Capítulo Dezanove

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Gargalhei, ao entrar no pavilhão escolar. Lexie, ao meu lado, bateu-me com força no braço e fez-me sinal para eu não fazer muito barulho.

Nos últimos três meses, todos tínhamos feito um grande esforço para iniciarmos uma vida normal. Da minha parte, isso passou por colocar menos horas na esquadra e começar a ponderar seriamente em aceitar a proposta eterna de Dax. Quanto mais pensava na ideia de ser segurança de Dove e trabalhar ao seu lado, melhor ela me parecia. Podia escolher as minhas próprias horas – apesar de, ao fim de semana, Dax querer-me durante a noite –, conforme o que fosse melhor para a minha vida e poderia ficar num ambiente que, embora enérgico, era sério.

Max e Dax seriam ótimos patrões. Eu só não sabia se estava pronto para mais mudanças.

Lexie, ao contrário do que eu assumi, preferiu continuar a ser freelancer em vez de se relacionar a uma empresa ou mesmo procurar um escritório. Alegava que a sua casa se tornara no melhor espaço para o seu trabalho, mas ganhara uma rotina completamente diferente; deixou de receber tantas encomendas em casa, para começar. Connor descobrira um verdadeiro talento para as ciências e, com a ajuda de Ava, idealizara todo um projeto para apresentar com Gary na Feira de Ciências da sua escola. Era lá que estávamos e era pela visão de Connor com uma bata branca e uns óculos protetores que faziam os seus olhos parecerem enormes que eu gargalhara.

- Imagina que o Frost tinha descoberto que o teu irmão era ótimo com química. – comentei, a rir – Estaria agora a fazer droga, em vez de...o que é que ele está a fazer?

- Não faço ideia. – sussurrou, enquanto olhava à volta com os seus olhos arregalados. – Sempre soube que ele tinha capacidade para algo enorme. Olha para ele. Está feliz.

- Está. – confirmei, envolvendo os seus ombros num abraço. Sorri ao encostar as nossas cabeças. – Parece estar a ter muita popularidade com os professores, também. Quem diria?

Ela não respondeu, mas o pequeno tremer do seu corpo, causando pelo seu riso, disse-me que ela concordava. Tinham passado apenas cerca de sete meses desde que eu os conhecera, mas as mudanças eram óbvias. Connor tinha finalmente aprendido a deixar de estar tão revoltado com a sua vida - ou, pelo menos, aprendido a canalizar as suas revoltas e as suas energias em algo bom e prático. Dali, eu conseguia ver quão confortável ele estava ao lado de Gary – que eu ainda me lembrava ser um rapaz tímido e, segundo as suas próprias palavras, gozado pelos outros miúdos da sua idade – a trabalhar com os seus instrumentos. Eu não percebia nada do que ele estava a fazer, mas bastava-me saber que ele estava contente a fazê-lo.

Caminhámos lado a lado, com os nossos corpos sempre encostados, até que Connor ganhou noção da nossa presença e acenou-nos. Gary, ao perceber para quem o seu amigo estava a gesticular, acenou também. Eu e Lexie retribuímos o gesto, mas deixámos os dois rapazes a conversar com os três professores que se tinham aproximado deles e decidimos explorar o pavilhão. Havia bancas em todo o lado, umas mais populares que outras, mas todas cheias de adolescentes a divertirem-se com as suas experiências. Era algo bonito de ver. Eu lembrava-me da minha adolescência e, além de ter sido passada a brincar com as minhas irmãs mais novas, nunca tinha estado repleta de atividades intelectuais. Sempre gostei mais de desporto, mas, mais que isso, sempre preferi as ciências abstratas. Gostava de investigar, de reunir provas, de mistério, mas não ao ponto de gostar daquele tipo de ciências exatas – para isso, existia Ava.

A minha irmã tinha prometido passar na Feira de Connor, depois de sair do laboratório, e eu sabia que ter a presença de alguém profissional e reconhecido daria Connor uma grande vantagem, mesmo que fosse apenas pelas suas conexões. Desde que Frost tinha sido preso e Lexie se sentira mais confortável para estar perto de outras pessoas, os dois irmãos aproximaram-se exponencialmente da minha família. As únicas duas pessoas que ainda não os tinham conhecido eram os meus pais, mas eu não sentia nada em relação a isso; gostava que eles conhecessem Lexie e a vissem como eu a via, mas sabia que seria muito improvável. Esperava que o nascimento da sua primeira neta pudesse vir a mudar alguma coisa.

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