Crânio mergulhou nos estudos. Física, computação, problemas de xadrez
tornaram-se para ele não um modo de aprender, mas de esquecer. Esquecer os
Karas, esquecer Magrí...
Era noite. Tarde. Montou no tabuleiro um problema de xadrez. O rei negro
leva mate frente à dama branca. Em três lances. "Os três lances já foram jogados,
Magri... O reí já caiu. .."
***
Dona Iolanda dormia placidamente na poltrona do avião, depois da refeição
servida pelas comissárias de bordo.
Ao lado da professora, sentada na poltrona do corredor, Magrí tirou os fones
de ouvido e ficou olhando, desinteressada, o filme que era exibido a bordo do avião.
Um filme agora mudo como uma comédia antiga. Uma comédia triste de Chaplin...
Atrás do bigodinho, Magrí imaginava uma carinha especial. Um "Karinha"
especial. .. O seu Kara. Seu? Como ele poderia ser seu? Como ela poderia ser dele?
E os outros dois? Ai, o que fazer?
Levantou-se da poltrona, sentindo os músculos dormentes pela longa
permanência no avião e pelo esforço em fingir a contusão no tornozelo.
Toda a cabine estava às escuras.
***
"Preciso relaxar, dormir. Amanhã eu tenho ensaio... preciso dormir...
dormir... Dormir, talvez sonhar... e, nesse sonho, sonhar que tudo está acabado, tudo
resolvido... Magrí esquecida... Aaaahhh! Esquecida! Que piada! Não, não, não! Não
é o Hamlet que eu vou fazer. Vou fazer o Folial... de 'O Escorial'... Michel de
Ghelderode... um belga... Ainda não sei as falas do Folial de cor... O rei diz: 'Tantas
flores, tantas flores... E eu soluçarei por causa das flores... pela minha querida
rainhazinha...' Magrí... ãhn, ãhn, ãhn... 'Chorarei como tu haverias de chorar por
mim, querida rainhazinha, se a morte se houvesse enganado de quarto... Tem graça!
E ninguém foi testemunha de minhas lágrimas. Ei, Folial! Bufão maldito que não
viste chorar teu rei! Folial, meus cães te devoraram, carne cômica?' Ãhn, ãhn, ãhn...
'Vossos cães são os cães do rei, senhor. Devorariam vossos cortesãos, não vossos
valetes...' Ai, e depois? Qual é a próxima fala? Ãhn, ãhn, ãhn... 'Blasfemador!
Aquela que agoniza é bela, pura e santa! Morre por causa do silêncio e das trevas
deste palácio, cujas paredes têm olhos, e cujos salões de festa ocultam armadilhas e
instrumentos de tortura! Morre porque viveu entre seres sinistros, longe do sol,
seqüestrada e estranha. Morre, rainha sem povo, de um reino que goteja sangue,
onde reinam espiões e inquisidores.' Ãhn, ãhn, ãhn... 'Digo-vos que a morte é uma
benfeitora, cuja chegada desejei, como vós a desejastes. E ela se apresentou
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A DROGA DO AMOR - Pedro Bandeira
RandomEsta obra não é de minha autoria apenas estou passando para o wattpad por causa de um negócio da escola, sem contar que aqui fica bem mais fácil de ler.