Capítulo Sete

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Sentia-me como se tivesse - oficialmente - passado para o outro lado dos limites da sanidade. Era o meu dia de folga mas, como acontecia sempre, eu dormia cerca de quatro ou cinco horas e passava o resto do dia acordado. Naquele dia, no entanto, eu tinha planos; peguei em mim próprio, saí do meu prédio e decidi ir fazer compras. Comida, decoração e...prendas para o bebé que iria aparecer na nossa família. Não teria o meu último nome, mas seria uma parte de mim quase tanto como seria uma parte de cada um dos seus pais e, por isso, eu já me sentia na necessidade de o mimar. Por muito que as naturezas de Asher e Mia fossem doces, eles seriam responsáveis o suficiente para não mimarem o seu filho – esse seria o meu papel.

Portanto, ali estava eu. Em frente a uma loja de brinquedos para crianças recém-nascidas. O meu objetivo era encontrar algo...universal, que não fosse um perigo mas que fosse um divertimento. Algo, também, que pudesse durar anos e anos, para o bebé se lembrar sempre daquele que iria lutar para ser o seu tio preferido. Nunca faltaria amor e carinho àquela criança, mas eu seria aquele que tornaria o mundo melhor para ele, seria aquele que lutaria todos os dias para que ele estivesse sempre seguro. O que é que transparecia isso? Essa relação de segurança? O urso de peluche que eu estava a fitar há cerca de meia hora.

Era um urso de peluche normal, por assim dizer; a única coisa especial nele era o facto de ter todas as cores do arco-íris a decorar o seu pelo. Isso e o facto de os seus olhos serem incrivelmente sinistros e parecerem seguir-me a cada passo para o lado que eu dava – e eu tinha dado passos. Parecia quase como se escondessem duas camaras (e eu sabia que assim que o comprasse iria chegar a casa e fazer esse teste), mas não era completamente perturbador. Era um urso de peluche normal, adorável, espalhafatoso como Mia, e tinha tudo para ser uma ótima companhia para um bebé. Ainda assim, havia algo que me estava a impedir de o comprar e eu sabia bem o que era, mas não queria tomar consciência dele e torná-lo real.

- Tio Steve! O que é que estás a fazer? – ouvi uma voz infantil ao meu lado, quebrando todo e qualquer raciocínio que pudesse ter. Virei o meu olhar para encontrar Caleb e Candy, ele com ela nos seus braços. Sorri-lhes.

- Sabias que a minha irmã vai ter um bebé? Como tu, mas mais pequenino. – Candy deixou os seus olhos arregalarem para o triplo e assentiu, sorrindo. – Estou a pensar comprar-lhe aquele peluche ali.

- Tem tantas cores! – ri baixinho e assenti. Candy eventualmente pediu para passar para o meu colo e o meu melhor-amigo não demorou a satisfazer a filha. Com todos os sacos de compras que ele segurava, admirava-me ele tê-la nos braços de todo. – Como é que se vai chamar?

- Não sei, amor. – abanei a cabeça e encolhi os ombros. Ela riu alto, para o pulo que o meu movimento fez com que ela desse. – Achas que vai gostar?

- Para de adiar e compra o raio do peluche, Steve. – Candy fez uma cara chateada para o seu pai, mas distraiu-se logo a seguir com um dos outros brinquedos que rodeavam o ursinho. Fuzilei o meu melhor-amigo. – Ele não vai esperar por ti para nascer. Daqui a sete meses, quer queiras quer não, vais ter um bebé na família. Preferes tentar ignorar isso ou tentar lidar com isso?

- Para de ser razoável! – exclamei, frustrado. Candy riu, já estando mais que habituada ao tom das nossas conversas. Enroscou-se no meu pescoço e bocejou, abraçando-me com toda a força. – Ela é adorável. Como é que saiu de ti?

- Bem...ela não saiu de mim...

Revirei os olhos, ignorei a gargalhada do meu amigo, e respirei fundo. Com Candy nos meus braços, senti quase uma injeção de força nas minhas veias e fiquei decidido a deixar de ser o cobarde que Caleb subentendia que eu era. Compus a criança nos meus braços e, depois de encher o meu peito com ar, entrei na loja. Tudo demorou cerca de cinco minutos, devido ao facto de eu ter uma visão demasiado afunilada. Candy reparou em tudo o que era colorido ou fazia barulho, e eu próprio reparei em certas coisas que certamente tornariam a vida do casal mais fácil, mas naquele dia só tinha coragem suficiente para aquela prenda. Dá-lo-ia quando Mia e Asher decidissem finalmente que o seu apartamento estava apto para um bebé e fizessem a festa que prometeram há umas semanas. Eu e a Ava tínhamos tentado organizar esse tipo de coisas, mas nenhum dos dois nos deu espaço para isso.

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