《0.9》

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Pov's Noah

Hoje era dia da aula de literatura, há algumas semanas estávamos fazendo textos e lendo, eu resolvi fazer um texto sobre mim.

Eu não tinha férias legais para contar, ou viagens, eu apenas tinha a minha história e hoje eu iria ler.

Assim que chegamos na sala, a professora me chamou a frente. Eu fui tímido e alguém me acertou algo na cabeça, mas eu não liguei.

Me coloquei ao lado da professora e ela deu sinal para que eu começasse.

"Bom, eu sou o Noah, um garoto sem graça e que ninguém dá atenção. As pessoas não olham para mim, nem por um segundo. Aprendi a pensar que sou invisível, imperceptível, eu sou insignificante. Ninguém me vê, não tenho atrativos, não sou legal, nem tampouco muito inteligente.

Minha mãe e meu pai não me dizem que sou bonitinho, que sou querido, engraçadinho, que sou inteligente, que sou a alegria deles ou que sou especial. Para falar a verdade, eles nem me vêem, parece que sou como uma folha transparente.

Fico tão encolhido em meu canto, tentando me proteger. Parece que estou sozinho no mundo, me sinto assim de fato. Meus avós também não me querem, eu não saio nem nas férias, fico aqui em tempo integral. Não tenho uma família para voltar no Natal.

Tudo à minha volta é ameaçador, como se não tivesse ninguém para me proteger de qualquer perigo... Na verdade, não tem ninguém para fazer isso, nunca teve. Eu queria mesmo é que eles segurassem na minha mão e fizessem eu sentir a proteção, a força deles, sentir que estavam ao meu lado. Eles não me pegam no colo para que eu sintao calor deles e meu peito protegido.

Sinto um vazio em meu peito, é como se eu fosse agredido direro no peito tamanha é a minha necessidade e sinto que preciso fechar mais ainda o meu peito para me proteger. Dói muito esse vazio, dói a cada dia mais. Eu sou uma criança, eu quero colo! Eu quero que me apertem nos braços para sentir o tamanho do amor deles, mas eles não fazem isso.

Dia após dia cresce esse buraco. Tenho vontade de gritar para que eles percebam a minha presença e me vejam. Eu choro, choro muito, mas eles não entendem o que eu preciso. Pensam que quero comer ou beber, mas eu só quero carinho, atenção, colo, amor. Mas eles continuam a me deixar chorando num canto, esquecido em uma distante escola interna.

Na verdade, eles não querem me ouvir chorar, eles não entendem nada do que eu sinto. São dois insensíveis, como se nunca tivessem sido crianças. Não sentem amor, não me quiseram, me deixaram, me largaram e não conseguem entender o tamanho da minha solidão.

Eles nunca estiveram aqui para brincar comigo, para eu me sentir importante. Não me incentivaram, não me elogiaram.

Eu sempre tento ser um bom garoto para que eles me queiram, mas mesmo assim, eles nunca aparecem. E para completar, colocaram uma "bruxa" para cuidar de mim, que só me machuca ainda mais, me maltrata e também ignora minhas necessidades.

Ninguém vê o que ela faz comigo e quando descobrem algo, ninguém me acolhe, não veem a minha dor, não me defendem. Não me enxergam e nem me ajuda a curar a minha dor, que só aumenta. Parece que ninguém percebe que sou só uma criança, precisando de amor e dos meus pais.

Dizem que minha mãe morreu, eu acho que ela está viva, mas, onde ela está? Ela nem vem me ver. Ela não sente nada por mim. Sinto que estou ficando cada vez mais transparente! Dói tanto essa solidão! Será que sou feio? Errado? Desprezível? Sou tão sem graça, que ninguém me dá atenção? Eles me torturam com essa indiferença. Como que eu queria apenas me sentir amado! Que passassem a mão na minha cabeça, nos meus braços, nas minhas costas, para sentir o afago e o calor deles.

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