Passar o fim de semana com minha mãe e meu pai é sempre um inferno interno para mim.
Eu... Me sinto presa num labirinto sem saída, onde tento agradar ao máximo os dois para evitar questionamentos. Desacostumei com isso, já que 90% dos meus fins de semanas passo com vovó.
Na sexta-feira, estava crente que iria para casa de Myoui Akemi. A senhora havia inventado de fazer brownies e gostaria que sua neta — a única — fosse lá comer. Os planos foram interrompidos quando meu pai surgiu na porta da escola, pronto para me levar para Seul. Visita de mês.
Lembro que estava saindo com Sana, Chaeyoung e Nayeon. Im nos mostrava um vídeo bobo qualquer em seu celular, enquanto Son tinha um braço apoiado no meu ombro, me abraçando de lado. Quando eu vi o carro preto parado e Akira do lado de fora com os braços cruzados, fiquei tensa.
"É o seu pai?", ao meu lado, Chaeyoung indagou. Eu assenti, sem nem dar um tchau direito, indo na direção do homem.
Tudo que meu genitor perguntou ao longo da viagem foi: "Você fez novas amigas?", e minha resposta foi um balançar suave de cabeça, enquanto olhava pela janela. Em outro momento, perguntou se Nayeon estava bem e senti o sentimento de estranhamento foi inevitável, porém, apenas respondi que sim, ela está bem.
Sinto que meu pai se importa mais comigo do que minha mãe.
Não sei se é devido a vovó, mas Akira parece ser muito mais aberto a conversar comigo; eu que não dou a liberdade. É triste, porque sinto que ele me aceitaria de qualquer maneira, só é influenciado pela minha mãe e segue a risca do "o que é melhor para os filhos é o que os pais querem".
Assim que cheguei em casa, dei um abraço um tanto robótico na minha genitora e fomos almoçar num restaurante; sei que ela deu a ideia apenas para se certificar se eu esqueci das regras de etiqueta e se eu continuava seguindo aquela alimentação com verduras e legumes "para não ficar gorda". O resto do fim de semana fiquei no quarto, estudando, sendo chamada somente para comer.
A única coisa que me fez feliz foi durante o sábado, quando Chaeyoung me enviou uma mensagem quase às 22h, perguntando se eu desejava conversar por vídeo-chamada. Tive que fazer o esforço de não falar muito alto para não atrair a atenção de Maiko, porém ficamos papeando até meia-noite, quando a morena dormiu ao meio da ligação.
No domingo, no momento que meu pai me levou de volta para a YoungSan, o mais velho questionou se eu queria ir tomar um café com ele por ali perto. Apenas confirmei meio molenga e indiquei a 24/7, uma lanchonete muito boa e barata perto do colégio. Sabia que tinha coisa debaixo dos panos depois que ele pagou um chocolate quente e umas rosquinhas — quebrando a dieta de mamãe — e resmungou que vovó Akemi havia fofocado para ele que eu não queria fazer o curso que meus genitores desejavam. E se aquilo era verdade.
Foi um desespero interno.
Morrendo de medo, respondi que sim, mas que eu faria mesmo que não fosse meu desejo.
Ele ficou quieto. Pagou a conta, me deixou na escola, deu um beijo na minha testa e foi embora.
Segui até meu quarto, um bolo na garganta foi formado e uma queimação nos olhos, me deixando louca para chorar. Cheguei lá em tempo recorde e assim que abri a porta e constatei que não havia ninguém ali, eu chorei.
Chorei muito, como não fazia há muito tempo.
Sinto que meus pais são dois desconhecidos para mim, que me forçaram a viver em uma bolha que eu definitivamente queria sair, mas que não conseguia. Eu tive até falta de ar em meios aos soluços, o meu corpo parecia dormente e minhas mãos tremiam. A minha intenção era parar de chorar antes das seis, horário que Chae chegava, mas deu tudo errado quando ela apareceu mais cedo e me pegou soluçando sob a cama.
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Rebellis
Hayran KurguCom uma vida totalmente monótona devido a sua dificuldade de se relacionar e medo da própria família, Myoui Mina não colocava muitas expectativas no seu último ano do ensino médio. A tendência em esconder a bissexualidade e paixões internas vem do o...