Durante meu primeiro ano do ensino médio, aprendi sobre um filósofo em específico que nunca esqueci: Parmênides. Não faz muito tempo, inclusive. Esse homem dizia que não existem mudanças verdadeiras. Porém, na mesma época, aprendi também sobre outro filósofo que contradiz ele: Heráclito. Ele defendia que, na verdade, tudo muda.
Não se entra no mesmo rio duas vezes.
Ainda que em ambos os casos eu pudesse encontrar diversas aplicações no dia-a-dia, a que me fez pensar em toda essa filosofia de mudança estava circulando por toda casa, nesse exato momento: o cheiro da comida de minha avó.
Ok. Eu sei que é meio — muito — estranho eu associar a comida da minha avó paterna com filósofos, mas é o que vem na minha cabeça.
Eu penso muito. Juro. E faço comparações com tudo. É mais forte que eu. A questão do conforto que sinto com vovó sempre me faz criar comparações ridículas na minha cabeça. Em todo caso, minha avó é a pessoa mais amorosa desse mundo todo.
A questão de agir diferente quando estou com minha mãe e meu pai não funciona aqui, na casa de minha progenitora em Ulsan. Acredito que, caso algum dia me pedissem para escolher uma pessoa para proteger por todo o resto de minha vida, seria minha avó. Ela é, possivelmente, a única pessoa da minha família que eu não preciso agir como se estivesse pisando em ovos, então eu deposito uma quantidade significativa de confiança em si.
Pensar na possível morte dela me apavora. Digo... Ela nem é tão velha assim, mas, mesmo assim. Certas vezes ela vem com alguns papos como "Mina, minha neta, vou viver pra sempre não!" e eu só consigo olhar apavorada para ela, mesmo que seja uma piada.
Não, vovó, não é nada tranquilo pensar na herança gorda que cairá sobre mim, caso você morrer.
Myoui Akemi tem 67 anos, praticamente três palmos mais baixa que eu e uma língua afiada que não tem filtro nenhum. Quando deu à luz a meu pai, era bem nova... A diferença entre os dois é de 16 anos; isso me assusta porque sou mais velha que ela na época e ainda nem formada sou. Me faz pensar em como as coisas mudam.
E sobre filósofos.
Sorri, grande.
O som da faca afiada descendo na cenoura que eu cortava era prazeroso. Eu cortava alguns legumes para a velhinha, que por um pedido meu fazia um ensopado que só ela consegue fazer. Esse tipo de coisa é exatamente o que faço por puro prazer. Realmente, com tanto carinho que pode até se comparar com as poucas coisas que gosto de fazer além de ler e escutar Michael Jackson: dançar.
— Mina — Akemi chamou minha atenção. Momentos atrás ela tagarelava sobre como a vizinha estava pisando nas camélias dela, que só floresciam no inverno. Ai, vovó deu a louca, porque parece que ela cultiva um amor por camélias desde que era nova, em 1950 e bolinha. E eu ficava calada; se dissesse que a velha não tinha certeza de nada, com toda certeza ela me bateria com a colher de pau que estava na sua mão nesse instante. Ah... O carinho dos idosos. Virei, me deparando com ela mexendo em alguns temperos na panela. —, me passa a pimenta. — fiz uma careta, porque a pimenta estava na prateleira mais alta.
Não sei a necessidade de prateleiras altas em uma casa de uma mulher tão baixa.
Ao alcançar, entreguei logo o vidro para Akemi, que sorriu carinhosamente.
— De nada — resmunguei. Ela riu, resmungando um "obrigada".
— Enfim, eu ia te perguntar uma coisa, só que esqueci... — disse, do nada. Franzi o cenho, virando para a mais velha. — Ah! Estava conversando com a dona da outra rua e ela disse que a neta dela entrou numa faculdade de Psicologia, aí me perguntou o que você queria fazer. E eu não sabia responder! — exclama, como se fosse um absurdo. Soltei um risinho, balançando a cabeça. — O que você vai fazer quando acabar a escola?
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Rebellis
FanfictionCom uma vida totalmente monótona devido a sua dificuldade de se relacionar e medo da própria família, Myoui Mina não colocava muitas expectativas no seu último ano do ensino médio. A tendência em esconder a bissexualidade e paixões internas vem do o...