18. QUATRO SÉCULOS DE CADEIA

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O diretor da Penitenciária Estadual de Segurança Máxima levou os quatro

Karas e o detetive Andrade para uma sala escura. Em uma das paredes, um vidro

grande permitia que se visse perfeitamente outra sala, muito bem iluminada, com

uma mesa e duas cadeiras. Era um vidro, quando visto da sala escura; mas, quando

visto da sala iluminada, aquilo era apenas um grande espelho.

— Deste lado, podemos ver tudo o que acontece do lado de lá — explicou o

diretor, apontando para a sala iluminada que se via através do vidro. — Mas, do

outro lado, o prisioneiro só verá um espelho. Podemos também ouvir tudo, pois a

sala tem microfones embutidos.

— Já conheço tudo isso, diretor... — resmungou Andrade, de mau humor.

— Eta zdiêss ani mútchaiút arestovanej? — perguntou Iúri Mikhailevich.

Mas, como foi em russo, não houve resposta porque ninguém entendeu nada. O

pobre Iúri sentia-se perdido...

— Muito bem, detetive — continuou o diretor. — Já mandei chamar os

quatro sentenciados que aguardam transferência daqui. Juntos, eles ainda têm a

cumprir mais de quatro séculos de cadeia. Pelo jeito, a periculosidade deles diminuiu

muito. Apresentam bom comportamento há anos. Por isso estão sendo transferidos

para outras penitenciárias. A junta de conselheiros decidiu que eles já podem

cumprir suas penas em regime menos rígido do que o daqui.

— Vamos logo, diretor, vamos logo! — apressou Andrade.

— Certo, detetive Andrade. Separadamente, mandei avisar a cada um dos

prisioneiros que um sobrinho veio visitá-lo. Qual de vocês vai ser o primeiro

"sobrinho"?

— Eu — apresentou-se Miguel.

O diretor abriu a porta de comunicação entre as duas salas e Miguel ficou na

sala iluminada, sozinho, sentado em uma das cadeiras.

O diretor deu uma ordem pelo telefone.

***

A porta da sala iluminada abriu-se e um negro enorme entrou algemado,

com dois guardas como escolta.

Miguel, meio sem jeito, cumprimentou:

— Olá, tio...

O prisioneiro nem se sentou na cadeira que um dos guardas lhe apontava.

Parou e olhou espantado para o rapazinho.

— Tio? Que negócio é esse de tio? Como é que eu posso ser seu tio? Que

história é essa? Isso é uma armação? Uma armadilha para pegar aqui o pássaro

preto? Quem te mandou, moleque? Foi o Nego Cão? Pois pode dizer pra ele que eu

agora estou fora. Estou fora, está me ouvindo? Guarda, me leva daqui! Me leva

daqui! Não quero mais negócios com o Nego Cão! Me leva daqui!

***

Na sala escura, depois que o prisioneiro foi levado pelos guardas, o diretor

não estava nem um pouco animado.

A DROGA DO AMOR - Pedro Bandeira Onde histórias criam vida. Descubra agora