1 4. VOCÉ PRECISA VIVER, MEU AMORZINHO

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A UTI ficava no último andar.

Magrí entrou no longo corredor de cabeça baixa, varrendo os cantos, de

modo que seu rosto ficasse protegido de qualquer olhar.

Com o canto dos olhos, viu, em frente a uma porta, dois homens em pé,

apoiados na parede. Dois gorilões.

Por que dois homens estariam ali, guardando apenas uma das portas? Seriam

seguranças protegendo algum político internado? Magrí duvidou:

"Aposto que aquele é o quarto onde está dona Iolanda... E esses só podem

ser homens do Doutor Q.I.! O que querem com a minha professora?"

Precisava pensar no que fazer. Abriu a primeira porta e entrou.

Era um quarto grande, e as luzes estavam apagadas. As cortinas filtravam

um pouco da claridade da manhã.

A menina olhou para o retângulo de vidro da porta que fechara atrás de si.

E, pelo lado contrário, leu o que estava escrito: Isolamento Infantil

Logo abaixo, lá estava a sinistra sigla da praga do século... Magrí sentiu o

coração apertar-se.

Aproximou-se de um dos berços.

Um bebê dormia. Pouco mais de um ano de idade, talvez dois... Um

esqueletinho, coberto por manchas vermelho-escuras. Respirava com dificuldade.

Tubos espetavam-se em seus braços.

"Essa criança nunca mais vai brincar... Perdeu a chance de descobrir o

mundo, de fazer parte dele... Ai! Por quê? Por que ela foi amaldiçoada? Por que a

morte tem de levar esse bebê? O que essa criança fez para merecer isso?"

Esquecendo-se por um momento do que viera fazer ali, a menina debruçou-

se sobre o berço e beijou ternamente o rostinho magro, adormecido.

"Meu amorzinho... Viva, por favor! Como alguém pode roubar o soro que

poderia fazer você sorrir de novo? Que poderia fazer você brincar novamente com

as outras crianças? Como pode alguém ser tão cruel? Como pode alguém pensar em

lucrar com a sua morte? Por que, queridinho? Por quê?"

Magrí chorou sobre o bebê, como se o sal de suas lágrimas pudesse arrancar

aquela praga que destruía uma vida como aquela, tão tenra, tão inocente...

"Ah, meu queridinho! Eu tenho de lutar! Eu não posso deixar você morrer!

Você precisa da Droga do Amor, porque esse mundo precisa do seu amor, da sua

vida! Esse mundo será pior, mais feio, mais vazio se você morrer... Eu nem sei como

é o seu nome. Talvez eu nunca pudesse ver você crescer, tornar-se adulto, mas eu

preciso que você viva!"

Levantou-se, decidida.

***

Magrí afastou ligeiramente as cortinas de uma das janelas da sala de

isolamento infantil. Abriu a vidraça e olhou.

A DROGA DO AMOR - Pedro Bandeira Onde histórias criam vida. Descubra agora