Capítulo Dezasseis

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Infelizmente, não consegui levar Connor a casa tão cedo como gostaria. Ao chegar à esquadra, o meu Capitão anunciou que a nossa próxima tarefa era tentar retirar todas as informações possíveis a Frost e aos seus homens. Eu resistira porque, para mim, a segurança de Connor vinha primeiro, mas nenhuma das minhas tentativas resultou. O adolescente acabou na sala de convívio, acompanhado por um dos polícias mais novos e por um enfermeiro que queria garantir que a sua tensão recuperava, e eu fora encarregado de falar com Frost. Não queria fazê-lo. Preferia afastar-me o mais possível daquele homem, mas a minha curiosidade ganhou. Muita coisa tinha ficado por contar, no armazém, e seria a minha oportunidade para perguntar tudo o que eu queria saber.

Suspirei, já sentia o cansaço a nebular-me o raciocínio. Estava mais rabugento do que me orgulhava, devido às horas acumuladas de trabalho. Caminhei pelos corredores da esquadra quase como um morto-vivo, sem saber bem o que estava a fazer, mas com a imagem da minha cama confortável na minha cabeça. Bem, pensei, mais vale despachar isto. Pausei em frente à porta que me separava do tio criminoso do par de irmãos e respirei fundo. Estava cansado, mas não seria isso a afastar-me do meu objetivo e do objetivo de todos os polícias daquela esquadra. Frost seria preso e os seus crimes terminariam, mas, mais que isso, Lexie e Connor iriam finalmente respirar fundo e viver.

- Steve. – o homónimo de Connor cumprimentou, numa voz sofrida. A bala, aparentemente, só tinha raspado a sua perna e, portanto, ele estava capaz de estar numa sala de interrogações.

Eu duvidava das éticas de tudo aquilo, mas também compreendia a pressa que os meus superiores tinham em prender o mais velho. Andavam a segui-lo há demasiados anos para conseguirem resistir à sua necessidade de vingança e de vindicação. Compreendia, mas não concordava. Por mim, ele devia ter passado a noite numa enfermaria da prisão e depois faríamos o interrogatório.

- Como está a perna? – questionei, enquanto fechava a porta atrás de mim. O mais velho inclinou a cabeça, como se duvidasse da razão da minha pergunta. Encolhi os ombros e caminhei até à cadeira onde me sentaria. – Muitas dores?

- Os comprimidos ajudam. – assenti e pousei ambos os meus braços na mesa, entrelaçando as minhas mãos. Fitei-o e deixei que ele me fizesse o mesmo.

- É a primeira vez que estás numa sala de interrogações? – o homem à minha frente encolheu os ombros, devagar, como se tivesse toda a paciência do mundo. Humedeci os meus lábios e assenti, decidindo inclinar-me para trás na minha cadeira. Não deixaria que ele me afetasse. – Vais preso, de qualquer forma. Temos provas suficiente para isso.

- Então, porque é que estou aqui?

- Preciso de saber o porquê. – ele assentiu, mas não disse nada – Porquê torturar a Lexie? Porquê levar o Connor para uma vida de crime, se o teu objetivo não era...

- Não sabes qual era o meu objetivo. – lancei-lhe uma expressão divertida, ao levantar as minhas sobrancelhas.

Percebi que Frost não estava preparado para um polícia como eu. Um polícia que não queria saber dele, mas sim daqueles que ele magoou. Ao olhar para ele e ver, de perto, todas as fragilidades típicas da sua idade, pude imaginar o que lhe passava pela cabeça. Ele preparara-se talvez para um polícia bruto, que não pararia até ter as suas respostas e a sua vingança; eu não era assim. Na verdade, só queria saber a lógica de tudo, porque era isso que me fazia mais confusão. Queria saber as razões por detrás de todas as suas ações porque, tanto quanto me importava, a minha função tinha terminado no momento em que ele fora algemado e o mandato fora oficializado. A partir dali, ele e os seus homens não maltratariam mais ninguém. Qualquer outro polícia aproveitaria o facto daquele homem estar algemado à mesa para o torturarem com perguntas e ameaças, mas eu...simplesmente não funcionava dessa maneira.

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