sushis, marcações e médicas

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Hoje era para ter sido considerado um dia normal.

Quarta-feira, véspera da véspera do Dia D, geral tranquilo e ao mesmo tempo ansioso para a festa de amanhã. Digo, com exceção de Chaeyoung, que durante o horário de aula, soltava fogo pelas ventas.

- Cara, ele não teve noção nenhuma em me chamar só para falar aquilo?! - dizia, andando comigo pelos corredores, os nossos tênis arrastando em um som bem irritante pelo piso bem encerado.

Voltávamos da última aula do dia, a de astronomia, que no caso, fazemos juntas. Chaeyoung havia encomendado uma bandeja de sushi em um aplicativo de entrega, e a previsão de chegada é de 15 minutos. Tempo o suficiente para irmos até o quarto deixar o material e depois voltar.

Já eram quase 18h, se observar a tonalidade do céu e movimento escasso.

- Ele não estava preparado para ver o vídeo circulando pelos alunos - falei, mexendo no bolso da calça para achar a chave, enquanto Chaeyoung bufou, pela vigésima vez no dia.

-É só um vídeo de um beijo??? E se eu tivesse beijando um cara? Duvido que ele iria me mandar chamar na sala dele. - disse, indignada e batendo os pés no chão. Aquilo foi estranhamente fofo na minha mente.

A questão toda foi que um vídeo de Roseanne e Chaeyoung se beijando espalhou por todo internato - feminino e masculino - desde ontem, terça-feira, o que fez, definitivamente, olhares estranhos de funcionários em direção às duas.

Chaeyoung parecia lidar bem com eles. O problema mesmo foi o fato de Yang Lee, nosso diretor, ter chamado as duas garotas para repreendê-las de algo que aconteceu fora do muro da escola estadual. Isso irritou Son profundamente, no ponto dela discutir com o diretor.

Sim.

Discutir.

- Não sei o que aconteceria se você tivesse beijando um garoto. - resmunguei, baixo, já dentro do quarto, colocando minha mochila meticulosamente em cima da cadeira da minha escrivaninha, ao contrário da outra, que arremessou a mesma no chão do quarto, do seu lado.

- Espero que ele vá para a puta que pariu. Deu vontade de enfiar a língua na garganta de todas as meninas LGBTQI dessa escola! - falou, em alto e bom som. Eu estagnei por segundos no lugar.

Porque... bom.

Eu sou uma das garotas LGBTQI da YoungSan.

Engoli em seco, balançando a cabeça. Chaeyoung pareceu não notar o meu fora do ar e nem se incomodar com a falta de resposta. Escutei barulhos de notas e moedas, então presumi que a mesma estava se preocupando com o pagamento do sushi que encomendou.

- Quer que eu inteire? - perguntei, quando a mesma ainda contava. Ela virou, sorrindo para mim e negando.

- Deu aqui. Tu quer ir lá comigo, buscar? - mordi a boca, negando. Não sei. - Beleza. Já volto! - e passou pela porta, sorrindo e deixando um típico buraco no quarto, sem a sua presença.

Eu dei uma volta no local, pensativa.

Alguns meses atrás, para mim, a prática de encomendar comida e receber aqui no dormitório era, sem dúvida, errada. Porque, primeiro, não existia uma norma que permitisse, e segundo, ninguém sabia como fazer aquilo.

Na realidade, nenhuma aluna sequer cogitou aquilo.

Até que Chaeyoung disse para mim durante os intervalos entre as aulas há alguns dias, que leu e releu inúmeras vezes as regras da escola. E de fato, não existe uma norma que permite nem proíbe pedir comida na rua para entregarem aqui. Então, no seu mais profundo desejo de afundar a cara em doces, fez amizade com o senhor que fica na guarita do internato e desde então a única coisa que a garota tem de fazer para comprar comida é avisar ao homem para pegar pra ela.

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