chocolates, cabines e queimadas

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— Aí ela me disse que eu era muito gata, e eu fiquei tipo "eu sei".

A dona da voz estridente e alta é de Im Nayeon. A jovem de 17 anos diz isso batendo na mesa do refeitório, atraindo olhares das poucas pessoas que circulavam por ali para tomar seu café da manhã. Franzi o cenho, pousando os olhos na mais velha e notando que, agora, enfiava o garfo com força na massa da panqueca, propositalmente ou não.

São 6h da manhã e já estávamos no refeitório, mesmo que o horário oficial para sair dos quartos seja as 6h20. Minha melhor amiga tem uma mania persistente e chata de querer acordar 20 minutos mais cedo que o resto dos alunos porque "a comida ainda está quente nesse horário". Mas... sinceramente? Isso literalmente não faz sentido, porque já tomei café em ambos horários e a temperatura é a mesma.

Porém, ano passado dividimos um quarto, acabei acostumando com a garota ligando o secador em plena 5h45 da matina e adotei a prática de Nayeon. Acredito que hoje em dia isso é até bom, já que o movimento agora é pouco e não tenho vergonha de falar ou rir alto. Na rotina normal, assim que terminamos de comer, sobra aproximadamente meia-hora à toa pela escola, então seguimos diferentes. O meu, a biblioteca para ler qualquer coisa. O de Im, ir para a sala e dormir até que as aulas comecem.

— Então o que você fez?

— Eu continuei encarando, sorrindo assim: — demonstrou, jogando os cabelos longos e castanhos claros para o lado, antes de sorrir em minha direção de um jeito peculiar. Franzi as sobrancelhas, quase rindo. — Como quem não quer nada, sabe?

— Alguém que não quer nada, mas quer.

— Claro! — exclamou, como se eu houvesse acertado no ponto. Eu ri, comendo mais dos meus biscoitos. — E sua colega de quarto?

Respirei fundo.

Son Chaeyoung era tão, tão e tão simpática.

Assim que entramos no dormitório, ela disse algo sobre as janelas darem uma vista bonita. Depois de ajudar a morena a colocar toda sua bagagem no quarto, conversamos um pouco sobre como era sua rotina na sua antiga escola e acabei sabendo que a mesma participava de algo chamado Clube de Artes. Mencionei a existência de um extracurricular de Artes Plásticas que estava na grade escolar, e ela aceitou de bom grado a minha ideia para se cadastrar.

Após isso, exploramos o internato juntas. Mostrei cada canto dali para a de cabelos curtos — é muito fácil se perder por aqui, juro. Tanto que, quando eu entrei, me orientava através do sol; o nosso prédio fica totalmente à oeste, então, por exemplo, quando era de manhã, eu sabia que meu prédio estava para o lado contrário ao sol estava —, perdendo a timidez de pouco em pouco. No início da rota pela escola, eu falava tão baixo que de três em três segundos Son solicitava que a repetição de alguma das minhas falas. Porém, com o passar dos corredores e dos minutos, me soltei perto dela.

Expliquei os horários, como era o café da manhã, almoço e jantar. Que tínhamos Internet via WiFi da escola, mas era tão lenta que eu usava meu pacote de dados e que se ela quisesse, poderia rotear para a mesma. Que pela manhã era comum os dormitórios ficarem trancados para evitar das alunas matarem aula, e que às vezes punições por mau comportamento eram arrumar coisas como as salas do terceiro andar que estava em construção há mais de 4 anos. 

A de baixa estatura sempre sorria e agradecia, fazendo brincadeiras e me deixando à vontade. Creio que com nosso primeiro contato, a mais nova tenha percebido que sou meio esquisita, então buscou um jeito de me deixar tranquila. 

Talvez seja algo da sua personalidade, o que é muito bom.

— Ela veio da Sejong, em Daegu — murmurei, limpando os dedos na roupa. Nayeon se atentou às minhas palavras. — Tem 17 anos, gosta de morangos e, caramba Nay, ela tem 4 tatuagens! — exclamei. A acastanhada riu, achando normal. Particularmente, achei muito esquisito... Minha mãe jamais autorizaria. — Apresentei a escola, ela é bem legal. Acho que você e ela vão se dar bem, vocês se parecem...

RebellisOnde histórias criam vida. Descubra agora