16. ESSES MALDITOS NÃO PERDEM TEMPO!

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Mal Andrade e Miguel viram os dois homens voltarem da viela e

colocarem-se novamente junto ao carro escuro, o detetive ligou a ignição e deslizou

até uma rua paralela ao quarteirão do hospital, onde o encontro de todos tinha sido

marcado.

Da viela, Magrí e Crânio saíram rapidamente. Calú os esperava. Correram

para a rua combinada.

Apressados, nenhum dos três olhou para trás.

E nenhum deles viu uma figurinha disforme, torta, saindo da viela atrás

deles.

Como uma aranha, feia, assustadora...

Quando chegaram no fusquinha, o rosto de Magrí estava vermelho, em

brasa. Ela pediu excitada:

— Por favor, rode, Andrade. Rode a esmo por aí. Vocês não imaginam o

que eu descobri...

Em marcha lenta, Andrade procurou ruas de pouco movimento.

— Dona Iolanda é prisioneira daquele hospital. Não está em coma coisa

nenhuma! O ferimento dela é superficial. Um corte queimado de bala sob a axila,

perto do seio esquerdo.

— Mas ela não perdeu os sentidos, quando foi ferida, lá no aeroporto?

— Deve ter desmaiado apenas pela dor e pelo susto, Calú. Mas o maldito

Doutor Q.I. não quer que ela fale. Estão mantendo dona Iolanda dopada, semi-

anestesiada, inconsciente, com dois gorilões guardando a porta do quarto. Eu dei um

jeito de jogar fora o anestésico que estava ligado à veia dela e coloquei soro

fisiológico no lugar.

— Boa, Magrí!

— Eu não sou médica, mas qualquer pessoa sabe que soro fisiológico não

faz mal a ninguém. Só que a gente não pode perder tempo. Logo que eles

descobrirem que a tal "menininha" grávida desapareceu, vão desconfiar que alguma

coisa anormal está acontecendo. E eles não são de brincadeira. Precisamos agir

depressa!

— Isso é comigo! — encerrou Andrade. — Não posso invadir o hospital

sem uma ordem judicial. Mas posso alegar que dona Iolanda é uma testemunha

importante no caso do seqüestro do doutor Bartholomew Flanagan e que precisa de

proteção policial.

Pelo radiotransmissor do carro, ligou para a central e pediu uma viatura,

urgente.

— Vou deixar dois guardas o tempo todo na porta do quarto da professora.

Os bandidos não vão poder fazer mais nada contra ela. Só que eu não vou esperar

até a chegada da viatura. Magrí e Crânio, vocês já fizeram muito, por hoje. Fiquem

aqui no carro, de olho na saída do hospital. Calú e Miguel, venham comigo!

Os três saíram apressados.

Nem os dois homens de terno, nem o carro escuro estavam mais em frente

ao hospital.

***

Os três entraram no saguão.

Um médico discutia com a recepcionista. Ao ver o gordo "pai", que há

pouco tempo entrara com a filha grávida, a recepcionista ficou sem jeito:

— Oh, é o senhor? Desculpe, mas a sua filha desapareceu. Não foi culpa

nossa, porque...

O detetive interrompeu-a com um gesto e mostrou sua identificação de

policial.

— Sou o detetive Andrade. Preciso garantir a segurança de uma paciente,

que é testemunha-chave de um caso policial.

— Sua filha? — a recepcionista estava desorientada. — Mas ela

desapareceu. Como é que...

— Não é a minha filha. É dona Iolanda Negri.

— Desculpe, mas o senhor não pode interferir no trat... — começou a falar o

médico.

— Não vou interferir em nada. Só quero garantir a proteção dessa

testemunha...

***

Magrí e Crânio, ansiosos, estavam sozinhos no fusca, aguardando os

acontecimentos.

Sozinhos... Magrí olhou para o garoto como se olhasse o mar e procurasse

enxergar os peixes que nadam nas profundidades abissais.

O rapaz aproximou-se dela.

— Oh, Magrí...

Com delicadeza, Magrí encostou a mão no peito do rapaz, detendo-o.

— Crânio, precisamos conversar. . .

***

Acompanhados pelo médico, Andrade e os dois Karas pegaram o elevador

para o quinto andar.

Apressado, Miguel passou em frente aos outros.

— Onde é o quarto dela?

— O quinhentos e doze...

O comandante dos Karas correu para lá.

Em frente ao quarto da UTI, não havia mais nenhum gorila de guarda.

Abriu a porta.

Dentro do quinhentos e doze, só havia uma cama vazia.

***

Depois da conversa, Crânio tinha uma expressão distante, como se não

estivesse ali.

Os dois nada mais falavam.

Nesse momento, Crânio apontou:

— Olhe, Magrí! Acho que estão nos espionando!

— Onde?

— Já sumiu. Que coisa horrível!

— Horrível? O que é que você viu?

— Você não vai acreditar, Magrí. Era um anão horrendo!

— Um anão?!

***

Miguel e Calú corriam para o carro.

— Magrí! Crânio! Vocês não imaginam! Dona Iolanda desapareceu!

Crânio deu um soco no painel do carro:

— Malditos! Esses malditos não perdem tempo!

A DROGA DO AMOR - Pedro Bandeira Onde histórias criam vida. Descubra agora