrando que estávamos a acompanhar – E um dos nossos detetives está, neste momento, a tentar entrar nas suas confianças.

Estava a ser, definitivamente, um trabalho demorado. Já haviam passado cerca de dois meses desde que me mudara para o apartamento e aquela noite em que encontrara Connor no Dove marcava o início da minha investigação. Em dois meses, muita coisa podia acontecer e, aos poucos, estávamos a entrar na rede de Frost. Por ser um caso demasiado célebre e polémico, o nosso capitão recrutara uma pequena equipa que não poderia, em caso algum, falar do caso com os colegas. Eu próprio me abstivera de, como costume, falar com as minhas irmãs sobre aquilo que andava a fazer – a única pessoa que sabia alguma coisa era Lexie e apenas porque o merecia.

Tínhamos concordado todos que nem eu nem Caleb poderíamos fazer a tarefa de nos infiltrarmos nos armazéns. Eu, porque era vizinho de Lexie e porque Connor sabia quem eu era e era apenas um miúdo – não podíamos confiar que um adolescente não mostraria, de uma forma ou outra, que me reconhecia. E Caleb porque simplesmente não queria arriscar-se a esse ponto. O meu melhor-amigo era um dos melhores polícias que eu conhecia, assim como o mais mortífero e o mais eficaz, mas tinha uma filha de três anos que dependia totalmente dele. Ela não poderia perder o segundo dos seus pais. De qualquer forma, nenhum de nós estava particularmente treinado nas artes da dissimulação e o detetive que tinha sido escolhido tinha-o sido com base em critérios intensos e rígidos.

- Há uns dias, ele conseguiu ouvir uma conversa que o alarmou. Depois de analisarmos as gravações, confirmámos que era caso para preocupação. Falavam de um Steve que tinha, de alguma forma, uma ligação a alguém que lhes era importante. Só podemos calcular que falavam de ti, Farrell, e do miúdo.

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