internatos, chaveiros e novatas

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Muitos artigos em revistas, jornais ou até mesmo na internet descrevem que o ensino médio pode ser considerado o momento mais turbulento na vida como um todo. Não importa onde nasceu, quem te criou, sua classe social... No colegial, você sempre se depara com opiniões, pessoas e coisas diferentes das quais você se acostumou durante toda sua vida.

É como se fosse outro ponto de partida para sua personalidade.

E eu digo, que sim.

A visão de um mundo ruim fez com que meus pais, Myoui Akira e Myoui Maiko, me tirassem do Japão aos 15 anos de idade, diretamente para a Coréia do Sul. Com o pensamento retrógrado, achavam que a vida que eles levavam no meu país natal poderia mudar minha conduta "espetacular" e por isso migraram-se. O combo para a mudança foi o novo emprego de arquiteto em Seul que Akira, meu pai, conseguiu. Para mim o problema não foi esse — na realidade, fiquei muito feliz porque a minha avó morava na Coréia —, foi que, não satisfeitos com a vinda repentina para outro país, me matricularam num internato.

Especificando: Internato Estadual Kim YoungSan.

No início, como sempre, fingi gostar da ideia para agradar meus genitores, que sempre afirmaram a minha posição de filha única e imaculada — em outras palavras, a mais obediente, a mais discreta, a mais inteligente. Mas, no instante em que me opus a ideia, durante um jantar, mamãe me repreendeu: "um internato será melhor para alimentar sua capacidade cognitiva, além de não te expor a estes adolescentes desalmados de escolas normais".

É verdade. O colégio não é tão ruim.

Sigo as regras do local de forma metódica. Dormir antes das 23h, acordar às 6h30, ir para casa ao da minha avó ou da minha mãe aos fins de semana, 80 pontos a média no ano — ainda que a média escolar fosse 60 — e nunca, jamais, contestar a ordem de um superior, seja ele professor, aluno do grêmio e principalmente o diretor.

Acho que por isso sou considerada uma das melhores alunas desse lugar.

Ao contrário de mim, minha única e melhor amiga, Nayeon, frequentemente é chamada na direção e não é por ser aluna destaque, como é meu caso. Seja por ser encontrada aos beijos com uma garota ou de penetra nos "Dias D" do terceiro ano, algo ruim ela fez para parar na sala do Senhor Lee. O grêmio a odeia, e por conta disso eles nunca a deixam fazer parte do jornal do internato.

Sinceramente, não sei como Im permanece ao meu lado, porque provavelmente sou a pessoa mais medrosa que ela já teve o desprazer de conhecer. É quase como se eu fosse uma garota tímida introvertida esperando uma aluna extrovertida me adotar; e de certo, ela o fez. Porém, quando descobriu que por debaixo daquela faceta de inteligente e melhor aluna da escola, eu possuía muito mais coisas que aparentava, começou a puxar a minha orelha.

E muito.

Desde meus 13 anos, descobri que gosto de garotas e garotos. Entretanto, o medo e o receio de me assumir para o mundo é algo enraizado na minha cabeça, tão enraizado que até hoje a única pessoa que tem a noção de minha sexualidade é Im Nayeon.

Eu morava no Japão quando me apaixonei por uma garota pela primeira vez. Por mais que ela fosse uns 3 anos mais velha que eu, o modo como andava toda... linda com uma calça jeans apertada e jaqueta de couro fazia meu coração bater forte. E eu pensava "Ah, ela só é bonita...". Mas não. Quando isso aconteceu mais uma vez, só que dessa vez com uma amiga minha próxima... a gente acabou se beijando. Era somente um selinho e mãos dadas, hiper escondido de todo mundo, mas eu entendi que gostava dela. De toda forma, quando aconteceu o primeiro beijo de língua e ela não quis nada muito sério, me senti triste. De coração partido. Aí eu entendi.

Até nessa época, que eu só havia me apaixonado por meninos, me denominava "em questionamento" — na minha mente —, porém, após o primeiro coração partido por uma garota, pesquisei mais sobre o assunto e descobri a bissexualidade. É uma das diversas siglas do "LGBTQI" que minha mãe tanto odeia. Nesse dia, também apaguei todo meu histórico da internet; meu pai inspeciona tudo em meu notebook, inclusive minhas pesquisas. Akira com toda certeza pensava que eu não tinha noção disso, contudo descobri através de mamãe, na época: ela perguntou porque eu estava interessada em balé de novo. Eu só havia pesquisado no Google, e a única pessoa que sabia a senha do meu notebook era ele.

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