Suicídio

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Vou contar um relato de um dos meus clientes de tarô.
Ele tem depressão, perdeu o emprego, a esposa o traiu.
Ha três anos ele e a esposa foram se distanciando depois da morte do filho unico de 5 anos. O filho teve leucemia e entre a descoberta da doença e morte do menino foram apenas 5 dias.
Ele conta que isso destruiu tudo o que tinham. A dor da perda foi irreversível e avassaladora.
Foram se afastando, quando imerso na sua dor. Ela queria outro filho e eles tentaram... mas não conseguiram. Até pensaram em fazer inseminação, o que era muito caro para eles.
Ele soube que ela o estava traindo, mas estava disposto a continuar juntos. Ele a amava... mas ela engravidou do amante e foram morar juntos!
Então, 2020 foi a gota que fez transbordar o que restava entre eles.
No dia 10 de outubro, depois da esposa ter levado suas roupas e dito adeus, ele concluiu que não valia a pena viver mais.
Ele conseguia entender e resolveu aceitar o fim! Era realmente o fim pra ele.
Pegou uma corda que guardava em casa. Fez um laço, ajeitou uma cadeira, escreveu uma carta explicando seus sentimentos e dando o ultimo adeus, beijou a foto do filho, deu um impulso e pulou da cadeira.
Segundo ele, a dor que sentiu é inexplicável. Mas entre a dor, viu todos os momentos importantes da sua vida passarem diante seus olhos dentro do seu quarto e era exatamente como se essas imagens estivessem em HD ao seu redor. Ele era telespectador da sua vida.
Mesmo agonizando, sabia que poderia tocar os pés no chão e levantar-se a qualquer momento. Racionalmente era possível sim. Porém quando ele olhou pra o chão, existia um abismo e ele via e ouvia seres de expressão horripilantes gritando, incentivando a não desistir do ato e alguns agarravam seus pés o que fazia mais pressão no laço ao redor do seu pescoço.
A agonia dura horas e horas... o tempo tem outra medida... e segundo são horas.
Então ouviu um barulho muito forte, a porta do seu quarto tinha sido aberta e vou seres de pele muito branca, olhos amarelos vindo na sua direção e desmaiou. Esses seres pareciam quase humanos, segundo ele.
Por ter sido criado em uma família Católica, em seu pensamento tinha morrido e ido para o inferno ou vale dos suicidas e instantaneamente arrependeu-se do seu ato de desespero.
Mas o que seguiu depois disso, foi ainda pior e mais bizarro!
Acordava e perdia a consciência! Sabia que ainda estava no seu quarto, mas não era exatamente como ele sabia ser o cômodo.
As paredes eram de uma cor “suja”, encardida, tons de marrom e amareladas! Ao seu redor, móveis antigos, meio destruídos e aos pedaços. Fazia muito frio, era um frio de freezer... respirar aquele ar congelante dois no peito, por dentro... da janela, via tudo neblinado, cinza, quase escuro. De vez em quando, algum daqueles seres quase humanos,  entrava no quarto e o chutava. Outros o arrastavam, pisavam em seu pescoço. Sentia a corda ao redor do pescoço e a ferida queimava como brasa em fogo!
Sentia defecar e urinar na própria roupa e por incrível e nojento que pareça, dava sensação de alívio e o aquecia.
Durante todo o tempo, ouvia uma música sem fim, perturbadora, irritante e incomoda. Não havia voz na música mas pareciam instrumentos desconhecidos que estavam desafinados e gota de ritmo.
Sentia fome e muita sede. Quando um ser entrou no quarto, tentou pedir ajuda e foi que ele ouviu, numa língua quase como a nossa, quase compreensível as palavras e o som da voz era como um berro, um grito estridente que atingiu seu tímpano!
E ouviu:
- Seu desgraçado, incapaz, ingrata, maldito do mundo abençoado! Você tinha tudo, tudo que desejamos e não valorizou! Fome, sede?!? Não daremos do nosso líquido fétido e nem da nossa carne podre. Você não merece nem o resto que temos!
Sentiu o pontapé atingir seu queixo e desmaiou outra vez!
Não ousou dizer mais nada para nenhum outro!
Mas as surras, chutes, pisões continuaram! Era como se ele estivesse ali exposto como para servir de exemplo e escárnio!
Ele não aguentava mais! Não conseguia mais suporte a frio, a dor, a fome e sede.
Não entendia o que era tudo aquilo. Até que ouviu um berrante ou buzina tocar... não soube precisar que outro barulho era aquele! Viu as portas se abrirem e o seu quarto ser invadido não por um e sim por uma multidão de seres... ouviu dizer que “ELE” se juntaria à eles também. Foi então que viu passar algo de forma “ infinita”, quase transparente passar pela porta e ir tomando forma. Era um demônio, algo que jamais sequer imaginara.
Todos abaixaram a cabeça e aquele ser, o ELE caminhou em sua direção e seu corpo foi levantado por moos invisíveis. Sua cabeça encostou no teto do quarto e sentiu seus ossos, cada um dos seus ossos serem esmagados. E a dor que ele diz ter sentido, o fez berrar, gritar até clamar por perdão. Seus olhos estavam quase saindo das órbitas, tamanha a pressão e força daquelas mãos!
Viu novamente em HD tudo que ainda tinha para viver. Futuros momentos felizes, vida refeita, um novo amor, melhor emprego...O futuro lhe foi mostrado!
Foi quando o sentimento de arrependimento tomou conta de si, seu corpo foi lançado novamente ao chão! Quando abriu os olhos, estava sozinho e reconheceu seu quarto tal como era! Estava realmente no seu quarto... arrastou-se até a cama... pegou seu celular que tinha ainda 3% de bateria! Notou que era dia 23 de outubro! 23!!!!!!
Ligou para emergência. Acredita que entre palavras desconexas, conseguiu dizer seu endereço.
Acordou novamente no hospital e soube que tinha fraturado várias partes do corpo.
Sua família, que durante esse tempo não tinha notícias suas, já tinha feito um boletim na polícia relatando seu sumiço.
Seus pais estiveram em sua casa, inclusive no seu quarto. Viram o laço amarrado, a cadeira caída, mas ninguém o viu caído no chão do quarto. Como era possível, o cliente me perguntou! Como?!?
Hoje ele está numa clínica de repouso, passando por terapia e acompanhamento. Não teve coragem de contar a ninguém antes de mim.
Eu perguntei se ele tomava remédios como antidepressivos ou fazia uso de drogas. Ele jurou que sequer bebia qualquer alcoólico.

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