《0.7》

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Pov's Lauren

Estar com Taylor novamente era um misto de tantas sensações, eu estava feliz por ter minha prima novamente perto de mim, afinal, ela era minha família, ela era um pedacinho bom de mim, ela era minha parte boa em meio a toda aquela desordem. Eu estava ficando sonolenta, talvez fossem os remédios para dor que Allyson me deu, ou fosse somente o cansaço me vencendo de fato.

Cada vez que eu piscava os olhos, parecia que o quarto ficava mais escuro. Eu não sabia entender o que estava acontecendo comigo.

- Lauren, já falei para buscar a biblia!- Olhei confusa para o lado e Taylor estava sentada no chão, segurando sua Bíblia. Eu não conseguia entender, Taylor estava pequena, devia ter onze anos. Me virei e me olhei em um espelho, era eu menor. - Lauren Jauregui. - Olhei para o lado e minha mãe segurava aquela barra de aço e me olhava nervosa. Saí correndo e fui buscar a Bíblia em meu quarto, voltei apressada e me sentei ao lado de Tay.

- Pronto mãe.

- O que a bíblia diz sobre os homossexuais?

- Todos queimaram no fogo do inferno, o reino dos céus não são para eles. - Falei sem acreditar em uma palavra do que eu repetia.

- Você quer queimar no inferno?

- Não, mas mãe eu não tenho culpa. - Tay me olhou assustada, quase como se ela mandasse eu me calar.

- Lauren, você deve gostar de meninos, já lhe falei isso.

- Mãe, Kehlani é minha melhor amiga e eu gosto tanto dela.

- Gosta como amiga, certo?

- Mãe, às vezes sim. - Tay balançava a cabeça negativamente e fechou os olhos.

- Lauren, explique melhor.

- Às vezes quero ser como aqueles príncipes que tem nos contos de fadas e salvar ela, tirar ela daquele hospital, daqueles tratamentos para o câncer dela, e cuidar dela, ser o princepe encantado dela. - Minha mãe me olhava como se tudo que eu falasse fosse o maior absurdo do planeta terra e talvez fosse, mas eu não ligava. Eu gostava da Kehlani e ela gostava de mim, ela falava que nós duas nos casariamos e seríamos felizes. Para mim aquilo já era suficiente, quando voltei a prestar atenção em minha mãe, ela andava de um lado para o outro e fez sinal para que Taylor se levantasse. Ela analisou Taylor, eu fiquei olhando e pelo volume na roupa dela, ela estava sem as faixas de compressão que minha mãe obrigava ela a usar.

- Porque está sem as faixas? - Minha mãe falou, apontando o membro de Taylor com a vara de metal, e Taylor estava bem assustada.

- Elas me machucam, tia.

- Você deve usar para esconder essa sua aberração.

- Não sou uma aberração!

- Como você chama uma mulher com pênis? Natural? Criatura divina? Não Taylor, você é uma aberração. Criação do próprio diabo para mostrar que ele está na terra e que o pagamento do pecado é o castigo. Seus pais engravidaram de você sem estarem casados, você é fruto da furnicação antes do casamento, é o fruto do pecado, você é filha do demônio.

- Ela não é nada disso! - Falei e minha mãe me olhou com raiva. Ela se voltou novamente para Taylor e deu um tapa forte no rosto dela, que a derrubou no chão.

- Vá logo colocar aquelas ataduras que vou te levar para o nosso pastor, hoje é dia de tentar tirar esse mal todo de você. - Ela veio para perto de mim com a vara em suas mãos, eu sabia que correr seria pior, ela ergue aquele negócio de metal e senti logo ele romper minha pele com a força que ela bateu. Cada ida e vinda daquela vara, eu só escutava o barulho no vento, ela me batia cada vez mais forte e eu mordi minha blusa para não gritar, pois sempre que eu gritava era pior. Quando olhei para ela, ela me bateu no rosto, senti minha bochecha queimar e quando passei a mão, havia sangue ali. Eu já estava inteira dolorida e quando ela foi bater novamente, coloquei a mão na frente. A dor que veio a seguir era insuportável, o ferro bateu totalmente em meu punho e eu caí no chão de tanta dor. - Pense como uma mulher deve pensar.

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