Como sempre, preferi subir até ao apartamento das minhas irmãs de escadas em vez de ir no elevador. Elas costumavam brincar e dizer que eu evitava o elevador por ser demasiado pesado para a caixa de ferro, mas eu só gostava de aproveitar o exercício. Subir quatro andares era ótimo para a minha resistência. Apesar de ser polícia há imenso tempo e, devido a isso, ter desenvolvido uma rotina de exercício muito rígida e já consolidada, era mais preguiçoso do que gostava de admitir. Corria-nos no sangue, infelizmente.
Elas viviam naquele apartamento há quase dez anos. Os nossos pais tinham tido possibilidade de o comprar quando ambas ingressaram na faculdade e elas nunca tinham saído. A verdade era que ambas já poderiam tê-lo feito há muito; estavam consideravelmente perto dos seus respetivos empregos, mas já tinham relações duradouras e estáveis. Eu sabia que Dax – namorado de Ava e meu amigo de longa data – estava desesperado para poder ter Ava só para si próprio, mas ela recusava-se a sair do apartamento antes da sua irmã gémea. E Mia, por sua vez, estava presa naquele apartamento. Era, naquela altura, a única ligação que ela tinha com os nossos pais, depois de eles terem declarado que não apoiariam a sua mudança de curso e de carreira.
Eu era basicamente o mensageiro entre os quatro, porque Ava tomara o lado de Mia. Como filho mais velho, no entanto, e como o único que vivia perto o suficiente dos nossos pais para os poder ver com regularidade, cabia-me a mim não escolher lados. Ser neutro. Proteger todas as partes.
Era cansativo, para dizer o mínimo.
Ironicamente, apesar de não nos termos cruzado na entrada do prédio, cheguei ao andar onde as gémeas viviam ao mesmo tempo que Ava e Dax. Ele sorriu para mim, um sorriso calmo e contido, mas que era acompanhado por olhos azuis suaves em que cabia um mundo inteiro. Ava, por sua vez, sorriu abertamente e deu um pequeno pulo para me abraçar. De ambas as minhas irmãs, eu era mais parecido com Mia - éramos ambos pessoas divertidas e que nunca perdiam uma oportunidade para fazer piadas e rir, enquanto Ava era a personificação de calma. Ainda assim, nos últimos anos, tínhamos trabalhado em ter uma relação mais próxima, mais nossa, e isso passava muito por ela fazer o que estava a fazer. Dar um pulo para me abraçar com força.
Nunca conseguiria agradecer ao Dax por me ter dado aquela versão da minha irmã.
- Sabes do que se trata? – questionei Ava, agarrando nos seus braços e empurrando-a para trás. Olhei diretamente nos seus olhos e tentei olhar para ela da mesma forma que olhava para os criminosos que interrogava.
- Não faço a mais pequena ideia. – inclinei a cabeça e levantei uma sobrancelha duvidosa – A sério! Passei a noite em casa do Dax e acordei para uma mensagem dela a dizer que precisava de falar comigo e que era sério.
- E tu? – olhei para Dax – Sabes do que se trata?
- Porque é que, de todos aqui, haveria de ser eu a saber?
- Hm. – cruzei os braços e fitei-o com toda a minha atenção. Dei um passo para trás quando Ava soltou um riso suave e me empurrou para poder passar. Estávamos parados em frente à sua porta há demasiado tempo. – Tu sabes de alguma coisa.
- Não. – Dax abanou a cabeça ao falar e decidiu imitar-me, cruzando também os seus braços. – Mas o Caleb mandou-me mensagem a dizer que apanhaste finalmente os idiotas que te roubavam o almoço. Como conseguiste?
- Passei duas semanas numa varanda do prédio ao lado a observar a janela da cantina com uns binóculos e uma câmara.
Não apreciei a forma incrédula com que Dax me observou, mas não comentei. Virei a cara e retirei os meus sapatos à entrada do apartamento, sabendo que elas tinham comprado uma carpete nova para a sala de estar, no mês anterior, e estavam a ser especialmente cuidadosas. Vi Ava e Dax a fazerem o mesmo e, segundos depois, Ava estava a gritar pela nossa irmã. A porta do seu quarto estava fechada, no entanto, por isso decidi ocupar-me. Entrei na cozinha e enchi um copo com água; Ava seguiu-me e colocou água a ferver. Comecei a rir ao ver Dax a retirar duas chávenas dos armários e duas saquetas de chá de um pote de vidro que elas tinham na bancada; não estava a rir pela cena muito caseira entre os dois, mas sim pelo facto de ele ser demasiado grande para aquela cozinha. Com nós os dois lá dentro, era complicado mexermo-nos, então decidi caminhar até à sala de estar.
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Contrabalançar
RomanceSteve estava habituado a proteger e a cuidar. Foi ensinado a fazê-lo quando as suas irmãs mais novas nasceram e fez disso trabalho. No entanto, a quase-década como polícia não lhe serviu de muito quando foi confrontado com a verdadeira essência do m...