O meu relógio disse-me que eu tinha dormido cerca de seis horas, quando olhei para ele ao ser acordado por um bater na minha porta. Tinha chegado a casa, depois das minhas oito horas no turno da noite, perto das dez da manhã. Não podia julgar quem quer que fosse por estar a bater à minha porta, porque eram quatro da tarde, mas isso não significava que não estivesse frustrado. Esfreguei os meus olhos e respirei fundo; fiquei sentado na cama durante uns segundos, tempo suficiente para ganhar força nas minhas pernas, e caminhei até à porta. Quando a abri, dei um passo para trás ao ser confrontado com a visão de Lexie, a segurar um tabuleiro cheio de fatias de bolo.
- Oh, não! Estavas a dormir? – assenti, lentamente, ainda a tentar processar toda a nova informação. – Desculpa! – a voz dela desceu até um sussurro, algo que me fez sorrir. – Fiz-te um bolo, para te agradecer.
- Um bolo? Agradecer?
- Por teres trazido o Connor em segurança. – encolheu os ombros, mas eu vi as suas bochechas a ganharem um pouco de cor. Ela estava embaraçada e o meu instinto foi brincar com ela, embaraçá-la ainda mais para as suas bochechas escurecerem, mas não o fiz. – É...é de banana.
- Oh.
Lexie continuou em silêncio, mas eu quase senti o seu embaraço dentro de mim. Esfreguei os meus olhos mais uma vez e limpei a garganta, sorrindo-lhe. Com um passo para trás e um braço a abrir ainda mais a porta, convidei-a para entrar, embora soubesse que o meu apartamento não estava digno de receber visitas. Nunca me habituei a receber pessoas em minha casa. Na minha antiga cidade, passava mais tempo na esquadra e em casa do Caleb e, no restante tempo livre, visitava as minhas irmãs naquele apartamento. Quando elas lá viviam, estava sempre limpo devido ao controlo de Ava e à ajuda de Asher, mas, comigo lá... seria o mesmo que pedir a Mia para chegar a casa sem marcas de plasticina e de lápis-de-cera nas bochechas, depois de um dia a ensinar meninos de cinco anos a pintar.
Na analogia em questão, eu sou os meninos de cinco anos.
- Não quis incomodar! – Lexie falou, um pouco mais alto que anteriormente, mas entrou dentro do apartamento na mesma. Sorri-lhe e assenti, e fechei a porta atrás dela.
- Desde que me tragas bolo, nunca vais estar a incomodar. Acredita. – ela soltou um riso rouco.
- Vou fazer questão de me lembrar disso.
Guiei-a até à cozinha – a divisão mais limpa do apartamento – e indiquei-lhe onde poderia pousar o grande prato verde que ela tinha nas mãos. Lexie olhou à volta, completamente curiosa e quase sem notar que não estava sozinha, e observou toda a divisão. Ocupei-me a fazer café; já tinha acordado e, embora continuasse cansado, seria mais produtivo tentar fazer alguma coisa com o resto do meu dia do que tentar voltar a adormecer até ao início do meu turno. Cruzei os braços, tendo perfeita noção de que estávamos ambos silenciosos, mas nenhum de nós procurava alterar a situação. Alexandra continuava dentro da sua própria cabeça, sem notar que, por aquela altura, eu já estava mais a olhar para ela do que para o meu café.
Ela era parecida com o seu irmão mais novo, apercebi-me, mas de uma forma diferente daquela que eu era parecido com as minhas irmãs. Enquanto eu e Mia tínhamos herdado muitas feições do nosso pai – a Mia escapara-lhe a altura, no entanto – e Ava era praticamente uma cópia da nossa mãe, entre os três éramos semelhantes. Qualquer pessoa conseguiria dizer que éramos família, se nos colocasse lado a lado, mas possuíamos caraterísticas só nossas. Connor e Alexandra, no entanto, pareciam quase gémeos: o mesmo tom de cabelo loiro, os mesmos olhos verdes e com forma de amêndoa. A mesma altura. A única coisa que era diferente era a sua postura: Lexia parecia querer encolher-se, enquanto Connor, numa atitude que eu considerava típica de um adolescente, parecia querer fazer-se maior do que era.
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Contrabalançar
RomanceSteve estava habituado a proteger e a cuidar. Foi ensinado a fazê-lo quando as suas irmãs mais novas nasceram e fez disso trabalho. No entanto, a quase-década como polícia não lhe serviu de muito quando foi confrontado com a verdadeira essência do m...