15. EU TE AMO, DESESPERADAMENTE...

116 4 0
                                    

Magrí entrou como um gato pela janela do quarto.

Aos poucos, enquanto seus olhos acostumavam-se com a diferença de

iluminação, a menina foi percebendo a cama a sua frente. E o vulto adormecido.

Aproximou-se. Lá estava dona Iolanda.

A menina examinou superficialmente o corpo da professora. Abaixo da

axila esquerda, perto do seio, um curativo grande.

Não havia nenhum aparelho a que a professora estivesse ligada. Nem

monitores para o coração, nem respiradores artificiais, nada. Apenas um tubo estava

espetado na veia do braço, pingando gota a gota o líquido de um frasco pendurado

em um suporte ao lado da cama.

"Não parece tão grave, esse ferimento... Como é que ela pode estar em

coma? O que é isso? Aqui tem alguma coisa muito estranha... Não preciso ser

médica para saber que estar em coma não é isso .."

Desprendeu com cuidado um lado do esparadrapo e levantou uma ponta do

curativo.

Ali estava. Um corte meio fundo, lateral. A bala não tinha penetrado no

corpo da professora.

"Que história de coma é essa? Ah, preciso agir!"

Era um risco grande, mas a intuição e a inteligência da menina diziam-lhe

que se alguma coisa estava errada com dona Iolanda, só poderia ser o que vinha

daquele frasco e pingava-lhe na veia.

Suspirou, respirou fundo e decidiu-se.

"Uma decisão grave. Tenho de tomá-la. Vou tomá-la!" Olhou em volta.

Sobre uma mesinha de serviço, havia vários frascos. Em um deles, estava escrito

"soro fisiológico".

"Um soro inofensivo. Igual aos líquidos naturais do corpo humano. É disso

que eu preciso!"

Magrï retirou do suporte o frasco que estava dependurado, com o maior

cuidado. Despejou o conteúdo na pia. Lavou-o muito bem e reencheu-o com o soro

fisiológico.

Pronto. Tinha sido ousada demais. Mas Magrí era um Kara. Sentou-se ao

lado da professora e tomou-lhe a mão.

Dona Iólanda respirava bem, calmamente. O tempo passava, parecia uma

eternidade.

Até que a adormecida suspirou. Mexeu-se um pouco. Balançou a cabeça.

Era isso. Magrí estava certa. Era aquele líquido que fazia com que ela

ficasse adormecida. Um coma induzido!

"Mais um crime..."

Magrí colou a boca ao ouvido de dona Iolanda:

— Dona Iolanda, sou eu, Magrí.

Com um fio de voz, a professora falou:

— Magrí...

— Fique quieta, dona Iolanda. Por favor, fique quieta. Você está rne

entendendo?

— ... sim...

A DROGA DO AMOR - Pedro Bandeira Onde histórias criam vida. Descubra agora