12. POR TODOS OS SOFRIMENTOS DO MUNDO

109 6 1
                                    

A noite já estava avançada e a sala da Central de Polícia cheia da fumaça

dos muitos cigarros consumidos na reunião.

Andrade não fumava. O que ele sentia, naquele momento, era a garganta e

os olhos ardentes da fumaça dos outros. E uma fome desesperada.

Um guarda saiu para buscar sanduíches. Três para Andrade e um para cada

participante da reunião: o doutor Hector Morales, o diretor da Penitenciária de

Segurança Máxima, dois homenzarrões altos e corpulentos e uma senhora magrinha

que estava lá como intérprete, já que os dois grandalhões não entendiam uma

palavra de português.

Os dois tinham chegado ao entardecer, e Andrade estranhou quando foi

apresentado a eles pelo cônsul dos Estados Unidos:

— Estes são nossos especialistas em seqüestros do Federal Bureau of

Investigation, o FBI, como o senhor sabe, detetive Andrade. Este é o agente Patrick

Lockwood...

— Parece nome de tira de seriado! — resmungou Andrade, sabendo que os

agentes não entendiam português.

— Ah, ah, boa piada, detetive Andrade! E este outro é o agente Iúri

Mikhailevich...

— Iúri o quê?! — perguntou o gordo detetive, já meio incomodado pela

interferência estrangeira na sua investigação. — Isso não é nome russo?

— Bem... quer dizer... — gaguejou o cônsul. — É que Iúri era da KGB, a

polícia secreta dos soviéticos. Mas, como a União Soviética não existe mais, ele veio

procurar emprego nos Estados Unidos. O pessoal da CIA, a nossa polícia secreta,

recomendou-o muito bem. Daí, resolvemos aproveitá-lo no FBI...

"Esses americanos são uns malucos!", pensou Andrade, no início da reunião.

— Até agora não conseguimos descobrir como o Doutor Q.I. fugiu da nossa

prisão — começou o diretor da Peninteciária de Segurança Máxima. — Ele não

deixou pista alguma. Não há portas arrombadas, não há grades cerradas, os

computadores que controlam as celas e as saídas estão intactos, ninguém parece ter

sequer se aproximado das cercas e das portas eletrificadas. Só o que sei é que o

homem não está mais lá dentro. Sumiu como um fantasma!

A mulher magrinha traduziu rapidamente para o inglês. O agente Patrick

Lockwood fez uma expressão forçadamente inteligente e balançou a cabeça.

— Well... that's our incumber one suspect...

Iúri Mikhailevich perguntou:

— Shtó?... Oh, izvinítie... Me sorry... lá nitchevó nhe partimáiu... Me not

underrrstand verry well...

O russo ainda não havia aprendido inglês direito, e a mulher magrinha teve

de repetir tudo, bem lentamente, até que Iúri Mikhailevich demonstrasse ter

entendido.

— Pelo jeito, a segurança da sua penitenciária não é tão máxima assim, não

A DROGA DO AMOR - Pedro Bandeira Onde histórias criam vida. Descubra agora