Capítulo Catorze

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Mia pediu-me para a acompanhar numa das consultas de rotina. O Asher estava demasiado ocupado, então ela decidira que a segunda melhor companhia era a dos seus irmãos. Ver a expressão da médica, quando entrou no consultório e nos viu teve piada, mas admirei a sua capacidade para se recuperar e lançar um sorriso educado e profissional. Ava agarrara a mão direita da sua gémea, enquanto eu agarrara a maca onde Mia se deitada e a sua mão esquerda. Apesar de ela ter anunciado a sua gravidez com uma ecografia, era a primeira vez que nós estávamos a ver aquilo de perto, em direto. Era a primeira vez que estávamos a ver o que seria a nossa sobrinha. Faltavam apenas quatro meses para ela nascer porque, entretanto, outro mês passara sem nenhum de nós dar por isso, mas quatro meses parecera-me imenso. Mal podia esperar para conhecer a minha sobrinha.

Ainda assim, não foi esse o único pensamento que me ocorrera naquele consultório, enquanto via o pequeno ecrã e as imagens estranhas que formavam um bebé. O que me aparecera na cabeça, ao agarrar a mão da minha irmã mais nova e ao olhar alternadamente entre a sua barriga e o ecrã foi: não posso deixar que a minha sobrinha nasça num mundo que eu não considero seguro. Depois, pensei que era um objetivo demasiado ambicioso e que o mundo nunca atingiria os meus padrões e decidi começar pelas coisas que me estavam mais próximas. Connor. Frost. O caso que me atormentava – e àqueles que eu jurei proteger – há tanto tempo.

Já passara um dia inteiro e eu ainda estava a pensar naquilo. Tinha colocado uma tarefa para mim próprio e seria bem-sucedido, nem que fosse a última coisa que eu fizesse.

- Farrel, chegaram os ficheiros que pediste. – um dos meus colegas aproximou-se da minha secretária

- Finalmente.

- Não me fales com esse tom, rapaz. Tenho idade para ser teu pai. – lancei-lhe um sorriso inocente e, ao levantar-me da minha cadeira, beijei a parte careca da sua cabeça.

O mais velho empurrou-me, mas não resistiu à vontade de sorrir. Ri alto e abanei a cabeça, afastando-me dele com toda a felicidade que uma caixa de ficheiros antigos me poderia dar. Tinha feito o pedido para a transferência de tudo o que estivesse relacionado com os pais de Lexie e de Connor na altura em que o mais novo me contara da sua teoria. O meu capitão concordava que era algo que valia a pena procurar, mas tinha sido difícil encontrar qualquer coisa que se referisse a qualquer um dos dois. Felizmente tinham encontrado algo, e algo era melhor que nada. Só esperava que Connor tivesse razão, porque seria um bom número de passos em frente.

Lexie revelara-me, sem o seu irmão ouvir, que ela sempre suspeitara que a morte dos seus pais não tinha sido acidental. A verdade, no entanto, era que o luto e a necessidade de cuidar do seu irmão não lhe tinham dado espaço para ela pensar muito nisso. Só estranhara o relatório de excesso de velocidade porque nunca vira os seus pais a ultrapassar os limites. Por um lado, eu sabia melhor que muitos que bastava uma única vez a fazer algo de errado para tudo correr mal; por outro, tendo toda a informação que Connor me dera na cabeça, era impossível não suspeitar do mesmo que Lexie. A minha próxima função seria, portanto, ler todos os relatórios e documentos relacionados com a morte dos seus pais e procurar algo que me aparecesse suspeito.

Primeiro, observei as fotografias e as listas de tudo o que ambos tinham feito durante a sua vida. O pai tinha sido um grande ambientalista e ativista político, mas, tirando isso, era um simples professor de biologia de uma escola secundária. A mãe, da mesma forma, vivera a vida pacata de uma chef de restaurante. Sorri, ao aperceber-me que era dali que a minha Lexie herdara os seus dotes culinários; não duvidava que Connor herdasse toda a sua revolta do sangue ativista do seu pai. Li até conseguir quase imaginar a vida familiar do par de irmãos, antes da tragédia e, depois de ter uma boa ideia de quem o casal era, li os relatórios.

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